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Estado de Minas RENDA É O MAIOR LASTRO DO PIB

Alta do poder aquisitivo da população sustenta a expansão da economia e compensa crédito


postado em 02/09/2012 07:32

Brasília – O minguado crescimento da economia brasileira — há oito trimestres consecutivos, o Produto Interno Bruto (PIB) cresce abaixo de 1% — poderia ter sido ainda pior, não fosse a resistência da renda dos trabalhadores, que mantém o varejo distante da crise que atormenta a presidente Dilma Rousseff. Em média, nos últimos cinco anos, o rendimento das famílias aumentou 5% acima da inflação e, pelas contas da Tendências Consultoria, deve continuar avançando 4% anualmente entre 2013 e 2018.

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a força da renda está compensando a relutância dos bancos em ampliar a oferta de crédito. No seu entender, são as duas pontas agindo na mesma direção que garantiram o incremento do consumo das famílias por 35 trimestres consecutivos, conforme constatou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, a necessidade de as instituições financeiras voltarem a liberar empréstimos e financiamentos. “Os bancos precisam deixar um pouco do conservadorismo de lado”, diz.

O apelo de Mantega é compreensível. Como muitos lares estão com boa parte do orçamento comprometido com dívidas, com o crédito restrito aos que têm capacidade de empréstimos ou de comprar a prazo é possível que somente a renda não seja suficiente para manter o bom ritmo do varejo, pelo menos a curto prazo. “Vamos trabalhar para que os bancos ousem mais. Não queremos ver repetidos os exageros de 2010, quando as instituições liberaram crédito sem qualquer critério, aumentando a inadimplência. O que queremos é um meio termo”, complementa um assessor do Palácio do Planalto. Para ele, com a vendas aquecidas, a indústria terá condições de desovar os estoque e retomar a produção e os investimentos em fábricas.

O desânimo no setor produtivo é grande, mas quando se olha para o comércio, há o que comemorar. Tanto que, mesmo com os economistas prevendo crescimento para o PIB deste ano entre 1,2% e 1,5%, as perspectivas são de alta de até 6% no faturamento do varejo. E mais: levantamento do IBGE mostram que o comércio cresce mais justamente nas regiões nas quais o crédito é menos presente e a população conta mesmo é com o salário do mês para poder consumir, como no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste do país.

Para o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), não fosse o aperto no crédito decretado pelos bancos, o aumento na massa salarial — puxado pelos que ascenderam à classe média — teria garantido um resultado ainda melhor ao comércio que, no ano passado, não repetiu os cerca de 10% de incremento verificado em 2010, mas alcançou alta de 6,7%.

O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, já declarou que a redução da oferta de crédito é um limitador ao crescimento do poder de compra do consumidor, que está sendo sustentado pelo nível de emprego e renda. “A massa salarial cresceu significativamente, baseada no crescimento real dos salários. Mas dois terços dessa expansão vêm do aumento do número de pessoas trabalhando. Apesar do ritmo de geração de novos empregos ter caído este ano, foram criados 1,8 milhão de postos até agora”, destaca o presidente do IDV, Fernando de Castro.

Apesar da renda estar segurando o consumo, o economista Paulo Neves, da LCA Consultores, acredita que o crédito vai ser impulsionado no segundo semestre. “No início do ano, os segmentos ligados à renda estavam crescendo bem mais do que os que dependem de crédito. Agora, no entanto, já há sinais de retomada das vendas de veículos e de eletrodomésticos da linha branca, por conta na redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)”, aponta. Neves destaca que os últimos dados do Banco Central, de junho, mostraram uma expansão de meio ponto percentual no volume total de crédito concedido pelas instituições privadas, o que sinaliza uma melhora na disposição dos bancos para os financiamentos.

“O aumento da inadimplência nas vendas de veículos acabou causando uma reação das financiadoras de restrição ao crédito ao consumidor como um todo, para reduzir a sua exposição ao risco. Varejistas têm reclamado do excesso de conservadorismo nos financiamentos”, relata Fernando de Castro. Segundo ele, a saída encontrada por várias redes populares de eletroeletrônicos, de médio porte da área da construção bem como por supermercados, foi aumentar por contra própria a concessão de crédito. “Estamos vendo a volta do carnê de pagamento, que já estava em desuso”, conta.

Sem a ajuda dos bancos


Em alguns setores, como o da construção, a contração do crédito foi sentida mais fortemente. “O índice de aprovação de financiamentos pela instituição financeira caiu de 45% para 11%. Agora, de cada 10 consumidores que tentam obter crédito para comprar na nossa rede, apenas um consegue”, lamenta o diretor-geral da Leroy Merlin, Alain Ryckeboer. E agora a empresa está em busca de uma nova instituição financeira, pois o Itaú Unibanco já informou à Leroy que irá dar fim à parceria.

Por meio da assessoria de imprensa, a instituição informou que a descontinuidade da parceria foi consequência da busca de maior rentabilidade aos acionistas e do objetivo de focar em negócios de maior escala e retorno. “Especificamente na área de crédito ao consumidor, o atual cenário fez com que o banco encerrasse algumas dessas parcerias”, explicou o Itaú Unibanco, que já havia anunciado anteriormente o fim de parcerias importantes, como a que mantinha com as Lojas Americanas.

Segundo o diretor-geral da Leroy Merlin, o impacto na concessão do crédito só não foi maior por conta da atuação dos bancos públicos. “Nossos consumidores têm conseguido financiamentos pela Caixa e pelo Banco do Brasil”, afirma. As vendas, contudo, continuam crescendo. “Tivemos um incremento de 20% no primeiro semestre. Foi bom, mas nos anos anteriores chegava a 30%”, compara Ryckeboer. Não é à toa que o crescimento do volume de vendas no comércio varejista no país, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou em 7% no ano até junho, mas teria sido bem maior (de 9,1%) se não fossem levados em conta os desempenhos dos setores de veículos e construção.

O presidente do IDV ressalta que o comércio no primeiro semestre foi impulsionado pela estratégia bem-sucedida do varejo de abertura de pontos de vendas. “Houve crescimento maior das redes que abriram lojas em regiões periféricas das cidades, visando atender à nova classe média brasileira”, diagnostica. Com as restrições ao crédito e também para fugir das dívidas, parte desse público tem preferido pagar à vista, dinheiro que vem movimentando a economia.

A diretora da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Diana Grosner, considera ser preciso que o governo invista em políticas voltadas para educação financeira e em qualificação profissional, para que os 57% dos brasileiros incluídos nos últimos anos na classe média avancem financeiramente. Ela cita como motivo de preocupação o fato de a rotatividade nos postos de trabalho no país chegar a 40%.


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