O número de famílias endividadas aumentou pelo terceiro mês consecutivo e alcançou o maior patamar em agosto, segundo a pesquisa Endividamento e inadimplência do consumidor, divulgada ontem pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Os dados mostram que, a parcela das famílias endividadas cresceu cerca de dois pontos percentuais na comparação com o mês passado, puxados pelas políticas de incentivo ao consumo com a redução dos impostos para a aquisição de bens duráveis como carros, eletromésticos e móveis e o barateamento do crédito, com a redução dos juros. A parcela de famílias que relatou ter dívidas com cheque pré-datado, cartão de crédito, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros aumentou de 57,6% em julho para 59,8% este mês.
Os números, no entanto, ainda são menores que os do ano passado. O índice de famílias endividadas, por exemplo, continua inferior ao observado no mesmo período de 2011, que foi de 62,5%. Já o número de famílias com dívidas ou contas em atraso avançou entre julho e agosto, mas recuou na comparação anual. No total, 21,3% dos entrevistados declararam estar com dívidas em atraso, o que representa um pequeno avanço se comparado ao mês passado, quando 21% das pessoas disseram estar inandimplentes. Em agosto de 2011, o índice era de 24,4%. A pesquisa aponta ainda que nesse ano 7,1% das famílias declararam não ter condições de pagar seus débitos, ante os 7,3% que fizeram a mesma declaração no mês passado. Em agosto passado, o percentual era de 8,2%.
Entre os tipos de dívidas, dispararam as feitas com o cartão de crédito (73,2%). Em segundo lugar estão as com carnês de lojas (18,9%). Os financiamentos de carros (12,4%) aparecem em terceiro lugar. Crédito pessoal (11,8%), em quarto, e o cheque especial (6,1%), em quinto. As famílias também aparecem na pesquisa endividados com cheques pré-datados (3,1%), crédito consignado (4,6%), financiamento de casa (5,6%) e com outras dívidas (1,8%).
A pesquisa aponta ainda que o tempo de comprometimento das famílias com as dívidas varia de acordo com a renda familiar mensal. Enquanto as famílias com renda até 10 salários mínimos pagam suas dívidas em média com até 6,5 meses, as famílias com renda superior a 10 salários demoram 7,4 meses em média. No total, as famílias se comprometem por 6,6 meses com suas dívidas. No que diz respeito ao comprometimento da renda, 20,4% dos entrevistas comprometem menos de 10% da sua renda, 53,7% de 11% a 50% e 17,4% mais que 50%.
Para a economista da CNC, Marianne Hanson, as políticas de estímulo ao crédito e a aquisição de bens duráveis foram as que mais tiveram impacto sobre o endividamento das famílias. “O incentivo fiscal e a redução do spread bancário favoreceram os consumidores que se animaram a comprar mais bens duráveis como linha branca e automóveis”, considera.
Cenário Marianne lembra ainda que desde agosto do ano passado há o registro de queda no número de endividados e também inandimplentes e que, portanto, o cenário não é preocupante. “Nos últimos três meses os índices cresceram por conta da retomada de consumo destes bens, mas temos que considerar que há uma queda se comparamos com o ano passado”, diz. “Além disso contamos com crescimento da renda e a taxa de desemprego baixa que atuam como fatores importantes para que as pessoas paguem suas dívidas”, acrescenta.
Para o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBS), Mauro Rochlin, a tendência para os próximos meses é de estabilidade nos índices. Isso porque, segundo ele, os bancos estão mais seletivos no momento da concessão de crédito, o que faz frear o consumo agressivo. “Embora o endividamento seja crescente não acredito em altas significativas. Os bancos privados, principalmente, estão mais restritivos no que diz respeito a concessão de crédito e, sendo assim, vejo o endividamento pender para a estabilidade”, opina. “O endividamento deve ceder por conta da rigidez na análise de crédito. Na prática, essa postura dos bancos tende a barrar financiamento de carros, por exemplo”, comenta Rochlin.
