O brasileiro está pagando menos para tomar empréstimo. Com os seguidos cortes nos juros básicos, que estão no menor patamar histórico, em 7,25% ao ano, as taxas cobradas pelas instituições financeiras ao conceder crédito também ficaram mais baixas para o consumidor. Em pouco mais de um ano de quedas da Selic, o custo médio das seis principais linhas de financiamento disponíveis ao consumo caiu 24,28 pontos percentuais. Saiu de uma taxa anual de 121,21% ao ano, em julho de 2011, para uma média de 96,93% em setembro de 2012. No mesmo período, os juros básicos caíram 5 pontos percentuais. Os dados constam de um estudo divulgado ontem pela Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Até o rotativo do cartão de crédito ficou mais barato. Após permanecerem inalterados por 33 meses consecutivos em elevadíssimos 238,30% ao ano, os juros cobrados do cliente que deixa de pagar a fatura cheia do cartão caíram para 228,17% ao ano, em setembro. Mesmo com a redução, o Brasil permanece no topo do ranking dos países com maiores taxas de juros no cartão entre países da América Latina.
A queda das taxas durante o período foi disseminada. Atingiu primeiramente as linhas em que os bancos têm maior garantia de retomar pelo menos parte do dinheiro de volta, em caso de calote, como o crédito habitacional, o financiamento de veículos e até o chamado crédito consignado — em que o salário que cai na conta do cliente acaba indo direto para o pagamento das prestações. Apenas no financiamento de veículos pelo Crédito Direto ao Consumidor (CDC), a redução foi de 12,33 pontos percentuais de julho de 2011 até setembro deste ano. A taxa média saiu de 32,46% ao ano para 20,13%.
A queda vem sendo sentida no bolso do consumidor. Antes de o BC começar a reduzir a Selic, um fogão que custasse R$ 500, por exemplo, sairia por R$ 852,31 ao fim de um financiamento de 12 meses. Agora, o mesmo produto acaba custando R$ 781,79 no mesmo prazo — uma redução de R$ 5,88 em cada prestação. O Brasil, no entanto, ainda tem juros elevadíssimos porque as taxas cobradas por bancos e financeiras não variam somente em função da mudança da Selic. O chamado spread bancário (diferença entre o custo de captação e de aplicação de recursos pelos bancos) depende de vários fatores.
Soma-se a isso o fato de o Brasil ter um índice também elevado de calotes nas operações de crédito. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o país tem um dos índices mais altos de inadimplência da América Latina, de 3,6%. Em ordem decrescente, Equador (3,2%), Peru (3%), Colômbia (2,4%), Chile (2,2%), México (2,2%) e Paraguai (2%) contabilizam atrasos menores no pagamento de compromissos financeiros do que o Brasil. O cálculo leva em conta todo o crédito disponível no sistema financeiro e não diferencia o calote de pessoas e de empresas.
Bola de neve
A desinformação de parte dos consumidores eleva o nível do calote. É que muitas vezes o consumidor não sabe que as linhas de financiamento mais fáceis de acessar, como o cheque especial e o cartão de crédito, são também as mais caras. Foi o que aconteceu com a secretária Érika Lima, 31 anos. Sem ter noção de quão elevadas são as taxas cobradas nessas modalidades de crédito, ela foi vendo crescer a dívida. "Eu sempre utilizava os limites do cartão e do cheque como se fossem parte da minha renda do mês. Ia pagando o mínimo e jogando a conta para depois", lembra. Ao entrar no rotativo, Érika foi postergando o pagamento integral do cartão, o que se tornou um grande problema quando o débito chegou a R$ 2,5 mil. "Virou uma bola de neve. Tive que ir ao banco e pedir para cancelar meu cartão de crédito. Depois, financiei a dívida e fiquei dois anos e meio pagando", conta.
Ao renegociar os débitos, Érika viu que as taxas eram maiores do que imaginava. "São caríssimas. Por isso eu nem me arrisco a manter um limite alto como tinha antes. Agora, gasto só R$ 300, diferente dos R$ 3 mil que eu tinha antes de ter estourado o cartão", disse ela. Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Braz, o fato de os consumidores continuarem usando o crédito de maneira intensa vai contribuir para que os juros permaneçam altos no mercado ainda por muito tempo. "É uma questão de oferta e de procura. Tem muita gente procurando obter crédito, mesmo com taxas ainda em patamares elevados", observou.
Segundo o economista da FGV, o mercado só vai reduzir os encargos financeiros no momento em que o consumidor ficar mais exigente e passar a negociar taxas mais baixas com as instituições. "O consumidor tem à disposição a portabilidade de crédito e, como os bancos públicos estão liderando a queda dos juros, se ele for cliente de uma instituição privada terá condições de obter taxas melhores se ameaçar mudar de banco", ensinou.
