Comprar só porque está mais barato pode não ser um bom negócio. Com a decisão do governo de prorrogar a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros, móveis e eletrodomésticos da linha branca – fogões, geladeiras, máquinas de lavar e tanquinhos –, os consumidores sentem-se muitas vezes tentados a fazer mais uma dívida para adquirir o objeto de desejo. Portanto, a primeira pergunta que se deve fazer é: realmente essas compras por meio de dívidas valem a pena?
Ricardo Pereira, consultor financeiro do programa Consumidor Consciente, da Mastercard, alerta que, antes de mais nada, o consumidor deve procurar analisar a urgência e a necessidade da compra. A aquisição do carro novo já estava nos planos? A geladeira realmente precisa ser trocada? Tem espaço no orçamento para mais uma prestação longa? Não se pode esquecer que hoje, segundo cálculos do Banco Central, 43% da renda das famílias estão comprometidos com dívidas e juros.
"Todo novo compromisso a ser assumido implica em um planejamento financeiro", avisa Pereira, que acrescenta: é preciso ter cautela na hora de consumir para não sair por aí comprando desenfreadamente e, logo depois, se dar conta de que está superendividado. "Com a redução das taxas de juros e os demais incentivos dados pelo governo, como o corte do IPI, as famílias estão mais do que motivadas a gastar. O consumo irresponsável, no entanto, leva às dívidas e, em pouco tempo, à inadimplência", observa.
Mesmo tendo enorme vontade de passear, exibindo o carro novo, ou apresentar para a família e amigos a cozinha toda renovada, com eletrodomésticos de última geração, é preciso saber pôr o pé no freio. " Só porque o preço caiu não quer dizer que todo mundo precisa de um eletrodoméstico novo. A compra de geladeira e fogão, itens relativamente caros, implica em alguns cálculos: quantidade e valor das parcelas, além dos juros embutidos nos financiamentos, por exemplo. Isso é essencial para saber se o preço do bem cabe no orçamento. Acima de tudo, respeite seu limite financeiro e planeje as suas compras", aconselha o consultor da Mastercard.
Pereira sabe que muitas pessoas agem na base do impulso, olhando apenas se o valor da parcela do carro ou do eletrodoméstico novo cabe no orçamento. "Se a pessoa tem outros bens comprados a prazo é bom lembrar que as parcelas do produto recém-adquirido se somarão às mensalidades das aquisições anteriores", avisa. Por isso, é preciso fazer uma verdadeira planilha, somando todos os débitos e as despesas correntes para ter condições de verificar se ainda existe espaço na renda familiar. Comprar não é problema. O risco é não poder pagar e ir parar na lista dos devedores do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).
Um erro comum na aquisição de um carro, por exemplo, é o consumidor levar em conta apenas o valor da prestação, esquecendo-se de que precisará pagar seguro e impostos, além dos gastos mensais com estacionamento e combustível. " As despesas com a manutenção mensal do veículo chegam a representar uma outra prestação", garante Pereira.
Empréstimos
O mesmo argumento usado para aconselhar os consumidores com relação à queda do IPI vale para os empréstimos, cujas taxas vêm caindo mês a mês e são alardeadas pelas instituições financeiras. " Só porque os juros caíram você vai pegar um empréstimo?", questiona o consultor do programa Consumidor Consciente.
Ele lembra que, mesmo com a recente baixa, os juros bancários no Brasil ainda são muito elevados. Pegar um empréstimo pessoal de R$ 1 mil , por exemplo, com taxa na faixa de 50% ao ano, significa simplesmente pagar R$ 500 a mais no período. Não é pouca coisa. O financiamento é válido e deve ser buscado pelo consumidor para pagar dívidas mais altas, como as do cheque especial ou do cartão de crédito, que custam até 600% anuais.
"Se o consumidor está pendurado no cheque especial ou no rotativo do cartão, deve procurar opções mais baratas de crédito", observa Pereira. Entre as modalidades com melhores taxas oferecidas pelo mercado está a do crédito consignado (com desconto em folha), em torno de 28% ao ano. Para o consultor, os consumidores devem aprender a economizar e a poupar para comprar à vista. "O consumo não pode ser baseado somente em dívidas", alerta.