A rentabilidade dos dois maiores bancos privados do País caiu aos níveis da década de 90, segundo levantamento da Economática feito com base nos resultados do terceiro trimestre. No Itaú, que apresentou na terça-feira (23) seus números, o retorno de 17 8% foi o mais baixo desde o quarto trimestre de 1997. No Bradesco, os 18,4% reportados na segunda-feira (22). representam o menor nível desde o quarto trimestre de 1999.
Esses dados confirmam a expectativa dos investidores de que os bancos brasileiros não vão mais conseguir manter os níveis de rentabilidade que vigoraram nos últimos anos - em algumas ocasiões, ao redor dos 40%, como ocorreu com o Itaú no terceiro trimestre de 1999.
O cenário que explica a queda dos retornos é formado por 1) redução da taxa básica de juros (Selic) para os níveis mais baixos da história do Brasil, 2) pressão do governo por cortes nas taxas cobradas nos empréstimos e nas tarifas e 3) aumento dos índices de inadimplência nos últimos meses.
Os dois primeiros fatores são estruturais e o terceiro deve ser conjuntural, como os próprios balanços de Itaú e Bradesco mostraram. Ambos apontaram que os indicadores de calote começam a cair e devem manter essa tendência nos próximos meses.
“Daqui para a frente, deveremos ter um nível de rentabilidade entre 17% e 19% para os grandes bancos de varejo”, afirmou o analista de bancos da Lopes Filho Consultoria, João Augusto Frota Salles. “São números inferiores aos dos últimos anos, mas não podemos esquecer que, diante da taxa básica de juros de 7 25% ao ano atualmente, é um retorno bem interessante.”
Na terça-feira (23), o diretor corporativo de controladoria do Itaú, Rogério Calderón, disse que a rentabilidade da instituição tende a melhorar nos próximos trimestres. Ele não citou nenhum número específico, mas argumentou que a melhora é esperada pela tendência de redução dos índices de inadimplência e pela maior eficiência do banco.
A eficiência, segundo ele, vai mostrar avanço em razão de medidas tomadas para que os custos cresçam em menor velocidade do que as receitas. A estratégia passa pelo aumento da participação de linhas de crédito com menor risco de inadimplência (como consignado e imobiliário), pelo aumento da quantidade de operações (escala) e pelo compartilhamento de serviços com outras instituições.
Na segunda-feira (22), o diretor executivo do Bradesco, Luiz Carlos Angelotti, também citou a necessidade de aumento de escala e de eficiência para compensar os fatores que pressionam para baixo a rentabilidade. Angelotti disse ainda que considera razoável que o retorno fique entre 18% e 20% nos próximos anos. Nos últimos 30 dias, as ações do Itaú acumulam perda de 15,7% na Bolsa de Valores de São Paulo e as do Bradesco, de 11,5%.