O período mais aguardado do ano para a indústria de brinquedos finalmente chegou. E não é por menos que o setor comemora, com entusiasmo, a chegada do segundo semestre. Cerca de 65% de todo o faturamento anual se resume ao período que concentra o Dia das Crianças e o Natal, as duas melhores datas para as fábricas e o varejo. É também sobre esse período que recaem as principais expectativas da indústria para reverter as perdas do primeiro semestre. Com Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,6% no acumulado dos seis primeiros meses, a economia precisa dar uma guinada na segunda metade do ano se quiser crescer no intervalo entre 1,5% e 2% em 2012.
As fábricas de brinquedos prometem garantir parte da contribuição para a retomada da atividade industrial. Praticamente ileso aos efeitos da desaceleração econômica, o setor calcula crescimento de 14% este ano, na comparação com 2011, puxado pelos cerca de 1,8 mil lançamentos preparados para abastecer as lojas. Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), as vendas para 12 de outubro respondem por 35% de todo o volume negociado no ano, enquanto o Natal abocanha 30% dessa fatia.
Entre os mecanismos de expansão das vendas, está a retomada de 10% do mercado de importados, auxiliada pela prorrogação, até 31 de dezembro deste ano, da sobretaxa na importação de brinquedos. Itens como bonecas, triciclos e quebra-cabeças tiveram alíquota elevada de 20% para 35%, medida que está em vigor desde dezembro de 2010 com a intenção primordial de blindar o país da entrada dos chineses.
Para Mário Honorato, diretor de marketing da Ri-Happy, apesar de válida, a medida tem alcance limitado. “Este é um mercado que depende muito das importações. As grandes empresas do mercado nacional importam principalmente por conta do custo interno de produção elevado”, pondera. Para ter a efetividade esperada, seria necessária adaptação das principais produtoras. “O parque industrial de brinquedos carece de mudanças que demandam tempo”, avalia. A medida protecionista porém, já foi suficiente para que a indústria brasileira retomasse 9,1% de participação do mercado entre 2011 e 2012, sendo responsável por 60% do mercado. A dúvida agora recai sobre a possibilidade de avançar a casa dos 70% de contribuição para o abastecimento interno da demanda.
Ainda que os importados preocupem, a Estrela calcula crescimento na casa dos 15% nos seis primeiros meses ante mesmo período de 2011. A intenção é repetir o feito na segunda metade do ano. “O desempenho dos pedidos colocados pelo varejo, mostra que estamos caminhando nesse sentido. O ano começa agora para nós, já que 75% das vendas se concentram neste semestre”, avalia o presidente da marca, Carlos Tilkian. Até meados de setembro, todas as encomendas para o Dia das Crianças já devem ter sido encerradas.
A expansão esperada pela fabricante vai de encontro à expansão dos negócios prevista pela loja Brinkel, há 21 anos no mercado de Belo Horizonte. "Vamos elevar os estoques em cerca de 15% em relação ao ano passado, justamente prevendo ampliação das vendas nesse patamar", planeja o proprietário da Brinkel, Altair Rezende.
Para o empresário, a entrada de fortes concorrentes internacionais no mercado brasileiro tem motivado investimentos em inovação e lançamento de novos produtos, o que é fundamental para o bom desempenho desse negócio. "A Hasbro e a Mattel entraram com grandes aportes em novidades e mídia, o que obriga a indústria brasileira a fazer o mesmo" , afirma.
Apesar de não revelar números, a Mattel garante que tem planos de, em menos de dois anos, se tornar a maior produtora de brinquedos do país. Para isso, a estratégia este ano é de expandir a produção local por meio de parcerias. "Recentemente foi firmada uma parceria inédita com a Grow para produção de quebra-cabeças em solo nacional e, por meio de acordo com a Copag, aumentamos a produção de jogos de cartas na Zona Franca de Manaus", afirma o diretor de operações da Mattel do Brasil, Ricardo Roschel. A Estrela não quer ficar para trás e, para isso, destina anualmente orçamento de cerca de R$ 18 milhões divididos entre desenvolvimento de produto e ações promocionais.
Contratações
Para atingir o crescimento de 10% no volume de vendas durante o Dia das Crianças e 12% no Natal, a Ri-Happy planeja fazer a maior contratação de empregados temporários da história. "Provavelmente serão selecionadas 2,5 mil pessoas para o Natal", calcula Mário Honorato, diretor de marketing da Ri-Happy.
