Devido ao pouco tempo que ainda resta para acelerar o processo de qualificação das crianças e dos jovens e resolver problemas como erradicação da pobreza e de infraestrutura – 15 anos, segundo especialistas –, são necessárias políticas públicas certeiras para gerar emprego de qualidade e melhorar a educação e o sistema de saúde mais rapidamente, na avaliação do professor do mestrado em estudos populacionais e pesquisas sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE, José Eustáquio Diniz.
Segundo ele, o país aproveitou em parte o bônus demográfico, quando promoveu na última década melhor distribuição de renda e redução da pobreza. Foi o resgate de uma dívida social que vem dos tempos do milagre econômico na década de 60, quando o Brasil cresceu a taxas altas, em torno de 7% ao ano, mas com aumento da concentração de renda e da pobreza.
Diniz ressalta, porém, que a nação também desperdiçou o momento de avançar mais rapidamente na escolarização da população. "Os indicadores melhoraram, é preciso reconhecer. A maior parte das crianças está na escola, o analfabetismo diminuiu e aumentou a quantidades dos que têm curso superior, mas o avanço foi lento. Precisamos ser mais rápidos para enfrentar melhor o envelhecimento da população", afirma. Ele alerta que depois que acabar o período do bônus demográfico, a situação ficará mais difícil. "Se não chegamos até pelo menos 2030 com esses problemas básicos resolvidos, acumularemos problemas históricos com maiores gastos advindos do envelhecimento da população", observa Diniz.
QUALIFICAÇÃO
Não foi o que aconteceu até agora. A maior disponibilidade de pessoal para o trabalho não foi acompanhada de aumento de produtividade. O crescimento da atividade econômica resultou na elevação da demanda de mão de obra, porém, sem encontrar trabalhadores preparados, a indústria, o comércio e o setor de serviços recorreram aos que estavam fora do mercado, sem qualificação. Com pouco preparo, rendem menos no serviço, e a produtividade é menor. Enquanto isso, uma parcela da população já começou a se preparar para um mercado de trabalho mais qualificado. (veja depoimentos abaixo).
Foco no exterior
Mesmo sem definir a carreira que quer seguir, o estudante Rafael Boaventura Lopes, de 17 anos, tem certeza que a vivência no exterior e a fluência em inglês são fundamentais para qualquer profissional. Por isso, procurou a STB para fazer intercâmbio de um mês em Cambridge, no Reino Unido, e se prepara para embarcar em janeiro de 2013. “A língua é essencial em qualquer profissão e já penso em fazer outras, como o alemão, já que a economia é uma das mais fortes da Europa e vai despontar”, prevê. Os planos não param por aí. “Vou fazer uma especialização na minha área no exterior”, planeja.
Guinada na carreira
Sem grandes expectativas na área de fisioterapia na qual formou em 2009, Raíssa Oliveira Müller, resolveu começar de novo. “Trabalhei na minha área, fiz estágio, mas não tive gana para crescer na profissão. Foi aí que descobri a engenharia de produção civiil”, conta. Em pesquisas, ela percebeu que teria mais oportunidades diante do mercado cada vez mais amplo. No quarto período, ela já atua na área. “Comecei um estágio como assistente de engenharia e trabalho como suporte no pós-venda. Hoje estou mais segura e me vejo trabalhando como engenheira no longo prazo”, afirma.
Na ativa total
Com 54 anos, o engenheiro José Fernando Lima Araujo se aposentou, mas nunca ficou parado. Durante alguns anos, prestou consultorias na área de telecomunicações, o que não foi suficiente para suprir a sua vontade de voltar a atividade. Em 2010, retornou ao mercado de trabalho com força total, e passou a coordenar uma equipe de 30 pessoas na Telbrax, operadora de telecomunicações. Hoje, com 63 anos, não pensa em parar mais. “Enquanto tiver saúde e disposição vou me entregar a esse trabalho. É muito bom estar sendo bem aproveitado”, comemora.
Curso por emprego
Durante muitos anos na área de prótese dentária, Viviane Batista, hoje com 35 anos, resolveu abandonar a profissão há quatro anos para correr atrás de um desejo: trabalhar com moda. Deste então, procura oportunidades de emprego, mas a procura não foi bem sucedida. Diante da dificuldade, ela resolveu encarar o curso de consultoria de imagens no Senac e se dedicar ao mercado de moda, com o qual sempre teve grande afinidade. “É o que gosto de fazer. O curso dura dois meses e, assim que terminar, vou buscar vagas na área”, planeja.