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Estado de Minas

Gargalo logístico pesa no caixa das empresas

Deficiência nas estradas e falta de integração do sistema levam setor produtivo a gastar até 22,69% da receita bruta com o deslocamento de produtos e matérias-primas no país


postado em 31/10/2012 06:00 / atualizado em 31/10/2012 07:33

Tempo de espera nos terminais portuários do país eleva custo dos transportadores(foto: CARLOS NOGUEIRA/A TRIBUNA %u2013 9/2/08)
Tempo de espera nos terminais portuários do país eleva custo dos transportadores (foto: CARLOS NOGUEIRA/A TRIBUNA %u2013 9/2/08)
O gargalo logístico brasileiro consome até 22,69% da receita bruta de setores da cadeia produtiva nacional. A associação de estradas em condições precárias com a falta de integração dos modais de transporte obriga empresas a dispor de verba bilionária para deslocar produtos e matéria-prima no território nacional, segundo estudo inédito da Fundação Dom Cabral (FDC). Os setores de bens de capital, construção e mineração são os três que mais têm ônus com logística, tendo custo superior à média de 13,14% registrada entre as companhias consultadas.

O estudo tem como finalidade avaliar os custos logísticos no país. Elaborado com 126 empresas (incluem-se na lista Petrobras, Vale, Fiat e outras de grande porte), que juntas têm faturamento equivalente a um quinto do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o trabalho indica as causas do aumento dos gastos com logística. O transporte de longa distância corresponde a 38% da composição do custo de transporte dos produtos. O principal motivo para esse elevado gasto é a condição ruim das estradas. Esse aspecto é apontado por 54,5% dos entrevistados como fator-chave no aumento do custo.

A solução para a redução desse gasto, no entanto, não está apenas no investimento em infraestrutura rodoviária e, sim, na melhor gestão das ferrovias com integração multimodal, segundo mais de 70% dos entrevistados. “As empresas estão conscientes que mesmo se melhorar as rodovias a concentração de carga mantém o preço em alta por causa do monopólio do frete. É preciso ter maior concorrência entre os modais de transporte para reduzir o custo”, afirma o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da FDC, Paulo de Tarso Resende.

Na sequência do estudo, outros dois fatores são citados como primordiais para aumento de custo: a burocracia governamental e a restrição de carga e descarga em grandes centros urbanos. Os dois fatores são citados, respectivamente, por 51,2% e 49,6% dos entrevistados. O primeiro está relacionado principalmente aos entraves em portos e aeroportos, o que encare o comércio exterior. Já o segundo significa aumento para diversas cadeias, como a de automóveis e a de construção civil.

Lentidão O presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa, afirma que no caso da lentidão do poder público transportadores são obrigados a ficar por semanas à espera nos portos para ingresso e saída de produtos internacionais aguardando liberação de documentos. Além disso, a ineficiência de armazéns torna o sistema ocioso. “O caminhão deveria carregar, descarregar e voltar. Mas não é assim. Mesmo no Porto de Paranaguá, é obrigado a ficar quase 15 dias. Com isso, faz-se do caminhão um armazém sobre rodas”, diz.

Como o custo do caminhão em uso é de R$ 100 por hora útil, essa cifra é acrescida ao valor do frete. No mais, a distribuição de produtos em centros urbanos se tornou outro fator encarecedor do transporte, representando 16% da composição logística. Em Belo Horizonte e São Paulo, entre outros, a restrição de caminhões com determinado peso se tornou problemática. “Na capital paulista, o limite para veículos de carga é de uma tonelada. Com isso, as empresas têm que adquirir mais caminhões, mais motoristas e mais ajudantes”, afirma Costa.

Apontada como o setor que é obrigado a dispor de mais recursos com logística, a indústria de bens de capital, em média, gasta 22,69% da receita bruta. O diretor regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) Marcelo Veneroso compara o processo de transporte de máquinas no Brasil e nos Estados Unidos. Lá, segundo relato dele, máquinas com 15 ou 20 metros são colocadas num pranchão e transportadas de forma simples. Aqui é necessário separar por módulos e ter cuidados com peças e componentes que oscilam com as vibrações nos buracos das estradas. Essas peças chegam a quebrar no trajeto e, com isso, a empresa tem que enviar um técnico ao porto para testar o produto antes do embarque. “Tudo isso aumenta o custo. A logística é um item muito crítico. Para quem busca competitividade cada grão é significativo”, relata Veneroso. Para piorar, nos últimos anos houve incremento dos gastos com logística no setor, segundo estudos feitos pela Abimaq. De 2006 a 2008, o aumento foi de 10,67% e de 2008 a 2010 o aumento foi de 2,4%.

Privatização é o caminho

Comas estradas em más condições, empresários afirmam que preferem pagar pedágio(foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS %u2013 24/1/08)
Comas estradas em más condições, empresários afirmam que preferem pagar pedágio (foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS %u2013 24/1/08)
Diante das más condições das rodovias brasileiras, privatização é unanimidade, segundo estudo da Fundação Dom Cabral. Considerando o aumento de custo proporcionado pela qualidade baixa das estradas, as empresas dizem preferir arcar com os custos do pedágio. Entre as 126 empresas pesquisadas, todas concordaram em pagar a tarifa para ter maior qualidade na infraestrutura rodoviária.

Comparado com os gastos de empresas montadas em outros países, o custo de logística no Brasil é exorbitante. Estudo elaborado pelo Boston Logistcs Group coloca o país em 23º no ranking entre os maiores gastos com transporte à frente somente de cinco países. Os gastos com logística representam 12% do PIB, o que acarreta perda de US$ 83,2 bilhões por ano. No comparativo com os Estados Unidos, o custo é 50% maior.

A velocidade média de transporte também é consideravelmente inferior. A velocidade média do transporte de carga é de 29 km/h, enquanto na China alcança 47 km/h, velocidade 62% superior, segundo o Banco Mundial. A diferença acarreta em custo maior. A exportação de um contêiner custa US$ 500 na China, enquanto no Brasil esse valor aumenta para US$ 1.790, ou seja é preciso arcar com custo 258% maior. Segundo o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo de Tarso Resende, no caso do transporte de um contêiner da China para o Brasil, o valor gasto com o transporte entre os dois países representa 50% do custo da logística interna.

Para estancar a sangria bilionária, a agilidade de investimentos do Plano Nacional de Logísticas, que prevê investimento de R$ 133 bilhões em infraestrutura rodoviária e ferroviária nos próximos 25 anos, é considerada primordial. O especialista acredita que a mudança de direção dos investimentos, passando das mãos do poder público para a iniciativa privada, garante maior eficiência operacional. “O Brasil não pode perder mais tempo. O custo logístico está muito alto em comparação com outros países. Estamos perdendo competitividade”, afirma o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.

Apesar disso, o plano teve seu foco principalmente em Minas e na Região Centro-Oeste, onde o nível de satisfação com as rodovias é menos crítico que no restante do país (exceto a Região Sul). As regiões Norte e Nordeste lideram a insatisfação com a situação logística no país, segundo dados da pesquisa da Fundação Dom Cabral, com 80% e 64% dos entrevistados apontando situação ruim, respectivamente. Na Região Sudeste, o nível ruim é de 19% ante 25% de bom. (PRF)


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