A semana promete ser movimentada com a divulgação de importantes indicadores da economia brasileira e a expectativa de anúncio da prorrogação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para veículos e linha branca. Entre os resultados mais aguardados, está a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). A equipe colegiada se reúne hoje para definir o futuro da taxa básica de juros (Selic), que será conhecida amanhã. A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do segundo trimestre fecha a agenda na sexta-feira.
Consenso entre os especialistas, o novo corte da Selic deverá ser de 0,5 ponto percentual, com redução da taxa para 7,5% ao ano. Novas revisões para baixo ainda são esperadas para outubro. O mercado avalia que, concretizada a redução de 0,5 ponto percentual amanhã, o corte seguinte deve ser de 0,25 ponto percentual, encerrando o período de ajustes da taxa iniciado em agosto do ano passado, quando a taxa básica estava em 12,5%. Segundo economistas e instituições financeiras ouvidas pelo relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), a Selic deve fechar em 7,25% este ano e em 8,25% em 2013.
Para o Itaú-Unibanco, a condução da política monetária nos próximos meses ficará mais clara depois de conhecido o conteúdo do comunicado que acompanha a decisão sobre a Selic. “Considerando que a recuperação da atividade econômica apenas começou, o Banco Central vai manter as portas abertas para nova ação na reunião de 9 e 10 de outubro, na qual projetamos mais um corte de 0,5 ponto percentual”, estimou o banco em relatório para investidores estrangeiros.
Nem mesmo o avanço da inflação, que pela sétima semana seguida foi revisada para cima, segundo o Focus, é visto pelo mercado como fator de reversão do movimento de corte da Selic. O que para o professor de economia do Insper e sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen, não é prudente. “A política monetária já fez o seu papel no incentivo à retomada da economia. Por conta da defasagem, qualquer decisão agora só irá ter reflexo em 2013, ano em que se apresenta um quadro incerto quanto a inflação”, observa.
Para o ano que vem, o mercado prevê o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) em 5,50%, acima do centro da meta de 4,5%. Para 2012, a projeção já pulou para 5,19%, contra 4,85% na primeira semana de julho. “Apesar de acreditar no corte de 0,5 ponto, avalio que nem sequer esta redução deveria ser feita”, pondera o especialista , justificando os efeitos inflacionários que a decisão trará no início de 2013. O IPCA é o indicador de inflação oficial usado pelo governo.
O Produto Interno Bruto (PIB), que cai pela quarta vez consecutiva, saindo de 1,75% para 1,73%, conforme dados do Focus, é a principal preocupação e motivação para os ajustes. “A atividade econômica ainda continua bem fraca. O BC está aceitando um pouco mais de inflação para tentar impulsionar o PIB o que, na minha opinião, não irá surtir efeito”, pondera o economista e sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud. Para o especialista, o esforço monetário não irá impedir que o Brasil cresça apenas 1,5% este ano. “O problema está centralizado na nossa capacidade de produzir negócios”, pondera.
Em boletim para o mercado, o Bradesco estima PIB de 0,5% no segundo trimestre contra os três meses anteriores, percentual que também é acompanhado pelo Itaú. “Para o terceiro e quarto trimestres, esperamos um quadro mais positivo, com variação de 1,1% entre julho e setembro e de 0,9% para o período entre outubro e dezembro”, estima Juan Jensen, do Insper.
CRÉDITO EM QUEDA As concessões de crédito feitas em julho devem ter queda de 7,6% na média diária, segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). "Parece ter havido uma antecipação de consumo em junho, como efeito das medidas de estímulo, e agora houve uma moderação", explica a entidade em seu boletim semanal. A redução do IPI seria a principal motivação para as compras em junho. Não é por acaso que o recuo nas concessões deve chegar a 6,6% para pessoas físicas.
Benefício que estimulou a produção e contribuiu para reduzir os estoques – e consequentemente impulsionou a atividade industrial em julho – o IPI reduzido para veículos e linha branca termina nesta sexta-feira. Para especialistas, porém, a desoneração deve ser prorrogada. “Acreditamos em postergação por três meses, apesar de ter havido recuperação do patamar de vendas”, observa Juan Jensen.
Indústria mais confiante
O pior parece já ter passado. Pelo menos é o que mostra o Índice de Confiança da Indústria (ICI) divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que avançou 1,4% entre julho e agosto ao passar de 102,7 para 104,1 pontos. O resultado é o mais elevado desde julho de 2011, quando fechou em 105 pontos. A recuperação da confiança do empresário vem ocorrendo lentamente desde novembro de 2011, quando chegou à mínima de 100,7 pontos.
A evolução foi motivada principalmente pela percepção das empresas em relação ao momento presente. O Índice da Situação Atual (ISA) subiu 2,4%, alcançando 105,1 pontos, o maior nível em um ano. O Índice de Expectativas avançou 0,3% para 103,1 pontos. Segundo avaliação da FGV, “o resultado geral da pesquisa sinaliza que a indústria vem recuperando lentamente o ritmo de atividade no terceiro trimestre e tem expectativas ainda cautelosas para os próximos meses.”
Olhando para trás, entretanto, o cenário é desanimador. Indicador Serasa Experian de Atividade Econômica revelou crescimento de 0,7% no acumulado do primeiro semestre de 2012, o resultado mais fraco dos últimos três anos. Em 2010 a taxa havia sido de 9% e de 3,8% no mesmo período de 2011. No segundo trimestre, o crescimento foi de 0,4%, em linha com as estimativas de Miguel Daoud, sócio-diretor da Global Financial Advisor. “Ficou bem fraco, na casa dos 0,4% a 0,5%. Deverá haver uma recuperação no último semestre, mas não a ponto de fechar acima de 2%”, avalia.
INADIMPLÊNCIA A produção agropecuário, com queda de 7,3%, e a atividade industrial, com retração de 1,6%, foram os principais responsáveis pelo desempenho fraco. Somente o setor de serviços encerrou a primeira metade de 2012 no azul, com alta de 1,7% frente ao primeiro semestre de 2011. Em contrapartida, consumo das famílias, consumo do governo e exportações de bens e serviços apresentaram taxas positivas ao torno de 2,3%, cada um.
Avaliação dos economistas da Serasa Experian confere a um cenário de inadimplência em alta e conjuntura internacional turbulenta, os resultados. “O segundo trimestre de 2012 se caracterizou por um quadro de baixo dinamismo da atividade econômica, fruto do elevado nível de inadimplência das famílias, da baixa confiança dos empresários, da crise financeira de países da Zona do Euro e da desaceleração de importantes economias mundiais (como EUA e China)”, avalia relatório. (PT)