Na avaliação do professor de finanças pessoais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Alexandre Galvão, os índices crescentes, mas ainda menores que os do ano passado, são reflexos de uma economia mais aquecida em 2011. “Este crescimento era esperado em virtude de uma política de consumo mais forte”, explica.
Momento é de cautela
A melhora na percepção em relação à capacidade de pagamento das famílias brasileiras, com uma menor proporção de famílias relatando não ter condições de pagar suas contas no comparativo com o ano passado, mostra, segundo o professor de finanças pessoais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Alexandre Galvão, que o país ainda tem conseguido pagar as suas dívidas em função das baixas taxas de desemprego. Mas é preciso que o consumidor avalie com parcimônia tudo aquilo que for comprar para não contrair dívidas desnecessárias. “Não é porque está barato que o consumidor deverá comprar,”, avalia.
Depois de viver encalacrado em dívidas, o motorista Gilberto Pires de Jesus resolveu negociar com o banco credor. “Era uma dívida de R$ 14 mil, acumulada em oito anos e que na negociação se transformou em R$ 1,8 mil e resolvi pagar”, lembra. Agora, ele refaz as contas para trocar de carro. “Quero trocar meu usado por outro. Vou dar R$ 8 mil e financiar R$ 12 mil, mas quero fazer isso da melhor forma para não me afundar”, comenta.
Já a pensionista Marilena Drummond acumulou dívidas de pouco mais de R$ 6 mil com a solicitação de empréstimos. A justificativa é a pensão baixa e o custo de vida. “Ganho R$ 1 mil e pego para pagar as contas da casa. Nisso já refinancei um empréstimo de R$ 4 mil e fiz mais dois de R$ 1 mil”, afirma. Assim como ela, a autônoma Natali Almeida Vieira se perdeu em dívidas ao deixar de receber de alguns clientes. “Tinha uma pequena fábrica de bolsas. Fiquei sem receber e já contabilizo 11 cheques meus sem fundo no mercado e uma dívida de quase R$ 7 mil”. A alternativa está sendo pagar um por um até conseguir quitar as pendências financeiras. “A única coisa que quero é meu nome limpo de novo para poder continuar trabalhando”, comenta.
Os números, no entanto, ainda são menores que os do ano passado. O índice de famílias endividadas, por exemplo, continua inferior ao observado no mesmo período de 2011, que foi de 62,5%. Já o número de famílias com dívidas ou contas em atraso avançou entre julho e agosto, mas recuou na comparação anual. No total, 21,3% dos entrevistados declararam estar com dívidas em atraso, o que representa um pequeno avanço se comparado ao mês passado, quando 21% das pessoas disseram estar inandimplentes. Em agosto de 2011, o índice era de 24,4%. A pesquisa aponta ainda que nesse ano 7,1% das famílias declararam não ter condições de pagar seus débitos, ante os 7,3% que fizeram a mesma declaração no mês passado. Em agosto passado, o percentual era de 8,2%.
Entre os tipos de dívidas, dispararam as feitas com o cartão de crédito (73,2%). Em segundo lugar estão as com carnês de lojas (18,9%). Os financiamentos de carros (12,4%) aparecem em terceiro lugar. Crédito pessoal (11,8%), em quarto, e o cheque especial (6,1%), em quinto. As famílias também aparecem na pesquisa endividados com cheques pré-datados (3,1%), crédito consignado (4,6%), financiamento de casa (5,6%) e com outras dívidas (1,8%).
A pesquisa aponta ainda que o tempo de comprometimento das famílias com as dívidas varia de acordo com a renda familiar mensal. Enquanto as famílias com renda até 10 salários mínimos pagam suas dívidas em média com até 6,5 meses, as famílias com renda superior a 10 salários demoram 7,4 meses em média. No total, as famílias se comprometem por 6,6 meses com suas dívidas. No que diz respeito ao comprometimento da renda, 20,4% dos entrevistas comprometem menos de 10% da sua renda, 53,7% de 11% a 50% e 17,4% mais que 50%.
