A produção de carne de frango, que em 2011 cresceu 4,5%, deve fechar este ano com redução de 4%, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “A redução da oferta mundial de milho e farelo de soja são as principais causas para a queda da produção de carne, haja vista os elevados custos de produção, sobretudo aqueles relacionados à ração”, destacou relatório divulgado pela companhia.
O Brasil, que é um dos maiores produtores e consumidores de carne do mundo, tem um cenário de queda projetado para este ano em todos os tipos de produção desse mercado.
“A complicação para carnes está relacionada ao suprimento de ração, principalmente em função do milho. Já houve anúncio de aumento de 10% do valor de derivados de frango [cortes] e os produtores já anunciaram redução para alojamento [de aves]. Isso vai significar redução de oferta e impactar no preço”, afirmou Wander Sousa, analista de mercado da Conab.
Os suinocultores devem ser ainda mais afetados pelo desequilíbrio entre o preço de mercado e o custo de produção. A carne suína, que em 2011 teve um incremento de produção de 5%, deverá sofrer, segundo a Conab, uma inversão da curva com redução de cerca de 5% em 2012.
A seca afetou a produção em todas as regiões do país. Os produtores de feijão do Nordeste já perderam 69% da produção entre outubro do ano passado e abril deste ano. A produção total da região contabilizada até o momento pela Conab foi de apenas 295 mil toneladas, enquanto, no ano passado, o volume alcançou os 961 mil toneladas.
No caso do milho, a perda dos produtores nordestinos chegou a 30%, o equivalente a quase 2 milhões de toneladas a menos na contabilidade dos agricultores.
José Negreiros, técnico de avaliação de safra da Conab, ainda destaca os prejuízos causados pela seca aos produtores de arroz do Sul do país. “O arroz, principal cultura da região, teve uma quebra de 14,7% na safra 2011/2012”, destacou. Negreiros lembra que a participação do centro-sul do país na produção nacional chega a quase 90%. Na safra 2010/2011, a produção nacional de arroz atingiu o patamar de 13,6 milhões de toneladas no Brasil, quando o centro-sul respondeu por 11,3 milhões de toneladas. Este ano, a produção da região caiu para 9,8 milhões de toneladas.
O fenômeno da seca deste ano não respeitou barreiras. Os produtores dos Estados Unidos estimam perdas entre 20% e 30% nos cultivos de grãos. A estiagem atingiu grande parte do território norte-americano, agravando a redução de oferta e elevando as cotações internacionais.
No Brasil, o clima intensificou diferenças regionais. Ao contrário dos desastres registrados no Sul e Nordeste, o Centro-Oeste manteve níveis relativamente altos de segurança da produtividade, com poucos registros de quebra de produção. A produção de milho em Mato Grosso dobrou em volume. Enquanto, em 2011 a produção alcançou 7 milhões de toneladas, este ano, os produtores produziram 15 milhões de toneladas.
“Quanto à soja, tivemos ano agrícola muito bom no Mato Grosso, com produção um pouco menor do que em 2011, mas com maior produtividade”, disse Nelson Picolli, diretor financeiro da Associação de Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja)
A crítica, diante da disparidade, recai sobre estratégias públicas. “Temos no Centro-Oeste superprodução e no Sul e Nordeste com problemas sérios climáticos, onde [os produtores] não produziram bem sequer para sustentar o setor de frango e suínos e tiveram que sacrificar animais”, afirmou Picolli, destacando o impacto dos prejuízos no mercado de carne. Recentemente, denúncias apontaram o descarte de mais de 100 mil aves em fase de engorda, por falta de ração animal, que é produzida, principalmente, a partir do milho.