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Estado de Minas

Prorrogação do IPI reduzido não garante carro novo

Redução do imposto para veículos foi prorrogada por 60 dias, mas para modelos populares concessionárias pedem até 90 dias para receber o carro. Vendas no mês registram recorde


postado em 31/08/2012 06:00 / atualizado em 31/08/2012 07:44

O cabeleireiro Leonardo Gori trocou de carro com o incentivo, mas não consegue vender o usado(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O cabeleireiro Leonardo Gori trocou de carro com o incentivo, mas não consegue vender o usado (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Quem deixou o sonho do carro zero para a última hora ganhou mais tempo para a compra, mas deve ficar atento aos prazos estabelecidos pelas concessionárias para a entrega e o faturamento do modelo escolhido. A prorrogação do benefício até o dia 31 de outubro não garante o desconto para todos os modelos. Isso porque, em se tratando de carros populares, em algumas concessionárias de Belo Horizonte o tempo de espera chega a 90 dias – prazo superior ao da prorrogação definida pelo governo. O corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foi prorrogado por prazos diferentes para carros e linha branca (geladeira, fogão, máquina de lavar). Nas lojas de eletrodomésticos, as compras de linha branca podem ser feitas até o dia 31 de dezembro.

Dependendo da escolha do comprador, em algumas concessionárias o desconto pode não se concretizar. Nas revendedoras Fiat, por exemplo, um Novo Palio básico, versão 1.0, pode demorar até 90 dias para ser entregue. Na Misaki Nissan o mesmo prazo se repete para o modelo mais popular da marca, o Nissan March básico, versão 1.0, que desde antes da prorrogação do IPI já estava esgotado nas lojas e com o período de entrega maior. Os prazos também são longos para o Ford Ka (60 dias), Grand Siena (até 90 dias), Novo Gol (60 dias) e outros populares.

Sobre a falta de carros nas revendas, o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv/MG), Mauro Pinto de Morais Filho, afirma que falar de desabastecimento ainda é prematuro e o que existe são demandas pontuais. “Os mais completos não são o problema e sim os mais básicos, que saem em maior quantidade. Por terem impacto maior em função dos descontos de R$ 2,5 a R$ 3 mil são os que interessam os consumidores”, comenta.

A justificativa é a demanda em alta. Faltando dois dias no calendário das concessionárias para fechar o mês, as vendas de automóveis e comerciais até quarta-feira já atingiram o maior nível da história do setor automotivo brasileiro desde 1957, com 358.641 veículos licenciados, segundo dados do setor. “A indústria está sinalizando aumento de produção, mas a procura está muito grande e não sabemos até onde vamos conseguir supri-la”, pondera o gerente de vendas de veículos novos da Inova Veículos, Bruno Fiuza. Segundo o gerente de vendas de veículos novos da Carbel, Paulo César Gouveia, a crescente busca por carros zero reflete na cadeia produtiva, que não consegue atender as montadoras. “Os fornecedores indiretos estão precisando produzir muito mais que o normal e a reposição de peças para a montagem fica difícil, o que aumenta os prazos para o cliente final”, explica.

Para não ser surpreendido pela falta de opções, a dica é adiantar a compra. “Acredito que vamos chegar a um ponto em que teremos o benefício, mas não os veículos”, alerta o gerente da Inova. “Antes trabalhávamos com estoque de 360 veículos e hoje temos 70 no estoque. Muitos carros que estão chegando agora foram pedidos 35 dias atrás”, complementa o gerente da Carbel.

Outros modelos

A supervisora de loja Alessandra Lemos também não consegue vender o carro usado(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
A supervisora de loja Alessandra Lemos também não consegue vender o carro usado (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Uma das saídas para quem quer comprar o seu carro zero sem abrir mão do desconto é ampliar o leque de opções. Focar em carros menos populares, mas com preços igualmente acessíveis é uma das alternativas, segundo o gerente da Misaki Nissan Raja, Wellington Campos. “As pessoas estão presas nos populares que estão mais baratos, mas existem outros veículos tão bons quanto e com preços vantajosos justamente pelo corte do IPI”, considera.

Independentemente das dificuldades encontradas na efetivação da compra, os atrativos não passam despercebidos. Na capital, os clientes são atraídos nas concessionárias por propagandas, facilidades no financiamento e, em alguns casos, até a oferta de taxa 0%. “Estamos saindo de uma semana em que chegamos a pedir 50% do valor do carro como entrada e financiar os 50% restantes sem juros. A promessa é de que promoções como essa continuem para estimular a oferta”, afirma o diretor comercial da Kia Brisa.

Revenda de seminovos no prejuízo

Enquanto a farra dos veículos novos continua nas concessionárias da capital, as agências de veículos seminovos amargam prejuízos, com queda de até 60% nas vendas. De acordo com o gerente da Minas Veículos, Ivan Oliveira dos Santos, o “encalhe”nas vendas em 30% resultaram na demissão de três funcionários. Prova do mau desempenho é que a loja onde Ivan trabalha chega a oferecer desconto de 30% no valor do veículo, previsto pela tabela Fipe, no momento da venda. “Está difícil comprar e vender porque os preços não são atrativos se comparados aos de veículos zero”, afirma.

Paulo Fernando de Oliveira Alves, proprietário da agência Autobox, no Lourdes, aponta o corte do IPI como responsável para a má fase. “Reduzi em 60% as vendas. Estamos trabalhando com o custo mínimo. O IPI vai piorar o cenário por mais 60 dias e está acabando com o mercado. Não existe mais demanda”, garante.

 O gerente de novos e seminovos da Bordeaux Peugeot, Fábio José Costa Chavantes, garante que as concessionárias também sofrem com as perdas nos seminovos. “Com as vendas aceleradas temos um estoque maior de usados, mas um giro de estoque mais lento”, lembra.

O cabeleireiro Leonardo Gori, que comprou um Gol zero e tenta há dois meses vender seu Palio de quatro portas, ano 2004, não teve sucesso. Ele cotou o preço do veículo nas concessionárias e lojas de usados, mas optou por fazer o negócio sozinho. “O preço máximo que quiseram me pagar foi R$ 12 mil, mas o valor real do veículo é R$ 18 mil”, lamenta. “Por enquanto, as pessoas só ligam para especular. Elas fazem a conta e chegam à conclusão que com mais R$ 6 mil conseguem comprar um carro zero”, diz.

 A supervisora de lojas de turismo Alessandra Lemos aproveitou a redução do IPI para trocar de carro. Ela comprou uma Ranger, da Ford, por R$ 52 mil. “Acho que valeu a pena, pois antes sairia por mais de R$ 60 mil”, diz. Com o carro novo em mãos, ela tem outro desafio: se desfazer da sua Saveiro 2009/2010. Apesar de o carro ter sido de um único dono e ter 59 mil quilômetros rodados, o preço oferecido pelas concessionárias é bem abaixo do mercado. “Eles me ofereceram R$ 25 mil, mas o valor de tabela é R$ 33 mil. Eu estou pedindo pelo menos R$ 31,5 mil pelo veículo”, diz. (Com CM)

 

 


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