A desaceleração do IGP-10 em setembro confirma que os efeitos da quebra de safra de produtos agrícolas como soja e milho sobre os preços começam a se dissipar. Nos próximos meses, porém, o foco de pressões inflacionárias deve se deslocar para o varejo, que só agora começa a repassar ao consumidor as fortes altas registradas pelo atacado nos meses anteriores. De acordo com o coordenador dos IGPs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, os IGPs atingiram o pico em agosto e a tendência é de desaceleração.
Em setembro, as matérias-primas responderam por 90% da desaceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) - que saiu de 2,21% em agosto para 1,40% neste mês. "O efeito da seca americana sobre a soja e o milho se suavizou. O choque está arrefecendo, mas deixando herdeiros", disse Quadros. Em setembro a soja em grão subiu 5,46%, após um aumento de 15,62% em agosto. No caso do milho, a alta saiu de 22,17% para 5,68%.
Quadros lembra, porém, que o choque de oferta agrícola ainda gera pressões derivadas graças ao aumento de custos para o produtor de carnes, por exemplo. O preço do suíno vivo saltou 21 49% em setembro, contra 11,44% em agosto. Paralelamente, estão em curso algumas altas que não estão ligadas à seca americana e até agora encobertas pelos estragos da soja.
É o caso do arroz, cujo preço ao produtor saltou 12,42% por causa da entressafra e estoques baixos. Já o trigo sofreu elevação de 11,8% em setembro por reflexo de uma quebra de safra na Rússia. Segundo Quadros, isso deve justificar elevações que já começam a aparecer no varejo e tendem a se intensificar.
O economista destacou ainda no IPA o recuo dos preços de Bens Intermediários - de 1,11% em agosto para 0,75% em setembro. A desaceleração foi concentrada na queda de preços de combustíveis e lubrificantes para a produção - saindo de 5,01% para 0,85% - em resposta ao fim da pressão vinda dos dois aumentos do óleo diesel no ano.
A disseminação da inflação pelo varejo ficou patente com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10) de setembro, que dobrou a 0,42%, maior alta desde maio. A principal explicação para a disparada veio de Transportes, influenciado pela elevação dos preços dos automóveis novos (0,52%) e menor ritmo de queda dos preços dos usados (-0,40% após queda de -2,48% em agosto). O grupo respondeu por 65% do aumento do IPC.
Para Quadros, a evolução desse item daqui para frente é uma incógnita. "Pode ter havido uma alta diante do temor de que a isenção do IPI não fosse prorrogada. Mas a alta pode estar associada à grande demanda. A pergunta é se foi um movimento pontual ou não", diz ele. "É preciso avaliar bem para calibrar a medida (de isenção do IPI, recém-prorrogada até outubro). Se você está tendo alta de preços significa que ela começa também a ter custos para o País."
Se uma nova alta dos preços de automóveis é incerta, a pressão sobre os preços dos alimentos no varejo é dada como gradual, mas inevitável. Dentro do IPC, a alta do item alimentação se manteve praticamente estável (saindo de 1,11% para 1,09%) mas em um patamar considerado alto pela FGV. Para Quadros, haverá novos aumentos dos preços de carne suína, aves e até bovina por tabela.
Quadros prevê que a taxa acumulada de inflação no item Alimentação, que já chega a 8,48% em 12 meses, subirá a 10% em decorrência dos repasses das altas passadas no atacado. Parte disso já apareceu em setembro, com a intensificação de aumentos na carne de porco (3,40%), aves e ovos (2,71%) e óleo de soja (1 93%).
O arroz subiu 4,34% e pães e biscoitos, 1,46%. O que contrabalançou esse quadro foi o preço do tomate, que após extrapolar para 59,56% em agosto desacelerou e subiu apenas 5 67% em setembro. "O tomate pesa 0,40% no IPC e equilibrou as demais altas. Mas esse "efeito tomate" dificilmente vai se repetir", explica Quadros.