Os gastos da classe C com educação somaram R$ 84 bilhões em 2011, segundo pesquisas do Instituto Data Popular, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa mostra que o número de estudantes na universidade cresceu 77% em 10 anos, atingindo 6,2 milhões – 63% desses alunos são da classe C. Mais de 3 milhões estão nas faculdades privadas.
“O jovem da classe C tem maior escolaridade que seus pais e quer estudar”, afirma Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. Segundo ele, a classe que tem renda familiar mensal média próxima a R$ 4 mil vai turbinar as escolas particulares nos próximos anos porque acredita na educação como passaporte para um futuro melhor. “E estão certos. Cada ano de estudo para a classe C significa 15% a mais na renda.”
Alessandro Marques lembra que há duas décadas o número de matrículas por família era, em média, três. “Hoje é de apenas um filho. A queda da natalidade tem um grande impacto e por um tempo as matrículas chegaram a parar de crescer. A classe média significou uma recuperação para o desempenho do setor.” Segundo ele, os indicadores de inadimplência nas classes C e D não são diferentes do que ocorre entre a classe A e B, mantendo a média anual do setor, que é perto de 5% no país.
Desde a década de 60 a taxa de natalidade brasileira caiu perto de 60%. Entre os emergentes, o Brasil é superado pela China, com queda mais intensa impulsionada pela política governamental do filho único. Projeções do IBGE apontam para uma taxa de natalidade próxima a 1,61 filho em 2050, o que deve voltar o foco para a classe que mais cresce no país e já soma mais de 50% da população.
Segundo Marques, em 2013 o Grupo Pitágoras deve abrir 100 escolas no país que vão ser somadas a uma rede com mais de 6 mil unidades. A expectativa é de que o número de alunos seja ampliado em 7%, empurrados pelas matrículas da classe média.
A cuidadora de idosos Zilneide Ferreria e Adenilson Moura, auxiliar de produção em BH, começaram a investir cedo na educação do filho. Aos 5 anos o menino frequenta uma escola particular que custa R$ 100 por mês. “Acho caro, mas considero importante investir em educação”, garante Zilneide.
Especialista em educação, Mônica Ferreira, diretora-geral da Kroton Educação Básica, que reúne 642 escolas no país, diz que a classe C é responsável também por um outro fenômeno: o crescimento da oferta e da qualidade em regiões de menor renda, nas quais até uma década atrás não era tão fácil encontrar opções da rede particular. se C salva a escola particular
Faculdade segue as mudanças
A ascensão da classe C transformou os números da educação superior no Brasil. Há uma década, ao concluir o ensino médio cerca de 5% dos estudantes seguiam para a universidade, percentual que hoje chega a 40%. Entre os estudantes da classe média, 70% conciliam estudos e trabalho. Mais da metade, 56%, está com um olho no gato e outro no peixe: eles estudam mas querem usar o conhecimento para abrir o próprio negócio.
Renato Meirelles, do Data Popular, diz que na universisdade a classe C opta pelos cursos de tecnológos, com duração de dois anos, e também por cursos de gestão e direto, mas ainda estão longe de tentar vestibular para escolas tradicionais entre os jovens das classes A e B que vieram da escola particular, como medicina e engenharias, que exigem carga horária integral e maior dedicação. Para Meirelles, o desafio do setor é conseguir ofertar produtos que atendam a esse novo consumidor. “São necessários horários mais flexíveis e didática que ofereça o conhecimento aplicado, voltado para o mercado de trabalho.”
Para o estudante da classe C, o financiamento dos estudos e a maternidade precoce, que torna mais difícil conciliar trabalho e filhos com os estudos, são as maiores barreiras. (MC)