Embora não apresente um desempenho tão ruim quanto o da zona do euro, a evolução recente do nível de atividade nos EUA não empolga e é vista como frustrante pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O relatório Perspectiva Econômica Mundial, divulgado nesta segunda-feira, em Tóquio, aponta que o país ainda está com uma recuperação incipiente do setor imobiliário, com avanço moderado do consumo, investimentos acanhados e elevado nível de desemprego. A boa notícia é a expansão gradual e continua da concessão de crédito privado.
Para que ocorra uma melhora substancial das condições do mercado norte-americano, o FMI recomenda mais ações monetárias e fiscais. O Fed (banco central dos EUA) deve continuar o seu programa de ativos atrelados a hipotecas e é indispensável que os poderes Executivo e Legislativo definam um plano para saneamento das contas públicas nos próximos anos. "É imperativo que as autoridades dos EUA devem lidar urgentemente com o teto da dívida pública e o desfiladeiro fiscal, o que poderá afetar seriamente o crescimento no curto prazo", exorta o Fundo.
O FMI estima que o PIB dos EUA deve registrar uma expansão de apenas 1,5% no segundo semestre de 2012, ritmo que deve subir aos poucos nos trimestres seguintes e chegará à velocidade de 2 75% no final de 2013.
Além do incremento frágil do mercado residencial, o Fundo aponta que outros fatores colocam obstáculos sérios para a recuperação mais forte da demanda agregada, como as condições ainda apertadas do mercado de crédito e necessidade de consolidação das contas públicas, dado que a situação fiscal do país não inspira confiança aos agentes econômicos, sobretudo para estimular as empresas a voltar a investir com maior vigor.
O déficit alto, na mente do dirigente da empresas, alimenta a dúvida de que o governo poderá a qualquer momento elevar impostos, o que vai contra aos interesses de quem pretende aplicar recursos na compra de máquinas ou ampliar suas fábricas, diz o FMI. No curto prazo, a seca vai também afetar o PIB, aponta o Fundo, referindo-se à estiagem registrada em 2012, a que mais castigou o solo norte-americano nos últimos 56 anos.
Hiato do produto
A desaceleração do nível de atividade nos EUA desde 2007 faz com que o país apresente um hiato do produto muito amplo, próximo a 4% do PIB em 2012, aponta o FMI. Essa diferença da taxa atual de crescimento e seu potencial é de 2,5% do Produto Interno Bruto tanto no Japão como na zona do euro. Mas, segundo o Fundo, tal folga muito grande na capacidade de produção no mercado norte-americano pode ser reduzida gradualmente com um programa sólido no reequilíbrio de longo prazo das contas públicas.
O Fundo não acredita que o desfiladeiro fiscal vai ocorrer em 2013 em sua plenitude, pois considera que as autoridades do governo federal e parlamentares em Washington vão encontrar alguma solução em breve. Ao invés de cortar de forma abrupta 4% do PIB em gastos do Tesouro, o que levaria muito provavelmente o país à recessão em 2013, o Fundo Monetário Internacional prevê uma redução das despesas mais razoável, que vai reduzir o resultado negativo do Orçamento em 1,25% do PIB. Como o impacto sobre o nível de atividade dessa medida não será súbito, o Panorama da Economia Mundial acredita que os EUA terão condições de crescer 2,2% neste ano e 2,1% em 2013.
Afrouxamento Quantitativo
O Fundo Monetário Internacional apoia a política de afrouxamento quantitativo sem limites adotada pelo Federal Reserve, cujo objetivo é cessar a injeção de liquidez na economia norte-americana quando o desemprego estiver mais baixo. A terceira edição dessa política agrega a compra mensal de US$ 40 bilhões de títulos atrelados a hipotecas, o que tem como foco principal reduzir os juros desses contratos e melhorar as condições do mercado imobiliário.
O FMI também cita que o Fed vai manter a taxa básica de juros de 0% e 0,25% ao ano até meados de 2015 sem manifestar nenhum sinal de reprovação. Para o FMI, entre os principais riscos para a economia dos EUA no curto prazo está o surgimento do desfiladeiro fiscal e do agravamento intenso da crise na zona do euro. Contudo, como o Fundo acredita que aquela região econômica tem condições de sair da recessão no próximo ano, mesmo que fique relativamente estagnada com uma expansão de apenas 0,2% do seu PIB, suas previsões para a economia norte-americana não são catastróficas.
O crescimento abaixo do potencial do país vai permitir que as pressões de alta da inflação se reduzam, o que fez o Fundo diminuir suas projeções feitas em abril para o indicador neste ano, de 2,1% para 2,0%, e em 2013, de 1,9% para 1,8%. O nível de atividade ainda morno deve colaborar para uma redução da estimativa do déficit das contas correntes, de 3,3% para 3,1% do PIB em 2012, enquanto a projeção de 3,1% do Produto Interno Bruto não foi alterada para o próximo ano.
Uma previsão negativa, contudo, é relativa à taxa de desemprego, cuja média deste ano deve permanecer alta, em 8,2%, e baixar pouco em 2013, para 8,1%. A nova previsão é ainda maior que o patamar médio de 7,9% estimado pelo Fundo para os EUA no próximo ano.