Aos 26 anos, Elen Teixeira já está no batente há exatos oito anos, mas ainda sonha com a carteira assinada. Assalariada do mercado informal, Elen trabalha no comércio de Belo Horizonte, com renda mensal entre R$ 600 e R$ 800, mas nunca contribuiu com a Previdência Social. Trabalhadores como a vendedora estão perdendo escala na economia. Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/Fundação João Pinheiro) mostra que o contingente desses trabalhadores na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) caiu para o menor percentual dos últimos 15 anos. Desde o início da série histórica da pesquisa, na década de 90, que o patamar dos contratados sem carteira não atingia percentual tão baixo. Na última década eles encolheram 28%, ao passo que o emprego formal cresceu perto de 80%.
Um recorte na Pesquisa de Emprego e Desemprego mostra que os assalariados informais da iniciativa privada, seja contratados pelo comércio, indústria ou do setor de serviços, além de reduzidos em número, mudaram de perfil. Na última década, assim como ocorreu com o segmento formal, os sem carteira deixaram de ser aqueles de menor escolaridade, como ocorria há 10 anos, para crescer entre a parcela com ensino médio completo. O efeito do aquecimento do mercado de trabalho chegou também para os empregadores dos informais. Como encontrar mão de obra ficou difícil, os informais são disputados e o tempo de permanência na mesma ocupação, cresceu 80% em 10 anos.
Os informais somam 130 mil na RMBH, mas já foram quase 170 mil nos início dos anos 2000. O professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Mário Rodarte aponta que a mão de obra brasileira experimentou crescimento na escolarização, o que explica a mudança de perfil nas ocupações também entre os informais. O segmento mais jovem assumiu a posição de maior contingente entre os sem carteira. “Eles geralmente encontram maiores dificuldades em conseguir um trabalho com garantias e têm nível de escolaridade superior ao de seus pais, daí a informalidade crescer no ensino médio.”
Entre aqueles que trabalham sem carteira assinada caiu o chamado “turn over”, ou substituição de funcionários por outros mais qualificados. Assim os informais estão garantindo a vaga por mais tempo do que acontecia há uma década. O tempo de permanência na atividade, que era de 21 meses em 2000, passou para 38 meses, em 2011. Segundo Rodarte, os dados da pesquisa sugerem que até mesmo entre os informais a qualidade do trabalho melhorou devido à dificuldade das empresas em recontratar. “As empresas já não acreditam que uma nova turma fará melhor trabalho que a anterior.” Apesar de enfatizar que a busca deve ser pela formalidade, o especialista vê com bons olhos a manutenção mais longa do emprego. “Não vejo o indicador como um mau sinal porque sugere uma certa segurança quanto à manutenção dos postos de trabalho.”
Com os bons ventos do mercado de trabalho, que tem taxas próximos ao pleno emprego (5% na RMBH), ignorando o esfriamento da economia, Elen Teixeira diz que em breve pretende modificar sua posição investindo nos estudos. Ela quer ser enfermeira e contar com os direitos garantidos do mercado formal. Henrique Silva compartilha do projeto. Aos 23 anos ele trabalha desde os 18 anos. Já foi fichado, recolheu impostos, mas agora trabalha sem garantias. Na sua família a mãe ganha a vida por conta própria como manicure e o pai trabalha formalizado como gerente de uma drogaria. “Estou em período de experiência”, justifica. Com ensino médio completo, Henrique também tem planos. “Não vou ficar na informalidade por muito tempo. Quero ser farmacêutico”, garante.
Previdência
Os assalariados que trabalham à margem da legislação estão mais preocupados com o futuro, contribuem em maior escala com a Previdência Social. Em 2000 apenas 4,8% dos assalariados sem carteira, segundo o Dieese/FJP, contribuíam com a seguridade social. No fim do ano passado eles já somavam 14,2%. Mário Rodarte explica que no mesmo período a renda desse contingente cresceu 57%, ao contrário do que foi visto entre 1996 e 2000, quando a redução da renda provocou queda nas contribuições à Previdência. “Mesmo a renda ainda sendo pequena, houve um aumento expressivo e sintomático que permitiu um recolhimento da tributação.”
Especialista em mercado de trabalho, o professor de economia do Ibmec João Bonomo ressalta que a criação recorde de vagas contribuiu para a queda da informalidade, mas ainda falta ao país investir na qualificação da força de trabalho. “É preciso melhorar a qualidade das vagas geradas, com postos de maior rendimento.”
