O cenário principal traçado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia mundial até o fim de 2013 indica uma modesta aceleração da atividade, que poderá ser ajudada por alguma redução nas incertezas relacionadas à zona do euro e aos Estados Unidos. Nesse contexto, haverá continuidade da acomodação monetária nesses dois polos econômicos mundiais e gradual relaxamento das condições financeiras. E isso será acompanhado pela desalavancagem de bancos e pela redução das dívidas das famílias, o que vai estimular o paulatino avanço do consumo de bens duráveis e os investimentos, prevê o FMI, que divulgou nesta segunda-feira e o relatório Panorama da Economia Mundial.
Mas o Fundo adverte: para que esse cenário se concretize será essencial que duas suposições ocorram. Uma delas é que a zona do euro comece a andar nos trilhos, com ajustes nas economias de cada país e maior integração regional, inclusive com o estabelecimento de uma entidade única de supervisão. Isso vai melhorar a credibilidade das políticas na região e incrementar aos poucos a confiança dos investidores, o que deve reduzir gradualmente os juros soberanos, especialmente dos países da periferia. Além disso, o fluxo de capitais - hoje muito dirigido às nações mais ricas, como Alemanha, Finlândia e Holanda - deve se desconcentrar.
Uma outra suposição vital, segundo o FMI, é que as autoridades dos EUA - a Casa Branca e o Congresso - consigam evitar o temido "desfiladeiro fiscal" e elevar o teto da dívida pública, com um plano para recuperar as contas públicas de forma sustentável ao longo dos próximos anos. O desfiladeiro fiscal é um conjunto de medidas restritivas de gastos oficiais que poderiam reduzir de forma brusca o déficit público em quatro pontos porcentuais do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013. E as autoridades norte-americanas, como o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Ben Bernanke, já afirmaram que se o corte brutal de despesas oficiais ocorrer, isso poderá mergulhar o país numa recessão no próximo ano.
"No entanto, se uma das duas suposições falhar, a atividade global poderá se deteriorar de forma muito acentuada", destaca o FMI. Outro fator de risco, ressalta o Fundo, seria uma alta dos preços do petróleo provocar um novo choque. E isso provavelmente poderia surgir devido a fatores de tensão geopolítica.
Cenário de estresse
Embora ressalte que não é sua principal aposta, o FMI sugere que uma deterioração da crise na zona do euro precisa ser considerada com atenção. O Fundo tentou quantificar os impactos dessa piora através de um Modelo Integrado Monetário e Fiscal Global (GIMF, na sigla em inglês). Nesse cenário, o PIB dos principais países da zona do euro, entre eles Alemanha, França e Holanda, poderia cair ao redor de 1,75 ponto porcentual num horizonte de um ano. Na periferia daquela região, composta por Espanha, Itália, Irlanda, Portugal e Grécia, a retração do PIB seria ainda mais aguda e cairia próximo de 6 pontos porcentuais no mesmo período.
O cenário de estresse na zona do euro assume que as autoridades demorariam para adotar medidas suficientes para prevenir uma profunda deterioração das condições financeiras da região. Deste modo, a desalavancagem dos bancos europeus provocaria uma contração adicional de crédito na periferia da região de 450 bilhões de euros e de 50 bilhões de euros para os países centrais da região.
"Preocupações com a sustentabilidade fiscal elevariam os spreads soberanos da periferia em 350 pontos-base em 2013", aponta o FMI. Em tais circunstâncias, os spreads soberanos para países centrais deveriam declinar 50 pontos-base no próximo ano, em decorrência da busca dos investidores por supostos portos seguros. E essas incertezas devem difundir impactos negativos em todas as regiões do mundo, com o prêmio de risco das empresas subindo 50 pontos-base em economias avançadas e 150 pontos-base nos mercados emergentes no próximo ano.
No entanto, num cenário de ações oficiais que aliviam o estresse financeiro, o crédito na zona do euro deve crescer de forma relativa. "Nos países da periferia, os empréstimos devem subir perto de 225 bilhões de euros e os spreads soberanos devem declinar ao redor de 200 pontos-base em 2013", relata o Fundo. "Em outras economias avançadas, os spreads corporativos devem cair 50 pontos-base em 2013 e recuar 100 pontos-base nos mercados emergentes."