O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, defendeu que o leilão da faixa de 700 MHz, atualmente ocupada pela televisão analógica, não seja realizado até que sejam encontradas formas de resolver futuros problemas como a interferência do sinal, que vem sendo registrada na Europa e no Japão.
Acompanhado do presidente da Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra), Frederico Nogueira, o executivo se reuniu nesta terça-feira com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que anunciou há algumas semanas a intenção de antecipar o leilão dessa faixa e destiná-la à transmissão do sinal de telefonia móvel de quarta geração (4G). Programado para ocorrer apenas em 2016, o governo pretende realizar o certame já no segundo semestre de 2013.
A Abert e a Abra sugeriram a criação de um grupo de trabalho com representantes do governo e do setor para discutir a questão. "O acesso da população a uma televisão livre, aberta e gratuita não deve ser restrito", afirmou Slaviero. "Antes que esse grupo de trabalho comece a funcionar, que esses pontos sejam aprofundados e que achemos caminhos e soluções para isso, entendemos que falar em leilão e licitação é um pouco precipitado", afirmou.
No documento entregue ao ministro, as associações pedem que os canais 14 a 59 permaneçam com a radiodifusão, pois são considerados essenciais para assegurar a transição da tecnologia analógica para a digital e também para a expansão do setor. Segundo estudos apresentados pelas entidades, já há problemas de interferência no sinal da internet 4G nos televisores em alguns países. "O Japão, que leiloou a faixa de 700 MHz, não consegue entregar a faixa porque tem problema de interferência", afirmou Slaviero.
"O governo do Reino Unido criou um órgão só para resolver esse problema porque 10% de todos os domicílios no país estão com problemas de interferência. Como vão resolver isso? Colocar filtro nos televisores? Quem vai pagar essa conta?", questionou Nogueira. "Vamos evitar cometer os mesmos problemas que já aconteceram em países da Europa e da Ásia e ver de que forma conseguimos abrir espaço para a universalização da banda larga e a preservação da televisão livre e gratuita", acrescentou Slaviero.
As associações disseram ser favoráveis ao desligamento da TV analógica de forma escalonada. "Nós entendemos que escalonar o desligamento, com algumas cidades um pouco antes, e, principalmente, interior do Brasil, um pouco depois, é uma coisa que precisa ser aprofundada, mas faz sentido sob o ponto de vista da radiodifusão", afirmou Slaviero.
Segundo os executivos, o ministro se mostrou sensível às questões apresentadas pelas entidades e vai analisar a proposta de criação de um grupo de trabalho para discutir o tema. As associações cobraram ainda políticas públicas como financiamentos e desoneração para acelerar e aumentar a cobertura da televisão digital no País e massificar os receptores, entre outros pedidos.