Protesto ameaça a oferta de gás

Paralisação dos funcionários das companhias de distribuição e engarrafamento de gás liquefeito de petróleo (GLP) põe em risco o abastecimento do produto em Minas. Em desacordo com a proposta oferecida pelas empresas do setor, a categoria decidiu paralisar a entrega de botijões ontem e hoje e, com isso, revendas ficaram com estoques quase zerados. Hoje, caso seja mesmo mantida a parada, boa parte das revendas deve ficar sem condições de entregar, deixando desde a dona de casa até bares e restaurantes sem botijão de gás. O Sindigás, que representa as empresas distribuidoras, diz que não há indícios de desabastecimento.

Três manifestações ocorreram ontem na Região Metropolitana de Belo Horizonte em frente a sede das quatro principais empresas de distribuição (Supergasbrás, Liquigás, Ultragás e Copagaz), impedindo que fosse feita a distribuição dos botijões. As revendas foram orientadas a nem mesmo mandar caminhões para as distribuidoras, pois não seria feita a entrega. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo de Minas Gerais (Sitramico-MG), mais de 1 mil trabalhadores participaram.

Como as revendas mantém estoque mínimo de botijões (só é permitido manter volume igual a capacidade autorizada pelo alvará do Corpo de Bombeiros), é preciso fazer pedido para as distribuidoras no máximo a cada três dias. Considerando que a maioria desconhecia a paralisação, poucos também anteciparam os pedidos e, com isso, estão próximos de o estoque encerrar. No Aquino Gás, na Avenida dos Andradas, a previsão é que nova remessa seja entregue só segunda-feira, com isso, amanhã já não haverá estoque. “As pessoas vão ter que procurar muito para encontrar uma revenda que ainda terá o produto”, afirma o proprietário da Aquino Gás, Sebastião Coelho Machado.

Cenário ainda mais crítico é percebido na Comercial Gazzi, no Bairro Buritis. Até o início da noite de ontem restavam menos de 40 unidades e a expectativa é sw que todos fossem vendidos até o começo da manhã de hoje. Em média, são vendidos 100 botijões por dia. Com o problema, inclusive, a direção antecipou-se e decidiu não abrir amanhã. “Nossa carga seria entregue ontem. Hoje já vai esgotar”, afirma Fernando Azzi. Na Cia do Gás, responsável pela entrega em bairros da Região Centro-Sul, a previsão é que hoje sejam encomendados os produtos restantes. “Se não entregar hoje, vamos ficar na mão”, adverte a empresária Marilda Ribeiro Freire, que diz que revendas vizinhas também já entraram em contato solicitando botijões.

Reivindicação

Os empregados das distribuidoras pedem aumento salarial de 9% e participação nos lucros e resultados de 200%. Em contrapartida, a oferta dos patrões é de 5,86% mais 100% de PLR. Em assembleia na segunda-feira, a categoria chegou a aprovar estado de greve, que pode ser deflagrado a qualquer momento caso não haja avanço nas negociações. Segundo o presidente do Sitramico-MG, Fernando Freitas, os empregados aguardam uma nova rodada de negociação para hoje. “Os trabalhadores não estão dispostos a negociar mais. Nosso pedido inicial era de 15%, abaixamos para 10% e agora para 9%”, afirma Freitas, ressaltando que houve adesão de 90% dos empregados e que em casos mais graves, como de hospitais, os manifestantes permitiram que fosse feita a entrega do GLP.

Em nota, o Sindigás afirma que em setembro a entidade ofereceu reajustes salariais com ganhos reais e PLR e as reivindicações estão “muito acima da capacidade financeira para o pleito”. O sindicato patronal diz ainda que o participação nos lucros de anos anteriores está em acordo com os resultados financeiros e que nesse anos os lucros foram inferiores. “O Sindigás lamenta que a paralisação coloque em risco o abastecimento de um produto essencial para a sociedade”, diz nota.