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Estado de Minas

Itamaraty reage e ataca política do dólar barato


postado em 21/09/2012 08:50

O governo brasileiro reagiu duramente à carta em que o representante de Comércio dos Estados Unidos, Ron Kirk, criticou a política do País de elevação de tarifas de importação. O ministro das Relações Exteriores, Antônio de Aguiar Patriota, recebeu o documento nesta quinta-feira à tarde e à noite divulgou uma resposta.

Em tom duro, ele ressaltou que os EUA praticamente dobraram as exportações ao Brasil, beneficiados por um “ambiente distorcido de desalinhamentos cambiais e escancarado apoio governamental”. Ele atacou a política de expansão monetária americana, chamada de afrouxamento quantitativo, que torna o dólar barato ante outras moedas e dá mais competitividade aos produtos americanos. E reafirmou a intenção de usar “todos os instrumentos legítimos” em defesa do mercado.

Mais cedo, o porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes, já havia reagido à carta dos EUA, tachada de “injustificável” e “inaceitável”. “Não gostamos nem do conteúdo nem da forma. Consideramos injustificadas as críticas, não têm fundamento”, afirmou. “Temos um relacionamento muito bom com os EUA e essa forma de comunicação não é aceitável, não ajuda e não reflete esse bom relacionamento.”

O tom do texto de Kirk, que tem o posto equivalente a um ministro do Comércio Exterior, incomodou o governo brasileiro. Há uma semana, o embaixador americano na Organização Mundial do Comércio, Michael Punke, também havia reclamado da decisão brasileira de aumentar as tarifas de importação de 100 produtos e a reação de Patriota não foi tão dura.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro afirmou que considerava naturais as críticas feitas na organização, um fórum onde os países podem levantar suas “preocupações comerciais”. Ainda assim, lembrou que o Brasil é um dos quatro países que mais importam produtos americanos e que medidas dos Estados Unidos benéficas às suas empresas, como o chamado afrouxamento quantitativo realizado há uma semana, também prejudicam economias emergentes.


“O Brasil tem levantado na OMC um debate sobre câmbio e comércio e vê com muita preocupação essas medidas de afrouxamento quantitativo, que têm impacto extremamente deletério sobre economias em desenvolvimento. Economias que inclusive estão ajudando o mundo desenvolvido com o seu dinamismo econômico e com a absorção de produtos exportados pelos Estados Unidos e países europeus”, disse o ministro. “Além da retórica temos de olhar para realidade, e há questões que precisam ser legitimamente debatidas. O Brasil as tem levado à OMC e esperamos que também sejam tratadas com seriedade”.

A diferença agora é, especialmente, o tom da carta do representante americano. No texto, Kirk não só começa dizendo que escreve para declarar “em termos fortes e claros” a preocupação dos Estados Unidos com a política brasileira, como acusa o governo brasileiro de tomar medidas protecionistas e de mirar especificamente as importações americanas. Além disso, o tom de ameaça - Kirk diz que medidas como essa podem levar a respostas à altura e prejudicar as relações dos dois países - foi considerado desrespeitoso.

O Brasil teve, em 2011, um déficit comercial de US$ 8,2 bilhões com os Estados Unidos. Este ano, entre janeiro e agosto, a diferença na balança comercial já alcança US$ 2,7 bilhões contra o Brasil. Além disso, as ações americanas para proteger seu comércio também não costumam levar em conta os problemas que causam nos outros países.

A recente decisão do Federal Reserve, o banco central americano, de comprar US$ 40 bilhões em títulos públicos para injetar dinheiro na economia foi classificada pela presidente Dilma Rousseff como um “tsunami monetário”, que fortalece artificialmente as moedas dos demais países e prejudica o comércio. No quesito subsídios, o Congresso americano negocia uma nova lei agrícola, a Farm Bill, que pode ser ainda mais danosa para os produtos agrícolas que a atual.


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