A taxa de desemprego na Grande Belo Horizonte caiu de 4,3%, em agosto, para 4% em setembro, o que representou a entrada de 5 mil pessoas no mercado de trabalho e garantiu o segundo melhor índice nos 10 anos da série histórica. O menor percentual foi em dezembro de 2011 (3,8%), mas é possível que o recorde seja batido nos próximos meses, devido ao início do período das vagas temporárias abertas para o comércio de fim de ano. No Brasil, o indicador registrou suave variação, de 5,3% para 5,4%. Ainda assim, é o melhor resultado para o mês de setembro. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De um lado, o baixo nível dos indicadores nacional e regional, impulsionados principalmente pelos empregos com menores vencimentos, estimula a economia. De outro, cria um cenário recheado de desafios para o empresário, pois alguns setores sofrem para encontrar mão de obra qualificada. “Há duas situações. Na hipótese de empregar funcionários com baixa ou nenhuma qualificação, é preciso investir em treinamento. Porém, no caso de o empresário optar por não contratar (para não custear treinamento), terá de arcar com horas extras de funcionários antigos”, observa Hegel Botinha, diretor comercial do Grupo Selpe.
Em outras palavras, completa o economista Gabriel de Andrade Ivo, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), “o empresário vive um dilema: é difícil encontrar mão de obra qualificada e, quando consegue, é preciso pagar um alto salário”. Essa constatação é reforçada pelo aumento do rendimento médio do trabalhador da Grande BH, que fechou setembro em R$ 1.772,00. A cifra é 9,3% superior à de igual mês do ano passado. O percentual supera a inflação no acumulado dos últimos 12 meses (5,72%) na região, segundo o IBGE.
“Isso é uma tendência, como ocorreu nos países desenvolvidos. Os empresários vão ter mais dificuldade em lidar com essa situação”, prevê o economista da Fecomércio. Sócio do Xico da Carne, Rodrigo Nascimento já enfrenta essa dificuldade. Há cerca de cinco anos, quando a taxa de desemprego em BH estava em torno de 7,5%, ele implantou algumas medidas para segurar os colaboradores: “O que segura empregado não é só salário. Investimos em premiações, plano de saúde, participação no lucro. Mesmo assim, encontramos dificuldades na contratação”.
“Na pele”
O Xico da Carne, que pretende abrir de 20% a 30% de vagas temporárias esse ano, optou por empregar pessoas sem experiência. O gasto com treinamento, porém, não é barato. “Fazemos um treinamento específico e, depois de um mês, a pessoa está preparada”, disse Rodrigo, destacando que, em média, o salário de seus colaboradores foi reajustado em 10% nos últimos 12 meses. Levando-se em conta alguns benefícios, como o plano de saúde, esse percentual sobe para cerca de 30%, de acordo com seus cálculos. Ainda assim, lamenta: o risco de perder o funcionário para os concorrentes é grande.
Leonardo Marques, dono do Boteco da Carne, do Gonzaga e do Monjardim, sabe muito bem disso. Há poucos meses, com objetivo de aumentar a qualificação de seus empregados, ele ofereceu curso de inglês para os funcionários. “Apenas quatro aceitaram. Um já desistiu. Em relação à concorrência, pago uma remuneração muito boa. Mesmo assim, está difícil de contratar pessoas”, lamenta o comerciante, dizendo que o financiamento de cursos de capacitação, como o de língua estrangeira, é uma jogada de risco. “(Para não perder esses empregados para a concorrência), temos de contar com a boa índole da pessoa, com o sentimento de que ela deseja crescer junto com a empresa.”
Problema chega a classe média
A falta de mão de obra também prejudica a classe média. Muitas famílias vêm perdendo babás, empregadas domésticas e outras funções afins para setores como padarias, supermercados e restaurantes. Em setembro de 2004, a parcela de domésticos na Grande BH correspondia a 9,1% das pessoas ocupadas. No mesmo mês de 2011, o percentual havia caído para 7,2%. Agora, recuou para 6,4%. Em nível nacional, esses percentuais foram, respectivamente, de 8,1%, 6,8% e 6,7%.
Resultado: o relatório do IBGE concluiu que, “na classificação por grupamentos de atividade, o maior aumento no rendimento médio real habitualmente recebido em relação a setembro de 2011 foi de 6,6%, referente a serviços domésticos”. A jovem Valquíria Gonçalves Costa, de 21 anos, já ajudou a mãe em tarefas em casas de família. Em junho último, conseguiu uma vaga de atendente de souvenirs no restaurante e choperia Pinguim. Dois meses depois, conta ela, foi promovida a operadora de caixa. “É uma diferença grande. Tenho carteira de trabalho, fundo de garantia e um bom salário, de R$ 963.”
Erick Batista de Souza, de 20, também trabalha lá. Ele deixou Itanhomim, sua terra natal, em fevereiro. “Consegui emprego rapidamente. No interior, tirava leite e cuidava da criação. Aqui, comecei como faxineiro. Três meses depois fui promovido a auxiliar de balcão”, disse o rapaz, que planeja voltar a cursar o ensino fundamental em 2013.
“Optamos por contratar pessoas inexperientes para lapidá-las. (Nossas vendas) devem crescer de 25% a 30% entre 2012 e 2011. Um dos motivos é a implantação, em março, do serviço de buffet no almoço”, comemora o gerente do local, George Alves, que começou na empresa, há 18 anos, como lavador de pratos. (PH)
Rendimento fica estável no país
O rendimento médio no Brasil, que ficou abaixo do apurado na Grande Belo Horizonte (R$ 1.772,00), se manteve praticamente estável entre setembro e agosto. O resultado, de R$ 1.771,20, representou alta de apenas 0,1%. Em relação ao mesmo mês de 2011, porém, o acréscimo foi de 4,3%. O maior resultado em setembro foi apurado na Região Metropolitana de São Paulo (R$ 1.889,90). Já o menor ocorreu na Grande Recife (R$ 1.301,60).
“Assim como no último mês, os empregados com carteira assinada voltaram a puxar o desempenho mais favorável dos rendimentos, com alta também de 4,3% na comparação interanual. Entretanto, a aceleração em relação a agosto deveu-se, em grande medida, ao avanço de 6% nos ganhos dos trabalhadores do setor público, na mesma métrica”, avaliou Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.
Na Grande BH, o setor privado continua sendo o que mais contribuiu para o mercado de trabalho. Nele, o percentual foi de 48,8% para os funcionários com carteira de trabalho assinada e de 10,4% para os que não gozam desse documento. Militares e funcionários públicos, por sua vez, representaram 7,5%. Os que trabalham por conta própria somaram 16,8%.
Em nível nacional, segundo os técnicos do IBGE, “na classificação por categorias de posição na ocupação, o maior aumento no rendimento médio real habitualmente recebido em comparação com setembro do último ano foi para os trabalhadores por conta própria (7,7%)”. (PH)