A menos de um mês de receber a primeira parcela do 13º salário, os consumidores brasileiros devem arregaçar as mangas para pôr as contas em ordem, preparando o bolso para um fim de ano sem sustos. Especialistas em finanças pessoais ouvidos pelo Estado de Minas afirmam que outubro é o momento de listar as dívidas e as despesas que deverão ser encaradas no Natal e na virada do ano, sem esquecer impostos como IPVA e IPTU e despesas escolares dos filhos. A ideia é distribuir o rendimento de forma proporcional às despesas. Para isso, é preciso começar agora a listar os compromissos, fazendo uso racional dos recursos que serão recebidos no fim do ano.
Fábio Morais, professor de educação financeira da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), explica que o balanço financeiro deve começar com uma pergunta básica: está sobrando dinheiro no fim do mês ou não? “É preciso primeiro entender qual é a sua situação financeira, para então se planejar para o Natal. Se está faltando dinheiro e a pessoa não conseque pagar as contas, será necessário um plano para pôr a casa em ordem”, avisa. Isso significa cortar gastos, verificar as razões da situação de endividamento e priorizar despesas com o objetivo de cumprir os compromissos assumidos. Se a conclusão é de que não há como pagar, será preciso averiguar a possibilidade de fazer a troca das dívidas por empréstimos com juros menores.
O primeiro passo para sair do sufoco, segundo os professores de finanças pessoais, é fugir do rotativo do cartão de crédito e do cheque especial, que em Belo Horizonte em 2012 estão cobrando taxas médias de 300% e 140%, respectivamente. Isso quer dizer que uma dívida de R$ 12 mil no cartão de crédito em 1º de janeiro de 2012 se transformará num rombo de R$ 36mil no fim do ano. O bolo do endividamento cresce com o fermento do juros do cheque especial. Nesse caso, a pessoa que entrou o ano devendo R$ 12 mil nessa modalidade e não conseguiu pagar vai encerrar o exercício devendo R$ 16.800. ”Uma das saídas é contratar crédito pessoal com prestação fixa e assim quitar o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito. Para trabalhadores com carteira assinada, funcionários públicos e aposentados, o crédito consignado pode ser uma boa alternativa”, diz Morais.
Primeiro passo
A operadora de telemarketing Patrícia Silva já deu o primeiro passo para se livrar do endividamento antes do Natal. Como está com o nome listado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), fez um levantamento das dívidas e planeja negociar com os credores porque acredita que a tendência é de eles cobrarem juros menores neste período do ano. “Quero quitar o resto das minhas dívidas. Espero negociar com o Itaú, as Casas Bahia e a Losango. Preciso fazer isso não só para poder comprar no Natal, mas também para regularizar minha vida financeira”, diz. O agente de relacionamento Allen Moreira teve o nome negativado por conta de uma dívida com a faculdade. Agora, vai trancar a matrícula e renegociar o débito, que será quitado em janeiro de 2013. “Com meu planejamento, vou tirar o meu nome do cadastro negativo”. Moreira afirma que sua situação financeira ficou desestabilizada por conta do excesso da oferta de crédito. “A gente é seduzido todos os dias. É difícil ter coragem para pôr os gastos no papel porque só gasto com coisas básicas”.
Para Jurandir Macedo, consultor de Finanças Pessoais do Itaú e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma das maiores dificuldades das pessoas em lidar com dinheiro é que elas dão valor excessivo ao presente e pouco valor ao futuro distante. “O dinheiro é carente. Se você não der atenção, ele vai embora. É como um namorado ou uma namorada. O controle financeiro começa quando você coloca todos os gastos numa planilha”.
Cuidado com despesas do início do ano
“As pessoas estão se planejando para o Natal, mas vão chegar em janeiro a zero”, prevê Jurandir Macedo, consultor de Finanças Pessoais do Itaú e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Isso acontece, segundo ele, porque o ser humano acredita que o dinheiro traz felicidade. De acordo com Macedo, um dos erros mais comuns é usar o dinheiro para conquistar amor. “Muitas pessoas dão presentes caros na tentativa de serem amadas. Mas é preciso lembrar que no Natal, menos é mais. O excesso de estímulo (presentes) às crianças, por exemplo, vai fazer com que elas no futuro nem se lembrem dos momentos natalinos”. A recomendação, segundo ele, não é deixar de gastar no Natal, mas gastar sem exageros.
Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian, diz que a inadimplência no Brasil vai continuar caindo até o fim do ano e deverá entrar em 2013 ainda em queda. De acordo com ele, essa é uma boa hora para renegociar dívidas, evitando se endividar de novo no Natal. “Os consumidores devem ter em mente que vão renegociar as dívidas para terem tranquilidade mais adiante e não para entrarem no sufoco novamente. “Boa parte das pessoas já puseram o pé no freio do endividamento no terceiro trimestre do ano passado. São consumidores que hoje já estão numa situação financeira melhor”, explica.