Para a economista da CNC, Marianne Hanson, as políticas de estímulo ao crédito e a aquisição de bens duráveis foram as que mais tiveram impacto sobre o endividamento das famílias. “O incentivo fiscal e a redução do spread bancário favoreceram os consumidores que se animaram a comprar mais bens duráveis como linha branca e automóveis”, considera.
Cenário Marianne lembra ainda que desde agosto do ano passado há o registro de queda no número de endividados e também inandimplentes e que, portanto, o cenário não é preocupante. “Nos últimos três meses os índices cresceram por conta da retomada de consumo destes bens, mas temos que considerar que há uma queda se comparamos com o ano passado”, diz. “Além disso contamos com crescimento da renda e a taxa de desemprego baixa que atuam como fatores importantes para que as pessoas paguem suas dívidas”, acrescenta.
Para o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBS), Mauro Rochlin, a tendência para os próximos meses é de estabilidade nos índices. Isso porque, segundo ele, os bancos estão mais seletivos no momento da concessão de crédito, o que faz frear o consumo agressivo. “Embora o endividamento seja crescente não acredito em altas significativas. Os bancos privados, principalmente, estão mais restritivos no que diz respeito a concessão de crédito e, sendo assim, vejo o endividamento pender para a estabilidade”, opina. “O endividamento deve ceder por conta da rigidez na análise de crédito. Na prática, essa postura dos bancos tende a barrar financiamento de carros, por exemplo”, comenta Rochlin.
Na avaliação do professor de finanças pessoais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Alexandre Galvão, os índices crescentes, mas ainda menores que os do ano passado, são reflexos de uma economia mais aquecida em 2011. “Este crescimento era esperado em virtude de uma política de consumo mais forte”, explica.
Momento é de cautela
A melhora na percepção em relação à capacidade de pagamento das famílias brasileiras, com uma menor proporção de famílias relatando não ter condições de pagar suas contas no comparativo com o ano passado, mostra, segundo o professor de finanças pessoais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Alexandre Galvão, que o país ainda tem conseguido pagar as suas dívidas em função das baixas taxas de desemprego. Mas é preciso que o consumidor avalie com parcimônia tudo aquilo que for comprar para não contrair dívidas desnecessárias. “Não é porque está barato que o consumidor deverá comprar,”, avalia.
Depois de viver encalacrado em dívidas, o motorista Gilberto Pires de Jesus resolveu negociar com o banco credor. “Era uma dívida de R$ 14 mil, acumulada em oito anos e que na negociação se transformou em R$ 1,8 mil e resolvi pagar”, lembra. Agora, ele refaz as contas para trocar de carro. “Quero trocar meu usado por outro. Vou dar R$ 8 mil e financiar R$ 12 mil, mas quero fazer isso da melhor forma para não me afundar”, comenta.
Já a pensionista Marilena Drummond acumulou dívidas de pouco mais de R$ 6 mil com a solicitação de empréstimos. A justificativa é a pensão baixa e o custo de vida. “Ganho R$ 1 mil e pego para pagar as contas da casa. Nisso já refinancei um empréstimo de R$ 4 mil e fiz mais dois de R$ 1 mil”, afirma. Assim como ela, a autônoma Natali Almeida Vieira se perdeu em dívidas ao deixar de receber de alguns clientes. “Tinha uma pequena fábrica de bolsas. Fiquei sem receber e já contabilizo 11 cheques meus sem fundo no mercado e uma dívida de quase R$ 7 mil”. A alternativa está sendo pagar um por um até conseguir quitar as pendências financeiras. “A única coisa que quero é meu nome limpo de novo para poder continuar trabalhando”, comenta.