Em uma cruzada para aumentar o comércio com o Brasil, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, ressuscitou nesta sexta-feira, no encontro com a presidente Dilma Rousseff, a tentativa de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Iniciada em 2000 e interrompida em 2006 por falta de qualquer tipo de avanço, o acordo voltou à pauta, agora com europeus muito mais interessados do que há 12 anos.
"A presidente Dilma e eu mandamos uma clara mensagem sobre nossa determinação de apoiar o comércio. Nós concordamos em resistir ao protecionismo e intensificar nossos esforços para atingir um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia que poderia gerar um 45 bilhões de libras (R$ 147 bilhões) em exportações para a União Europeia", afirmou o primeiro-ministro na declaração à imprensa depois do encontro com Dilma.
Na sua declaração, a presidente não tratou do acordo. Ao falar de economia, apenas relatou que conversou com Cameron sobre a crise internacional e que reiterou ao primeiro-ministro a necessidade de que sejam ampliados os esforços para recuperação econômica da Europa. "O Brasil tem feito a sua parte quando desenvolve incentivos para o crescimento de empregos e à demanda doméstica. E fiz ver ao primeiro-ministro que, em plena crise, temos aumentado as nossas importações", afirmou Dilma.
O assunto, no entanto, já havia sido levantado pelo presidente da União Europeia, Durão Barroso, em um encontro com Dilma em Nova York, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, na última segunda-feira. Barroso prometeu vir ao Brasil para tentar acelerar as negociações.
A tentativa de retomar o acordo surge quando, em plena crise econômica mundial e com seus mercados internos em recessão, os europeus tentam de todas as formas abrir mercado para seus produtos. Boa parte da visita de Cameron ao Brasil girou em torno da necessidade de aumentar o comércio com o País, especialmente na via Reino Unido - Brasil.
Cautela
No entanto, o governo brasileiro vê com cautela esse súbito interesse no acordo. Há seis anos, quando as negociações foram abandonadas, o maior empecilho era justamente a falta de interesse da Europa em ceder mais, especialmente na área agrícola, que interessa diretamente ao Mercosul. Na época, quando também ainda se tentava levar adiante a Rodada Doha de abertura do comércio mundial, os europeus alegavam que "o bolso era um só" e não podiam ceder nas duas frentes: em Doha e com o Mercosul.
Agora, a Europa vê o Mercosul como um enorme mercado consumidor onde a crise parece não chegar com tanta força. Para os sul-americanos, no entanto, é preciso ver o que os europeus pretendem oferecer agora e, principalmente, recomeçar as negociações internas para ver quais são as áreas sensíveis e que produtos poderiam ser prejudicados pela abertura dos mercados. Em 12 anos, a situação local de produção, especialmente industrial, mudou consideravelmente.
Mesmo entre os europeus, um acordo não é consenso. Em fevereiro deste ano, a França do então presidente Nicolas Sarkozy negou que houvesse qualquer possibilidade de acordo. A resposta foi dada pelo ex-ministro da agricultura francês Bruno Le Maire. O temor da competição com a agricultura sul-americana é um dos principais entraves para a Europa. A mudança de governo na França e a crise que parece não ter fim podem ter mudado a visão dos franceses, mas ainda não há um sinal positivo sobre isso. Até o final deste ano deve haver uma primeira reunião técnica para retomada das negociações.