Com previsão de iniciar a seleção de pessoal na segunda quinzena de setembro, a Brinkel planeja ampliar em quase 70% o quadro de funcionários. "Vamos efetivar 20 pessoas entre vendedores, estoquistas, caixa e embrulho. Hoje são 30", afirma Altair.
Na B-Mart, o acréscimo na equipe deverá ser de 30%. "Cada loja tem, hoje, uma média de 30 pessoas. Aqueles que forem chamados para o Dia das Crianças, ficarão também para o Natal", planeja o diretor comercial da B-Mart, Edson Salles. O período mais forte de vendas se concentra na semana que antecede o Dia das Crianças.
Nessa época do ano a vendedora Sílvia Freitas pretende iniciar a saga de compras. "São 10 presentes para a filha, sobrinhos e afilhados. Cada um com custo médio de R$ 80", calcula. A filha Laura, de 8 anos, já escolheu a boneca da personagem Maria Joaquina da novela infantil Carrossel. A administradora Giovana Pongelupe também já sabe o que tem que comprar. “Uma fantasia de princesa. Já encontrei por cerca R$ 120”, conta.
Aposta na tradição
Sucesso nos anos 80, a Estrela anunciou no início de agosto o relançamento do brinquedo Genius. O jogo teve quase meio milhão de unidades vendidas e se tornou um símbolo da época A marca trará o brinquedo de volta com a mesma cara que tinha na época do primeiro lançamento. Além do Genius, a Estrela, que comemora 75 anos, também trará de volta ao mercado o Boca Rica. Os produtos serão vendidos a partir deste mês e custarão R$ 129,90 (Genius) e R$ 69,90 (Boca Rica). O Genius possui forma de disco voador, acende luzes – cada uma com som característico – em sequências que o jogador precisa repetir, apertando os botões luminosos, numa espécie de jogo da memória eletrônico, colorido e barulhento. Já o Boca Rica tem aparência de robô. A meta é encher a "barriga" da máquina antes que ela ponha para fora as moedas.
Aposta alta no fim do ano
O mercado de brinquedos é apenas um dos vários que apostam no fim de ano como a tábua de salvação para um primeiro semestre que não aconteceu. Pelo menos para o setor de vestuário, que figura entre os preferidos nas compras de presentes de Natal. "Desde o mês passado as encomendas do setor de uniformes profissionais, que responde por 30% do faturamento do setor, tem apresentado reação e voltado a colocar pedidos para a indústria", afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Minas Gerais (Sindvest), Michel Aburachid.
Nos seis primeiros meses do ano, a retração de compras desse segmento havia somado 20%, principal motivação para o desempenho negativo de 2% de todo o setor de vestuário. "Grandes fábricas, principalmente dos setores de mineração e siderurgia voltaram a realizar pedidos que, até então, estavam parados", afirma Aburachid. O fato do governo ter incluído o setor entre os beneficiados com a desoneração da folha de pagamento, medida que também começa a surtir o efeito desejado. "Além disso, o governo ainda é obrigado a dar preferência de compra a produtos nacionais, mesmo que sejam até 20% mais caros que os importados", acrescenta Aburachid.
Outro setor que figura entre as vedetes do Natal e nada de braçada nos benefícios concedidos pelo governo é o de eletros, que teve o Imposto de Produtos Importados (IPI) reduzido. Segundo cálculos do presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, o mercado de refrigeradores cresceu 12% no primeiro semestre e o de fogões, 28%. As encomendas para o período do Natal já começam em algumas indústrias e devem seguir até outubro. "Caso o IPI não fosse prorrogado, haveria queda nas vendas", pondera Kiçula.
Atrasos
O presidente do conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves, acredita que, assim como no ano passado, as encomendas devem sofrer algum atraso este ano. "Em 2011, a motivação foram os juros, em alta. Este ano, a questão conjuntural externa tem contribuído para a maior cautela dos empresários. Estão esperando, portanto, que o cenário se mostre positivo para que as encomendas sejam realizadas", avalia.
A cautela ainda é acompanhada por uma redução no custo das mercadorias diante do comportamento de compras do consumidor. "Será um ano de compra de produtos com valor agregado menor", pondera Vitor Gomes Gontijo, diretor presidente da Katuxa Calçados e diretor comercial da Associação Brasileira de Lojistas de Calçados (Ablac). Segundo cálculos do empresário, o ticket médio caiu cerca de 4% a 6% no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2011. (PT)
A REVANCHE DOS BRINQUEDOS