Impulsionada pela demanda por moradia, obras públicas e estímulo ao crédito, a indústria da construção cresceu acima da média nos últimos quatro anos. Mas, agora, emite sinais de desaceleração.
Para a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e a Associação das Pequenas e Médias Empresas da Construção Civil de São Paulo (Apemec) a queda tem relação com a crise financeira internacional, que inibe investimentos. Além disso, há uma acomodação, após período de crescimento intenso.
A retração do setor da construção civil reflete-se em números. O último boletim do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), mercado considerado termômetro para o cenário nacional, mostrou recuo de 20% na venda de unidades e de 43% na quantidade de lançamentos em julho deste ano, ante o mesmo mês de 2011.
A produção de asfalto registrada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) – que ajuda a avaliar o desempenho das obras de infraestrutura – cresceu 2,5% no acumulado de janeiro a julho. Em 2010, o crescimento foi 53% comparado ao ano anterior.
A Sondagem da Indústria da Construção divulgada em setembro pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que agosto foi o quarto mês consecutivo em que o indicador de atividade no setor ficou abaixo da linha divisória dos 50 pontos. Está linha espelha o pessimismo ou otimismo dos empresários. O índice cravou 48,1 pontos na avaliação geral, e 46,4 na medida específica para pequenas empresas.
“No último semestre do ano passado e primeiro deste ano, houve depressão, uma queda significativa no ritmo de contratações de novas obras, admite Paulo Safady, presidente da CBIC. “Com a crise internacional, grandes incorporadoras recuaram [no investimento]. Estamos buscando uma nova dinâmica para o setor, tratando com o governo”, acrescenta ele.
Segundo Safady, as alterações feitas pelo governo no Minha Casa, Minha Vida ao longo do ano - entre elas, redução do valor da prestação mensal e ampliação o subsídio da Caixa Econômica Federal – tornaram o programa de mais atrativo para o comprador e elevaram a atratividade para receber investimentos.
O presidente da CBIC diz que o setor da construção tem boas expectativas em relação às estratégias para ampliar a infraestrutura da malha ferroviária, aeroportos e portos.
O presidente da Apemec, Luiz Alberto de Araújo Costa, destaca que, além de ter sido impactado pela crise, o setor da construção caminha para um equilíbrio após uma expansão fora do comum. “No mercado de São Paulo, nos últimos cinco anos, houve alta de até 500% no preço do metro quadrado. Isso é fora dos padrões”, diz.
Segundo ele, esse crescimento acelerado trouxe dificuldades para o setor, entre elas a carência de mão de obra, principalmente especializada, e a de gerenciamento. A Apemec estima um cenário de retração para 2013, com queda de 20% nas contratações.
A previsão do economista Paulo Neves, da LCA Consultoria, é em sentido contrário. Ele acha que o próximo ano será de retomada do fôlego para o setor da construção. Diz que 2012 corre atípico, com muita cautela por parte de investidores, que aguardam os desdobramentos da crise financeira.
Neves destaca que o potencial comprador de imóveis se mostra mais cuidadoso. “As pessoas relutam em assumir compromissos de longo prazo”, comenta.
Para ele, os investimentos, que tiveram ritmo tímido este ano, tendem a melhorar em 2013. “Muitos estímulos adotados em 2012 terão um efeito mais prático a partir do ano que vem, entre eles a redução da Selic [taxa básica de juros da economia]”, acredita. Neves destaca que em 2011 o PIB da construção civil cresceu 3,6%, e que a projeção da LCA Consultoria é que o indicador encerre 2012 com variação positiva de 1,8%.