O governo venceu a queda de braço travada na semana passada com os bancos privados para redução das taxas de juros cobradas no cartão de crédito. Ontem, o Bradesco abriu a porteira e foi o primeiro a anunciar cortes expressivos. A taxa máxima do crédito rotativo caiu 54% ao passar de 14,9% para 6,9%. O parcelamento da fatura caiu de 8,9% para 4,9%, redução de 45%. Até então, somente Caixa e Banco do Brasil tinham atendido ao apelo da presidente Dilma Rousseff por juros mais civilizados no rotativo.
A decisão do Bradesco vale para todos os usuários de cartões das bandeiras Visa, American Express, ELO e Mastercard e passa a valer em novembro. A instituição calcula que, no total, 95 milhões de cartões serão beneficiados. Juntos, somam R$ 49 bilhões de faturamento ao ano. Apesar de a instituição garantir por meio de nota que os estudos para alteração das taxas do rotativo ocorrem desde o ano passado, especialistas consideram que o anúncio foi feito em reação às críticas vindas do governo federal para as taxas abusivas praticadas no país.
“É uma forma de evitar que o governo tenha que tomar novas medidas que possam impor aos bancos esta redução, como o que foi feito no início do ano com o custo do crédito”, explica Miguel Ribeiro de Oliveira, conselheiro e coordenador da área de pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
O receio de intervenções pesadas vindas do Palácio do Planalto foi, inclusive, motivo de uma série de reuniões em Brasília entre representantes dos bancos e diretores do Banco Central. Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deram o recado ao condenar veementemente as alíquotas cobradas no rotativo.
Dilma chegou a dizer que não descansaria enquanto as taxas não caíssem a níveis civilizados. Paralelamente, Mantega enquadrou como “escorchantes” ou imorais os percentuais de ajuste das dívidas no cartão. As instituições reagiram com a possibilidade de eliminar o parcelamento sem juros das compras realizadas por meio do dinheiro de plástico.
A expectativa agora é de que as demais instituições financeiras sigam o mesmo caminho. “Se o Bradesco pode reduzir, é um sinal de que os outros também podem. Fatalmente levará outros bancos a fazer o mesmo já que, se não mudarem, poderão perder os clientes”, pondera Ribeiro. Santander e HSBC informaram que ainda estão analisando o atual cenário de queda das taxas.
MUDANÇAS O Itaú, por sua vez, reforçou o lançamento do Itaucard 2.0 – novo produto do banco disponível desde agosto com taxa de juros fixada em 5,99% ao mês – e não informou sobre novas possibilidades de redução dos custos. Nesse caso, somente os consumidores que adquirirem o cartão estarão sujeitos ao percentual.
E tem mais. Ribeiro alerta também sobre a nova forma de cobrança dos juros. “Quem atrasar o pagamento da conta passará a pagar juros desde o primeiro dia em que realizou a compra, o que pode encarecer o crédito”, pondera. O Itaú confirma que, diante do atraso ou não pagamento da fatura, os juros de 5,99% ao mês serão cobrados a partir da data de cada compra e não mais a partir do vencimento da fatura. “A decisão do Bradesco diminui efetivamente a taxa de juros para todos os clientes”, avalia o especialista.
O Banco do Brasil informou que já ajusta o custo do rotativo de acordo com os anúncios de queda da taxa Selic. Em 31 de agosto anunciou redução de 79% das taxas máximas ( de 13,54% ao mês para 2,88%) praticadas entre clientes que recebem salário na instituição. Para os demais clientes, a redução foi de 58%, com a taxa máxima de 5,7% ao mês.