Boa parte da economia dos brasileiros com energia elétrica durante o horário de verão – cerca de R$ 282 milhões, segundo estimativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – já tem destino certo: as mesas de bares e restaurantes. Pelo menos é o que espera o setor, que já estima um aumento de vendas de até 80% com o ganho de uma hora a mais de luz do sol. À meia-noite de hoje, todos os relógios devem ser adiantados em uma hora em 11 estados brasileiros, além do Distrito Federal.
“As pessoas não querem ir para casa de dia e ficam mais animadas a sair para tomar um chope”, explica o gerente operacional da choperia Albano’s, Adorir Gracia. O happy hour, encontro entre amigos na sequência do expediente, deve começar mais cedo. “Se antes as pessoas chegavam a partir das 19h, agora às 17h30, já começa o movimento, porque os clientes vêm direto do trabalho”, explica Adorir. Para garantir lotação máxima, os estabelecimentos investem em promoções e renovam o cardápio.
Foi o que fez o restaurante Oak, localizado no burburinho da Rua Curitiba com Bárbara Heliodora, em Lourdes, Região Centro-Sul. Conhecido pelas receitas sofisticadas do chef e proprietário da casa Bruno Albergaria, o Oak teve que se adaptar para atrair o público que chega a partir das 17h30 e não quer jantar. Os pratos agora dividem espaço com petiscos, que combinam mais com a ocasião.
“São preparados com carnes nobres para a pessoa beliscar alguma coisa enquanto toma chope”, afirma Bruno, que não perdeu tempo e já começou a promoção de bebidas. “Tem uma semana que a promoção de happy hour está em andamento. De terça a sexta temos rodada dupla de chope Stella Artois e de caipivodca. O chope acaba saindo por menos de R$ 3 cada um”, explica o empresário, que calcula movimento até 40% maior nos próximos meses.
Os vizinhos Maria de Lourdes e Tizé, do outro lado da rua, também já estão no clima dos dias prolongados que começam amanhã. Na expectativa de que o movimento aumente entre 30% e 35%, promoções de bebidas virão por aí. “No Maria de Lourdes, fizemos rodada dupla de chope no ano passado. Agora, estamos pensando em fazer alguma ação com drinks à base de vodca. A carta está sendo preparada e fica pronta na próxima semana”, afirma Alisson Lessa, sócio gestor do Grupo O Dádiva, que administra o Tizé, Maria de Lourdes, Sorriso e Hokon.
Neste último, é no delivery que o cliente sai ganhando. “Quem pedir um prato, por exemplo o yakissoba, leva seis latinhas de Stella Artois”, afirma Lessa. No total, o grupo deve desembolsar cerca de R$ 25 mil com as companhas promocionais das casas, de olho no fluxo trazido pelo horário de verão. Somado aos eventos comemorativos, o faturamento do setor pode até dobrar até o final do ano, segundo estimativas da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG).
No bar e restaurante Mes Amis tem promoção todo dia. De segunda a quinta, das 18h às 20h, é dia da rodada dupla de chope. Terça é a vez de pedir uma caipi e ganhar a segunda. Tem até taça de espumante de graça na compra do prato principal. “Como o dia vai ficar mais extenso, queremos dar opções para as pessoas curtirem o happy hour”, afirma o proprietário Guilherme Cruz
De olho no céu
Para dobrar as vendas, os empresários contam com a ajuda do tempo, que no ano passado decepcionou o setor. “Também esperávamos crescimento de 30% no faturamento, mas o que aconteceu mesmo foi uma queda de 60%”, lembra Alisson Lessa. A chuva nos meses de novembro e dezembro não deram trégua e durante vários dias ela insistiu em cair justamente no encerramento do expediente, por volta das 17h. “Quando chove à noite, não tem problema. As pessoas já estão na casa e acaba tendo pouco impacto. Mas quando é na saída do trabalho, as pessoas acabam não tendo disposição para ir ao bar”, observa Lessa.