Para Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, o fato de os bancos estarem mais seletivos ao conceder crédito pode ajudar a reduzir o calote. "As novas operações estão com uma qualidade melhor. E isso vai fazer com que a taxa de inadimplência comece a cair", disse. Ele lembra que a taxa média está em 7,9% desde maio deste ano. "O próximo movimento é de queda", acredita.
A queda das taxas durante o período foi disseminada. Atingiu primeiramente as linhas em que os bancos têm maior garantia de retomar pelo menos parte do dinheiro de volta, em caso de calote, como o crédito habitacional, o financiamento de veículos e até o chamado crédito consignado — em que o salário que cai na conta do cliente acaba indo direto para o pagamento das prestações. Apenas no financiamento de veículos pelo Crédito Direto ao Consumidor (CDC), a redução foi de 12,33 pontos percentuais de julho de 2011 até setembro deste ano. A taxa média saiu de 32,46% ao ano para 20,13%.
A queda vem sendo sentida no bolso do consumidor. Antes de o BC começar a reduzir a Selic, um fogão que custasse R$ 500, por exemplo, sairia por R$ 852,31 ao fim de um financiamento de 12 meses. Agora, o mesmo produto acaba custando R$ 781,79 no mesmo prazo — uma redução de R$ 5,88 em cada prestação. O Brasil, no entanto, ainda tem juros elevadíssimos porque as taxas cobradas por bancos e financeiras não variam somente em função da mudança da Selic. O chamado spread bancário (diferença entre o custo de captação e de aplicação de recursos pelos bancos) depende de vários fatores.
Soma-se a isso o fato de o Brasil ter um índice também elevado de calotes nas operações de crédito. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o país tem um dos índices mais altos de inadimplência da América Latina, de 3,6%. Em ordem decrescente, Equador (3,2%), Peru (3%), Colômbia (2,4%), Chile (2,2%), México (2,2%) e Paraguai (2%) contabilizam atrasos menores no pagamento de compromissos financeiros do que o Brasil. O cálculo leva em conta todo o crédito disponível no sistema financeiro e não diferencia o calote de pessoas e de empresas.
Bola de neve
A desinformação de parte dos consumidores eleva o nível do calote. É que muitas vezes o consumidor não sabe que as linhas de financiamento mais fáceis de acessar, como o cheque especial e o cartão de crédito, são também as mais caras. Foi o que aconteceu com a secretária Érika Lima, 31 anos. Sem ter noção de quão elevadas são as taxas cobradas nessas modalidades de crédito, ela foi vendo crescer a dívida. "Eu sempre utilizava os limites do cartão e do cheque como se fossem parte da minha renda do mês. Ia pagando o mínimo e jogando a conta para depois", lembra. Ao entrar no rotativo, Érika foi postergando o pagamento integral do cartão, o que se tornou um grande problema quando o débito chegou a R$ 2,5 mil. "Virou uma bola de neve. Tive que ir ao banco e pedir para cancelar meu cartão de crédito. Depois, financiei a dívida e fiquei dois anos e meio pagando", conta.
Ao renegociar os débitos, Érika viu que as taxas eram maiores do que imaginava. "São caríssimas. Por isso eu nem me arrisco a manter um limite alto como tinha antes. Agora, gasto só R$ 300, diferente dos R$ 3 mil que eu tinha antes de ter estourado o cartão", disse ela. Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Braz, o fato de os consumidores continuarem usando o crédito de maneira intensa vai contribuir para que os juros permaneçam altos no mercado ainda por muito tempo. "É uma questão de oferta e de procura. Tem muita gente procurando obter crédito, mesmo com taxas ainda em patamares elevados", observou.
Segundo o economista da FGV, o mercado só vai reduzir os encargos financeiros no momento em que o consumidor ficar mais exigente e passar a negociar taxas mais baixas com as instituições. "O consumidor tem à disposição a portabilidade de crédito e, como os bancos públicos estão liderando a queda dos juros, se ele for cliente de uma instituição privada terá condições de obter taxas melhores se ameaçar mudar de banco", ensinou.
Para Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, o fato de os bancos estarem mais seletivos ao conceder crédito pode ajudar a reduzir o calote. "As novas operações estão com uma qualidade melhor. E isso vai fazer com que a taxa de inadimplência comece a cair", disse. Ele lembra que a taxa média está em 7,9% desde maio deste ano. "O próximo movimento é de queda", acredita.