Apesar da saída de R$ 4,172 bilhões em capital externo da Bolsa em setembro, o mês registrou o melhor fluxo desses investimentos desde janeiro, afirmam analistas. Isso porque excluindo resgates motivados pelo leilão da oferta pública de aquisição (OPA) das ações da Redecard, esse indicador acumula ingressos em torno de R$ 2 bilhões, abaixo apenas da entrada de R$ 7,1 bilhões registrada no primeiro mês de 2012. Realizada em 24 de setembro, a OPA inverteu o sinal positivo do saldo de capital externo na Bovespa até então. Naquele dia as retiradas somaram R$ 6,243 bilhões.
"Se você tirar o dinheiro que saiu por causa da OPA, teríamos um saldo positivo de aproximadamente R$ 2 bilhões em setembro, que seria o valor verdadeiro do fluxo dos estrangeiros", avaliou o analista do BB Investimentos, Hamilton Moreira Alves. "Esta saída de recursos da OPA não influenciou no movimento diário da Bolsa, foi uma operação pontual."
O gestor de renda variável da Gaia Asset Management, Theodoro Fleury, destacou que setembro foi marcado por dois períodos; até o dia 17 houve entrada forte de capital externo. "Houve uma antecipação dos investidores por conta do anúncio do QE3 nos Estados Unidos e, quando o Fed confirmou a expectativa, houve um alívio forte nos mercados nos dois dias imediatos", disse ele, se referindo à terceira rodada de relaxamento quantitativo, implementada pelo Federal Reserve. A entrada puxou os papéis de companhias ligadas ao setor de commodities, mas, depois das fortes altas, lembra, a Bolsa passou por uma correção.
Outubro
Na opinião de Moreira Alves, o volume de investimentos externos para outubro deve ser parecido com o do mês passado, dependendo da eleição nos Estados Unidos. "Uma definição maior das eleições nas próximas semanas motivará um movimento favorável para as Bolsas, com algum desconto se tiver uma piora na economia da China. Neste caso, o Ibovespa patinaria em torno dos 60 mil (pontos)", disse Fleury, lembrando ainda que os problemas na Espanha são outro fator de instabilidade.
O BB trabalha com a projeção de recuperação do Ibovespa, que deve, segundo as projeções da casa, fechar o ano em torno dos 67 mil pontos.
Fleury também está otimista em relação ao fluxo de estrangeiros para a Bovespa neste final de ano. "Talvez o volume não atinja o montante de setembro, descontada a retirada da OPA, mas esperamos que até o final do ano o fluxo seja positivo, embora a Bolsa ainda deva conviver com volatilidade em função das incertezas da economia mundial."
Para ele, apesar de a Bolsa brasileira ainda estar barata, os investidores olham para o País com cuidado, devido ao grau de intervencionismo na economia. "Embora muitas ações do governo sejam boas para a Bolsa, como a desoneração da folha de pagamento, e a redução do Imposto de Importação para vários setores, os estrangeiros, em um primeiro momento, se retraem, colocam isso na conta do risco. Por isso, ocorreram as fortes quedas de vários papéis bons."
Os dados finais de setembro mostram que os estrangeiros retiraram R$ 4,172 bilhões em recursos da Bovespa. Eles foram responsáveis por compras de R$ 62,888 bilhões e vendas de R$ 67,061 bilhões entre os dias 3 e 28 do mês passado.
No último pregão de setembro, sexta-feira, eles ingressaram com R$ 392,290 milhões. Naquele dia, o Ibovespa caiu 1,77%, aos 59.175,86 pontos e o giro financeiro totalizou R$ 8,119 bilhões. Com o resultado, a Bolsa doméstica acumulou ganho de 3,71% no mês, o terceiro melhor do ano, atrás de janeiro (11,1%) e fevereiro (4,3%). No ano, o saldo de investimentos externos está negativo em R$ 1,2 bilhão.
Comprador
Em agosto, os maiores compradores na Bolsa foram as empresas públicas e privadas, com ingresso de R$ 9,417 bilhões. Também esse montante foi influenciado pela OPA da Redecard, quando o saldo saltou de R$ 956 milhões negativos, um dia antes da operação, para R$ 9,467 bilhões positivos no dia do leilão da oferta.
Depois dos estrangeiros, os investidores institucionais lideraram os resgates, com R$ 2,522 bilhões, seguidos pelas pessoas físicas, com saída de R$ 2,113 bilhões, e pelas instituições financeiras, com R$ 635,512 milhões negativos.
Os estrangeiros responderam por 19,61% das compras realizadas no mês passado na Bovespa, seguidos pelos institucionais, com 14,93%. As pessoas físicas ficaram com 8,17%, as empresas públicas e privadas, com 3,64%, e as instituições financeiras, 3,63%.