Com a retomada do crescimento, será preciso cuidar mais da inflação no Brasil e em outros países latino-americanos onde a alta de preços continua acima do centro da meta, recomenda o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório semestral sobre a América Latina e o Caribe. A inflação brasileira deve ficar em 5% este ano e subir para 5,1% até o fim de 2013, segundo as projeções. Para o crescimento, a estimativa é de 1,5% em 2012 e 4% no próximo ano.
Não se trata de aplicar novo arrocho, mas de cessar a tempo os estímulos adotados quando a economia perdeu impulso. No Brasil, a redução de juros iniciada em agosto de 2011 parece haver chegado ao fim com o corte de 0,25 ponto anunciado esta semana. Os anteriores haviam sido de 0,5 ponto. Conclusão semelhante à da equipe do FMI parece haver guiado o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
Com a piora da situação internacional, vários BCs suavizaram a política monetária. No Brasil houve a intenção de aproximar os juros do nível de outros emergentes, segundo o relatório. O desafio, agora, será conter as expectativas de inflação e ao mesmo tempo manter agilidade para responder a novos choques externos. Não se descarta o risco de retrocesso na União Europeia e nos Estados Unidos, nem de pouso forçado na China, embora o documento apresente um cenário básico mais favorável.
O crescimento de 3,9% projetado para a região em 2013 dependerá de retomada na Europa, de um acordo político para eliminar o risco de desastre fiscal nos Estados Unidos e de acomodação suave da economia chinesa. Os EUA são o mercado mais importante para a maioria da América Latina, mas a China tem relevância especial para os grandes exportadores de commodities, como os países do Cone Sul.
Os preços dos metais devem continuar mais fracos do que na fase recente de crescimento. Soja, do milho e do trigo devem ainda subir até o fim de 2012 e cair no próximo ano, mas ainda permanecendo em níveis bem acima dos padrões históricos, segundo o relatório.
A equipe do FMI cortou de 3,8% para 3,2% o crescimento estimado para a região neste ano, por causa da piora do quadro internacional nos últimos seis meses. A freada nas economias latino-americanas foi mais forte do que se previa. Mesmo com a suavização das políticas a partir do ano passado, os efeitos do aperto anterior permaneceram e foram reforçados pelo agravamento da situação europeia, segundo o relatório. Só bem mais tarde as medidas de afrouxamento começaram a dar resultado. No Brasil, os estímulos monetários foram reforçados recentemente com a criação de benefícios fiscais, depois de um esforço temporário de contenção de gastos.