As incertezas no cenário internacional devem seguir pressionando o dólar para cima nesta quarta-feira ante o real, mas com força limitada devido à percepção de que o Banco Central está pronto para agir, caso necessário. Essa certeza tem servido para manter a moeda americana numa margem de oscilação pequena desde a semana passada, de R$ 2,02 a R$ 2,05, tendendo para perto do piso.
Por volta das 9h20, na BM&F Bovespa, o contrato futuro do dólar para outubro subia 0,10%, a R$ 2,034, o mesmo nível da abertura. No mercado de balcão, o dólar à vista abriu em alta de 0,20%, cotado a R$ 2,033, na máxima.
"A percepção de risco aumentou um pouco. Mas apesar de lá fora estar guiando o movimento do dólar, a moeda deve seguir perto da estabilidade, próxima de R$ 2,035, R$ 2,036, em função da certeza de atuação do BC se a pressão aumentar", comentou um operador sob a condição de não ser identificado.
Com a agenda doméstica mais fraca nesta quarta-feira, as atenções seguem na crise da Europa, que continua turvando o quadro internacional e justifica a aversão a risco que empurra para baixo as bolsas do Velho Mundo e dá força ao dólar ante várias moedas nesta manhã. As bolas da vez são novamente Grécia e Espanha.
Atenas teria fechado acordo para um novo pacote de austeridade de mais de 11,5 bilhões de euros, segundo fonte ligada ao governo, e esse pacote agora será submetido à aprovação da coalizão governista e credores externos. Tal avanço, no entanto, se traduz em mais revolta popular e o país está tomado por protestos e greves. Vários protestos foram vistos ontem também na Espanha, onde o ambiente só fica mais incerto diante de uma economia cambaleante e da escalada no nível de desemprego.
A fraqueza das maiores economias do mundo deixa pouca margem para gentilezas no âmbito comercial e cada país segue tentando defender sua moeda. A presidente Dilma Rousseff foi firme em seu discurso de abertura da 67ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) ao criticar a política monetária expansionista dos países ricos. "Com isso, os países emergentes perdem mercado, devido à valorização artificial de suas moedas, o que agrava ainda mais o quadro recessivo global", afirmou.
Michael Klein, que foi economista-chefe do escritório de assuntos internacionais do Tesouro americano até o ano passado, discorda que haja uma guerra cambial, como tem alardeado desde 2010 o governo brasileiro e disse que medidas para controle de capitais já adotadas no Brasil se mostraram ineficazes. "Há fatores contribuindo para essa desvalorização, incluindo crescimento mais lento em países como a China e a queda dos preços das commodities", argumentou, em entrevista ontem ao AE Broadcast ao Vivo.
Por volta das 9h25, o euro caía a US$ 1,2844, de US$ 1,2896 no fim da tarde de terça-feira (25). Entre as moedas correlacionadas com commodities, o dólar norte-americano tinha alta de 0,53% ante o dólar australiano e de +0,38% ante o dólar canadense. A rupia indiana perdia 0,29% para a moeda dos EUA, enquanto a lira turca, o dólar neozelandês e o rand sul-africano também cediam.