A Espanha verá na quinta-feira se os investidores confiam no país ao emitir títulos da dívida a 10 anos, principal indicador de confiança dos mercados, que esperam impacientes que Madri se decida a respeito de um pedido de resgate para sua economia, a quarta da zona do euro.
O governo espanhol não só ganha tempo para isso, mas também começa a duvidar da necessidade de pedir um resgate. "Atualmente estudamos a situação, vamos ver se nos convém ou não, se é ou não necessário", explicou tranquilamente na semana passada o chefe do executivo conservador, Mariano Rajoy.
De fato, Madri se beneficia ultimamente de uma certa tranquilidade nos mercados, algo que pôde ser verificado nesta terça-feira, ao pagar menos juros para captar 4,6 bilhões de euros em títulos a 12 e 18 meses.
O êxito dessa captação era tido como certo, já que o novo programa do Banco Central Europeu (BCE) para apoiar as economias em crise da zona do euro consistirá exatamente na compra ilimitada no mercado secundário de obrigações com vencimentos de até três anos.
O grande teste será na quinta-feira, quando a Espanha tentar captar a mesma quantia em obrigações a três e dez anos, emissão a longo prazo considerada como o verdadeiro termômetro da confiança do mercado.
A emissão "chega em um momento cômodo, porque já foram satisfeitos três quartos das necessidades de financiamento e o mercado relaxou muito, então não acredito que vão surgir muitas dificuldades", prevê Alberto Roldán, diretor do departamento de análises de ações da Inverseguros.
"Nestas últimas semanas, o comportamento nos leilões foi bom", opina Marian Fernández, do banco Inversis, que aposta em "uma acolhida razoável" da emissão. A Espanha obteve, em junho, uma promessa de ajuda de até 100 bilhões de euros para seu setor bancário, afetado pelo estouro da bolha imobiliária em 2008.
Contudo, os investidores e alguns de seus sócios europeus pressionam para que o governo solicite um resgate econômico global, que necessariamente implicaria condições econômicas. Agora, "a tentação seria não fazer nada", diz Jean-François Robin, estrategista de Natixis.
"As taxas espanholas retornam a níveis baixos, antecipando uma intervenção do BCE, e Madri não parece muito inclinada a pedir formalmente ajuda enquanto (os juros) baixos forem mantidos", explica em uma nota.
A taxa de juros para os bônus espanhóis a 10 anos voltou a ficar, na segunda-feira, abaixo de 6%. Segundo o jornal El Pais, o ministro da Economia, Luis de Guindos, deseja um rápido resgate, ao contrário de Rajoy, preocupado com seu custo político, que faz todo o possível por atrasá-lo ou inclusive evitá-lo.
A Espanha viverá uma série de acontecimentos cruciais nas próximas semanas: no dia 27 de setembro, será apresentado o projeto de orçamento 2013; no dia 28, são esperadas as auditorias do setor bancário; e no dia 30, a agência Moody's pode ser a primeira a rebaixar a nota da dívida soberana do país para a categoria especulativa.
Outubro também será um mês importante: Madri ocupará boa parte da reunião do Eurogrupo (ministros das Finanças da zona do euro) no dia 8 e, logo depois, da cúpula europeia (18 e 19).
Para Rajoy há outra data politicamente essencial: o dia 21 de outubro, quando serão realizadas eleições regionais na Galícia (noroeste) e no País Basco (norte), o que poderia atrasar ainda mais o pedido de resgate.
O governo de Madri, contudo, está, no momento, concentrado no mês de outubro, complicado do ponto de vista financeiro. "Ainda há um problema de liquidez e nos aproximamos dos vencimentos de outubro", quando a Espanha terá que devolver 30 bilhões em apenas um pagamento, lembra Marian Fernández.
Depois do anúncio do BCE, "a taxa de risco foi relaxada de forma significativa e, efetivamente, o passo seguinte deveria vir da Espanha", já que "se não pedirmos nenhum tipo de assistência financeira ou de resgate, o BCE não intervirá comprando títulos da dívida", explica.
Este é o risco de jogar com a paciência dos mercados: "É evidente que todos os investidores trabalham com uma única expectativa, que é a de um resgate à Espanha. Inverter esta situação agora seria muito caro em termos de credibilidade", alerta Alberto Roldán.