A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, respondeu nesta terça-feira na Assembleia Geral da ONU à advertência do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que iria dar o "cartão vermelho" a seu país caso este não estabelecesse estatísticas confiáveis, dizendo que a Argentina não será submetida a nenhuma pressão.
"Meu país não é um campo de futebol. É uma nação soberana que toma soberanamente decisões e que portanto não será submetida a nenhuma pressão e muito menos a nenhuma ameaça", disse Kirchner em seu discurso no encontro anual da ONU em Nova York.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse na segunda-feira que a Argentina tem três meses para por em ordem suas estatísticas e evitar o "cartão vermelho" por parte do organismo. Segundo Kirchner, o FMI continua pedindo políticas de ajuste e inclusive, como ontem, ameaçando a países como a República Argentina.
"Quero dizer a titular do Fundo Monetário Internacional que isso não é uma partida de futebol, que isso é a mais grave crise econômica e política desde os anos 1930", respondeu com dureza Kirchner. "E já que estamos comparando futebol com política e economia, devo dizer que o papel do presidente da FIFA tem sido muito mais satisfatório que o dos diretores do FMI", completou, arrancando aplausos.
Kirchner afirmou que o FMI vem tentando organizar a economia desde os anos 1980, mas que contudo, "só se observa crise após crise". A presidente argentina afirmou ainda não ter escutado nenhuma autocrítica do FMI com relação às estatísticas macroeconômicas de países como Espanha, Grécia ou Portugal, cujos altos déficits e dívidas públicas influenciaram a crise na Zona Euro.
"Quais eram as estatísticas da Espanha, da Grécia, de Portugal, da Irlanda, ou da Itália, que permitiram que esses países contraíssem dívida ou emitissem bônus sem nenhum tipo de controle?", questionou.
A queda de braço entre o FMI e a Argentina, que se prolonga há mais de um ano, é para que o país sul-americano entregue dados confiáveis sobre a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com os regulamentos do Fundo, a Argentina deve responder aos requerimentos antes de 17 de dezembro, para evitar que se abra o mecanismo de "censura", que implica primeiro na proibição do acesso a empréstimos, seguido da perda do direito a voto e, eventualmente, após vários prazos, a expulsão.
A Argentina não aceita revisões de sua economia desde que em janeiro de 2006 o falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003/2007), esposo e antecessor de Cristina Kirchner, saldou uma dívida de 9,5 bilhões de dólares com a entidade multilateral. O país, no entanto, aceitou uma missão técnica do FMI que colaboraria para a elaboração de estatísticas confiáveis.
O governo publica estatísticas de inflação e crescimento periodicamente através do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). Estes dados têm sido questionados pela oposição, que divulga outras cifras, principalmente de inflação, assim como pelas consultoras privadas, que têm sido sancionadas em alguns casos pelo governo por divulgar seus resultados.