O choque provocado pela alta das commodities no mercado internacional já foi absorvido pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) e a tendência para os próximos meses é de que haja um alívio dos preços dos grãos no indicador. A avaliação é do coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. "Não sei se o IGP-M atingiu seu ápice, mas o efeito agrícola já, e, de agora em diante, a tendência é de que a pressão das commodities se dissipe", disse ele durante entrevista coletiva em São Paulo.
A soja em grãos já mostra desaceleração em agosto, ao passar de uma alta de 14,89% em julho para 10,72% neste mês. A commodity representa 6,1% do total do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), bem acima do peso representado pelo milho e pelo trigo no indicador, de 2,4% e 0,2%, respectivamente. Os dois últimos seguem em processo de aceleração de preços.
O maior responsável pela alta nas matérias-primas brutas foi o milho, que subiu 20,33% em agosto ante 6,74% em julho. Essa aceleração, de acordo com Quadros, teve consequências para toda a cadeia de alimentos, porque é insumo das rações animais. O preço da ração animal subiu 4,77% em agosto ante alta de 0,33% registrada em julho. "E eu acho que esse processo de alta nas rações ainda não acabou", afirmou Quadros. No acumulado do ano até agosto, o aumento chega a 12,09%.
Como consequência, a alta nas rações impactou os preços de suínos e aves. Para o produtor, o custo das aves vivas subiu de 0,84% em julho para 11,18% em agosto. E os preços dos suínos vivos, que apresentavam uma queda de 2,98% em julho pulou para uma alta de 26,69%. Para as aves abatidas no repasse do frigorífico para o varejista, a variação passou de +2,97% em julho para +5,27% em agosto. Nesse mesmo estágio, a carne suína variou 7,54% em agosto ante recuo de 1,52% registrado em julho.
No varejo, o preço das carnes de frango e de porco já refletem a alta nas commodities. O frango inteiro, que apresentou variação negativa de 3,26% em julho, subiu 1,56% em agosto. O frango em pedaços variou de -0,36% para +0,44%, na mesma base de comparação. "Esse é o sinal mais visível de transmissão do choque das commodities no varejo", disse o economista. Já a carne suína no varejo apresentou desaceleração de preços em agosto, de 1,15% em julho passou para 0,77% neste mês. No entanto, Salomão Quadros espera aceleração do preço da carne de porco nos próximos meses. "A carne suína primeiro desacelerou, mas ela deve refletir o choque das commodities nos próximos meses", disse.
O trigo é outra commodity que apresenta alta. No ano, já subiu 17,95% até agosto, com alta de 7,98% em agosto ante 1,91% em julho. O trigo porém tem um efeito muito menor no IPA do que a soja e o milho. "A produção de trigo no Brasil é muito pequena", disse o economista.
O que evitou uma alta maior do IPA em agosto foi o minério de ferro, cuja taxa de variação negativa em 3,35% ante alta de 1 49% em julho. "Como o minério de ferro tem um peso muito grande no IPA, de 5%, ele ajudou a segurar o índice", afirmou.