O Centro de Belo Horizonte está prestes a viver uma verdadeira revolução. Suja, entranhada por quarteirões completamente abandonados e repleta de prédios antigos e sucateados, a região que compreende ruas como a da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo está no foco de grandes projetos de revitalização atrelados ao setor imobiliário. Já edificados, com área construída muito superior à permitida hoje pela legislação municipal e com localização privilegiada, prédios abandonados no coração da cidade atraem a atenção de investidores interessados na venda de salas e andares comerciais.
O empresário Miguel Safar Filho, diretor de Obras da Construtora Concreto, reconhece o movimento e já parte para o segundo edifício revitalizado no Centro da capital. “Na época em que esses prédios foram construídos, o coeficiente de aproveitamento do solo era maior, portanto viabilizava grandes negócios em terrenos reduzidos. O que não é possível hoje”, observa.
Depois de reformar um edifício na Rua Tupinambás, com previsão de ser inaugurado ainda este mês, a empresa se prepara para as obras do prédio vizinho ao Hotel Othon Palace, localizado na Rua da Bahia, 880. “Efetivamos a compra do imóvel, que estava fechado, em setembro. No total, são 6,5 mil metros quadrados de área construída”, calcula Safar Filho. Serão feitas mudanças nas instalações hidráulica, elétrica e dos elevadores. Estruturas para o ar condicionado, que não existem, terão de ser criadas.
Com 14 pavimentos, o empreendimento, que deverá ser concluído seis meses depois de iniciadas as obras, será totalmente comercial. “Vemos que hoje há uma demanda muito grande por imóveis comerciais com boa logística, e o Centro da cidade permite isso pelo fácil acesso”, observa o empresário. A expectativa é de que a receita mensal com locação no edifício some R$ 270 mil. “O valor do metro quadrado será de R$ 45, muito barato se comparado ao preço de imóveis em outras regiões da cidade e com o mesmo padrão de construção”, diz.
O conjunto de prédios comerciais da empresa no Centro da cidade já soma hoje receita de R$ 300 mil em aluguéis. Apesar de não revelar o valor do negócio, Safar Filho explica que estudos de viabilidade realizados pela empresa garantem paridade entre o investimento necessário para construir um empreendimento desse porte e o valor pago pelo edifício já pronto.
BoULEVARd ARRUDAS A revitalização do Hotel Beira Rio, na Avenida do Contorno, também atrai investimentos para a região. Prestes a ser inaugurado com a bandeira do Golden Tulip, o prédio deverá ganhar vizinhos ilustres. “O mesmo grupo que comprou o Golden Tulip estuda a aquisição de outros prédios na mesma região”, revela o arquiteto Bernardo FarKasVölGyi, responsável pelo projeto do hotel cinco estrelas no Boulevard Arrudas. Entre eles estaria o Internacional Plaza, na Rua Rio de Janeiro, ao lado do Golden Tulip, hoje completamente vazio. “Estamos estudando uma readequação para que se transforme em um prédio comercial”, explica Bernardo.
A expectativa é de que com a operação urbana da Avenida dos Andradas, cujo projeto de lei está previsto para sair até o fim do ano, sejam definidas regras de edificação na área. Com isso, novos anúncios de empreendimentos deverão ser feitos vislumbrando o corredor viário. “Há um terreno também próximo ao Golden Tulip que está em análise. Os empresários por sua vez, estão esperando que o poder público lance a operação urbana da região. Assim que virar realidade, os negócios vão acontecer”, prevê Bernardo.
Obras complexas para a Escola de Engenharia
Desde abril de 2011 em posse do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, o complexo de prédios da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Avenida do Contorno – entre as ruas Espírito Santo e da Bahia –, deverá ter as obras de revitalização iniciadas no primeiro semestre de 2013. Com 25,5 mil metros quadrados, a área receberá as varas de 1ª instância do Trabalho, atualmente concentradas no Fórum Lafayette, na Avenida Augusto de Lima.
“Hoje são 40 varas e no ano que vem haverá mais oito”, afirma o juiz auxiliar da Presidência do TRT, Orlando Tadeu de Alcântara. A previsão é de que a área receba fluxo médio de 7 mil a 8 mil pessoas que passam pelo fórum diariamente. O projeto já foi concluído e remetido para aprovação da prefeitura, devendo ser liberado ainda este ano. “Assim que for aprovado, serão iniciada as obras, previstas para o início de 2013”, afirma Alcântara.
Por conta da complexidade do projeto, considerando que se trata de uma área tombada pelo patrimônio histórico, o fim das obras não deve ocorrer em menos de dois a três anos. O custo da construção ainda não foi estimado, mas segundo Alcântara, não será um empreendimento barato. “Por isso, pretendemos trabalhar parcerias com instituições financeiras”, observa.
Além dos prédios, todo o quarteirão que compreende as Ruas Espírito Santo, da Bahia e Guaicurus será revitalizado. “É uma região hoje degradada e estamos propondo a restauração de uma área significativa, garantindo maior segurança ao entorno. Por isso, acreditamos que há grande interesse do poder público”, avalia Alcântara. Com o movimento de restauração, a expectativa é de que novos empreendimentos sejam atraídos para a área, hoje frequentemente reconhecida pelos prostíbulos e boemia da cidade.