Mário Rodarte comenta que até mesmo em setores como o trabalho doméstico, em que é alto o índice de informalidade, o emprego aquecido força a formalização. “Os profissionais passaram a ser disputados pelo setor de comércio e serviços.” Depois de trabalhar três anos como babá e sem carteira, Valéria Souza Soares comemora seu primeiro emprego fichado, conquistado há dois meses no comércio de Belo Horizonte. “Não é fácil conseguir o primeiro emprego. Exigem experiência que o jovem ainda não tem.”
Um recorte na Pesquisa de Emprego e Desemprego mostra que os assalariados informais da iniciativa privada, seja contratados pelo comércio, indústria ou do setor de serviços, além de reduzidos em número, mudaram de perfil. Na última década, assim como ocorreu com o segmento formal, os sem carteira deixaram de ser aqueles de menor escolaridade, como ocorria há 10 anos, para crescer entre a parcela com ensino médio completo. O efeito do aquecimento do mercado de trabalho chegou também para os empregadores dos informais. Como encontrar mão de obra ficou difícil, os informais são disputados e o tempo de permanência na mesma ocupação, cresceu 80% em 10 anos.
Os informais somam 130 mil na RMBH, mas já foram quase 170 mil nos início dos anos 2000. O professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Mário Rodarte aponta que a mão de obra brasileira experimentou crescimento na escolarização, o que explica a mudança de perfil nas ocupações também entre os informais. O segmento mais jovem assumiu a posição de maior contingente entre os sem carteira. “Eles geralmente encontram maiores dificuldades em conseguir um trabalho com garantias e têm nível de escolaridade superior ao de seus pais, daí a informalidade crescer no ensino médio.”
Entre aqueles que trabalham sem carteira assinada caiu o chamado “turn over”, ou substituição de funcionários por outros mais qualificados. Assim os informais estão garantindo a vaga por mais tempo do que acontecia há uma década. O tempo de permanência na atividade, que era de 21 meses em 2000, passou para 38 meses, em 2011. Segundo Rodarte, os dados da pesquisa sugerem que até mesmo entre os informais a qualidade do trabalho melhorou devido à dificuldade das empresas em recontratar. “As empresas já não acreditam que uma nova turma fará melhor trabalho que a anterior.” Apesar de enfatizar que a busca deve ser pela formalidade, o especialista vê com bons olhos a manutenção mais longa do emprego. “Não vejo o indicador como um mau sinal porque sugere uma certa segurança quanto à manutenção dos postos de trabalho.”
Com os bons ventos do mercado de trabalho, que tem taxas próximos ao pleno emprego (5% na RMBH), ignorando o esfriamento da economia, Elen Teixeira diz que em breve pretende modificar sua posição investindo nos estudos. Ela quer ser enfermeira e contar com os direitos garantidos do mercado formal. Henrique Silva compartilha do projeto. Aos 23 anos ele trabalha desde os 18 anos. Já foi fichado, recolheu impostos, mas agora trabalha sem garantias. Na sua família a mãe ganha a vida por conta própria como manicure e o pai trabalha formalizado como gerente de uma drogaria. “Estou em período de experiência”, justifica. Com ensino médio completo, Henrique também tem planos. “Não vou ficar na informalidade por muito tempo. Quero ser farmacêutico”, garante.
Previdência
Os assalariados que trabalham à margem da legislação estão mais preocupados com o futuro, contribuem em maior escala com a Previdência Social. Em 2000 apenas 4,8% dos assalariados sem carteira, segundo o Dieese/FJP, contribuíam com a seguridade social. No fim do ano passado eles já somavam 14,2%. Mário Rodarte explica que no mesmo período a renda desse contingente cresceu 57%, ao contrário do que foi visto entre 1996 e 2000, quando a redução da renda provocou queda nas contribuições à Previdência. “Mesmo a renda ainda sendo pequena, houve um aumento expressivo e sintomático que permitiu um recolhimento da tributação.”
Especialista em mercado de trabalho, o professor de economia do Ibmec João Bonomo ressalta que a criação recorde de vagas contribuiu para a queda da informalidade, mas ainda falta ao país investir na qualificação da força de trabalho. “É preciso melhorar a qualidade das vagas geradas, com postos de maior rendimento.”
Mário Rodarte comenta que até mesmo em setores como o trabalho doméstico, em que é alto o índice de informalidade, o emprego aquecido força a formalização. “Os profissionais passaram a ser disputados pelo setor de comércio e serviços.” Depois de trabalhar três anos como babá e sem carteira, Valéria Souza Soares comemora seu primeiro emprego fichado, conquistado há dois meses no comércio de Belo Horizonte. “Não é fácil conseguir o primeiro emprego. Exigem experiência que o jovem ainda não tem.”