O afrouxamento da política monetária, que começou há um ano e chegou ontem ao nono corte consecutivo da taxa básica de juros, está próximo do fim. A Selic alcançou nova marca recorde de 7,5% ao ano – contra 12,5% em agosto do ano passado – depois de mais uma redução de 0,5 ponto percentual anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
A decisão unânime da autoridade monetária já era amplamente esperada pelo mercado, que não mantém o consenso para a penúltima reunião da equipe colegiada em 2012, marcada para 9 e 10 de outubro. Em comunicado, ao fim do encontro, a equipe colegiada deu sinais de manutenção dos ajustes. “Se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento deverá ser conduzido com máxima parcimônia”, afirmou.
Há, no entanto, quem acredite que o fim do ciclo de reduções será motivado pelo avanço da inflação, que fechou julho em 0,43% contra 0,08% no mês anterior e acumula alta de 5,2% em 12 meses. Outros apostam que os níveis ainda baixos de atividade econômica e cenário externo conturbado continuarão exercendo pressão para novas quedas.
Para Miguel Ribeiro de Oliveira, conselheiro e coordenador da área de pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), espaço para redução existe. “Mas o governo vai esperar alguns indicadores, tanto de atividade econômica quanto de preços, para tomar a próxima decisão”, avalia. Caso a produção industrial não demonstre retomada mais consistente, abre-se espaço para Selic inferior a 7,5% ao ano. “Ainda existe um processo recessivo. E todos os incentivos que foram dados até agora ainda não mostraram resultado suficiente”, pondera o coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio Salvato.
O professor de economia da FGV/IBS Antônio Carlos Porto garante que os cortes, a partir de agora, serão mais cuidadosos. “É cada vez mais difícil cortar e chega-se a um ponto em que não se consegue reduzir mais”, pondera. Para a próxima reunião, o espectro de possibilidades é amplo. Analistas de mercado ouvidos pelo Boletim Focus apostam em Selic de 7,25% em dezembro, o que significa mais um corte de 0,25 ponto percentual. Instituições financeiras como o Itaú Unibanco são mais ousadas e acreditam em redução para 7% em 2012. Mas também há quem não veja mais espaço para alterações.
“Não deveria sequer haver este último corte, já pensando em 2013, com uma projeção de inflação alta”, avalia o professor de economia do Insper e sócio da Tendências Consultoria Juan Jensen. O professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA) Alan Ghani reconhece que os efeitos da taxa de 7,5% ao ano só serão sentidos em cerca de seis meses. “É quando serão realmente sentidos, diante da defasagem de seis a oito meses para aparecerem os efeitos”, pondera.
O Boletim Focus projeta Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) de 5,5% em 2013, bem acima do centro da meta de 4,5%. A reação de alguns índices como produção industrial e capacidade instalada também ajudam a reduzir as pressões para novos cortes. “Acho que política monetária mais expansionista já cumpriu seu papel, mas o ciclo acabou ou acabará, no máximo, em outubro”, observa Ghani.
Atrelada à Selic (quando esta for inferior a 8,5% ao ano), a poupança passará a ter rentabilidade reduzida a partir de hoje. Equivalente a 70% da taxa básica de juros, a remuneração de 5,60% ao ano mais Taxa Referencial (TR), o equivalente a 0,46% ao mês, passará para 5,25% ao ano mais TR ou 0,43% ao mês. Antes da mudança das regras, a poupança rendia 6,17% ao ano, mais TR.
Repercussão Para a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o corte da Selic é “importante para a concretização de uma nova economia”. “O Brasil está entrando em momento econômico jamais vivido, de taxas de juros próximas das internacionais, inflação controlada e baixa taxa de desemprego”, afirmou, em nota, o presidente da Fiemg, Olavo Machado Jr.