Especialistas garantem que o esforço vale a pena. O diretor-executivo do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, que diariamente se debruça sobre tabelas que revelam o mapa das mercadorias mais baratas e caras da cidade, reforça a importância de a pessoa gastar sola de sapatos em busca de preços baixos com exemplos de sua última pesquisa, divulgada na semana passada. O estudo apurou que o quilo de tomate sai a R$ 5,98 num tradicional sacolão do Bairro Santo Antônio. Já no sacolão de dona Maria Alice, o produto custa R$ 1,99 – diferença de 200%.
A presidente do Movimento das Donas de Casa em Minas Gerais (MDC-MG), Lúcia Pacífico, destaca que, embora seja a dica mais antiga, a pesquisa de preços continua sendo a primeira orientação para que o consumidor pague um valor justo pela compra. “Isso mostra que as pessoas estão muito mais conscientes, mais exigentes. Qualquer economia é benéfica ao orçamento doméstico. Há comércios em bairros mais sofisticados que arrancam o couro dos clientes”.
A designer de joias Ana Mota, moradora do Bairro Serra, sabe administrar bem o orçamento familiar. Aos sábados, ela costuma ir a um supermercado no Santa Efigênia, onde compra o quilo de goiaba, fruta que não pode faltar em sua casa, por R$ 3,90. No seu bairro, lamenta, a mesma quantidade sai por mais do que o dobro: R$ 7,90. Há outras diferenças gritantes: “A alface, que aqui custa R$ 2,69, é vendida no sacolão do Santa Efigênia a R$ 0,69 (289%). O quilo da linguiça, que no açougue daqui é R$ 17,90, no de lá é R$ 6,90 (variação de 159%). A dica é pesquisar”.
Diferenças como essas explicam o porquê de muita gente atravessar a cidade atrás de bons preços. O aposentado Cláudio Pimentel Castro, de 85, sabe bem o que é gastar sola de sapato para pesquisar o melhor custo benefício. Toda quinta-feira ele deixa o Bairro Santa Lúcia, onde boa parte da população é da classe A, para fazer compras num varejão da Rua Santa Catarina, no Centro da cidade. Lá, a couve-flor sai a R$ 2,99. Num sacolão próximo a sua casa, na Prudente de Morais, a mercadoria é vendida a R$ 4,99 – diferença de 66%.
“Compensa muito mais ir lá e voltar de táxi. Veja: economizo, no total das compras, cerca de 15%”, comparou Cláudio, que se aposentou no fim da década de 1980. “Naquela época, minha aposentadoria correspondia a 20 salários mínimos. Hoje, ganho menos de cinco”, lamentou.
Mudança de hábito
A desvalorização da aposentadoria é um dos motivos que levam pessoas a cruzar bairros para garantir economia nas compras. Dona Maria Alice, a proprietária do sacolão que conquistou Maria Lúcia, conta que há 23 anos, quando abriu seu estabelecimento, sua clientela era formada pelos moradores de baixa renda do Morro do Papagaio. “Hoje, calculo que 70% são pessoas da classe A”. O aposentado Eurípedes Luiz Ferreira, de 71, faz parte dessa estatística. Ele mora a três quarteirões de um famoso supermercado de BH, no Bairro Santo Antônio. Há cerca de um ano e meio, quando conheceu o sacolão de Maria Alice, não teve dúvidas de migrar para o novo estabelecimento, que fica a oito quadras de sua casa.
“É mais longe, mas vale muito a pena. Agora só compro aqui. Sabe quanto economizo? Aproximadamente 30%”, justifica o aposentado enquanto observa o advogado André Carvalho, de 28, pagar a melancia que comprou. Vestido num elegante terno, ele conta que também mora no Santo Antônio e que vai ao sacolão de dona Maria Alice atrás de produtos de boa qualidade e preços justos: “Costumava fazer compras no São Bento. Aqui, porém, economizo de 30% a 40%”.
Mas o diretor-executivo do Mercado Mineiro faz um alerta: “Há produtos em que a variação é pequena, portanto, não compensa o custo com transporte. Isso ocorre com marcas famosas, cujas mercadorias têm boas vendas. Os preços das cervejas líderes de mercado, por exemplo, não têm grandes diferenças nos supermercados”. Dos 14 legumes pesquisados pelo Mercado Mineiro na semana passada, 12 apresentaram variações nos preços em três dígitos. Depois da beterraba, a diferença mais exorbitante foi apurada no quilo do chuchu: 225%.
Cesta varia 5,87% emBH
A Prefeitura de Belo Horizonte e a Fundação Ipead/UFMG calculam, desde setembro de 1993, o valor de uma cesta básica composta por 45 produtos (36 alimentos, quatro produtos de limpeza doméstica e cinco de higiene pessoal) e suficiente para o consumo de uma família de quatro pessoas. Divulgado a cada 15 dias pela Secretaria Municipal Adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional, o custo mínimo da cesta básica oscila nas nove regiões da cidade. No último levantamento, divulgado ontem, enquanto o preço mínimo na Pampulha foi de R$ 436,13, na Região Leste foi de R$ 461,72. A diferença foi de 5,87%.
Já o preço médio da cesta, levando em conta o mais alto e o mais baixo, foi de R$ 520,61. “A principal finalidade da pesquisa é a orientação ao consumidor para que ele tenha condições de fazer suas compras a preços menores, proporcionando-lhe uma boa economia. O processamento dos dados apurados na pesquisa nos permite indicar, em cada administração regional, os supermercados que vendem o conjunto de produtos da cesta por preços mais baixos”, informou o economista Paulo Otávio Rodrigues Pinto, que é também analista de políticas públicas da secretaria.
Toda edição da pesquisa traz um dado curioso: supermercados com a mesma bandeira cobram preços diferentes em cada região. Um deles, voltado para a classe média, cobra R$ 460,77 pela cesta básica no Barreiro. Na Região Nordeste, cobra R$ 458,69. Já na Pampulha, o preço é R$ 444,01. No Venda Nova a R$ 461,22. (PHL)