Brasília – O governo acendeu o sinal de alerta. Apesar das desculpas de que o tombo de 1% na produção industrial em setembro — interrompendo três meses de alta — decorreu do menor número de dias úteis no mês, a preocupação com a fraqueza da economia é generalizada. Feitas e refeitas as contas, a equipe da presidente Dilma Rousseff já admite, nos bastidores, que está cada vez mais difícil o Produto Interno Bruto (PIB) avançar a um ritmo de 4% em 2013, como alardeado nos últimos dias.
É verdade que no terceiro trimestre o PIB mostrou um fôlego maior, crescendo 1,3% ante o segundo, conforme cálculos do Banco Santander. Mas, nos próximos meses, o ritmo de expansão voltará a ser semelhante ao verificado entre janeiro e junho, indicando que as medidas de estímulo ao consumo sancionadas pelo Ministério da Fazenda e os cortes de juros promovidos pelo Banco Central estão longe de apresentar os resultados esperados.
“O país está sendo travado pela falta de confiança. Enquanto os investimentos produtivos não deslancharem, a atividade se moverá a um ritmo morno, insuficiente para chegarmos aos 4% de crescimento. Os empresários não se sentem confiantes em ampliar as fábricas sem a garantia de que terão para quem vender os seus produtos mais à frente. Além disso, temem que o BC seja obrigado a elevar os juros para conter a alta da inflação”, disse um técnico do governo. No seu entender, mais do que palavras de otimismo, o Planalto realmente precisa convencer o capital de que está comprometido com o controle do custo de vida e com regras estáveis para investimentos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda da produção industrial de 1%, na comparação entre setembro e agosto, foi a maior em oito meses. Quando comparada a setembro de 2011, a indústria encolheu 3,8%. Apesar de o saldo ter sido positivo em 1% no terceiro trimestre, no acumulado do ano as perdas chegam a 3,5%. Diante desse resultado, os analistas, mesmo os do governo, são unânimes em dizer que a produção encerrará 2012 no terreno negativo. “Não haverá escapatória”, afirmou o economista-chefe da Planner Corretora, Eduardo Velho. Pelas suas contas, as fábricas entregarão 2,2% menos do que em 2011. As consequências, porém, serão sentidas no ano que vem. Tanto que Velho reduziu a estimativa de crescimento do PIB , de 3,7% para 3,2%.
Recuo generalizado
A retração em setembro foi generalizada. Dos 27 segmentos pesquisados pelo IBGE, 16 apresentaram retração. Nem mesmo ramos básicos como alimentos (-1,9%) e bebidas (-2,2%) escaparam. Também caíram os setores de veículos automotores (-0,7%), a despeito do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), e de máquinas e equipamentos (-4,8%), a mais clara indicação de que os investimentos na ampliação e na abertura de fábricas estão empacados. “Isso é reflexo das políticas (do governo), que visam muito mais a recuperação de curto prazo da economia. Investimento tem que ter previsibilidade de médio e longo prazos”, avaliou o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
Para o IBGE, ainda que setembro tenha tido quatro dias úteis a menos do que agosto, não há como negar que a atividade industrial está fraca. “O calendário relativiza a queda na produção, mas é fato que há um perfil da indústria de quedas e taxas negativas. Não podemos fugir das evidências de que setembro foi marcado por um ritmo menor da produção”, disse André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do instituto. “Esse é um dado preocupante e um alerta”, acrescentou. No entender de Felipe Queiroz, economista da Austin Rating, a interrupção da melhora da produção é fruto da deterioração da confiança do empresariado. Como ele não acredita em uma reversão desse quadro, ampliou a previsão de queda para a indústria neste ano, de 2,1% para 2,6%.
Queiroz está tão pessimista que não descarta a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, promover um corte adicional dos juros, mesmo tendo explicitado que o processo de afrouxamento da taxa básica (Selic) chegou ao fim. “No nosso cenário básico, o Copom manterá os juros de 7,25% inalterados ao longo de 2013, para manter a inflação sob controle. Mas caso o BC perceba que uma retração mais forte da indústria pode impactar o mercado de trabalho, os juros podem cair um pouco mais”, destacou.
A boa notícia, segundo técnicos do governo, é que os dados de outubro mostram recuperação da indústria.
Turbulência na balança comercial
O superávit da balança comercial brasileira em outubro totalizou US$ 1,662 bilhão, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério da Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O resultado ficou 29,5% menor do que o verificado no mesmo mês de 2011, e foi o pior para meses de outubro desde de 2009, quando a balança registrou saldo positivo de US$ 1, 308 bilhão. As exportações somaram US$ 21,766 bilhões no mês passado, com média diária de US$ 989,4 milhões. Já as importações atingiram US$ 20,104 bilhões, com média diária de US$ 903,8 milhões.
De acordo com o MDIC, pela média diária as exportações registraram queda de 10,6% em outubro na comparação com o mesmo mês do ano passado, e as importações recuaram 7,6% na mesma base. Na avaliação de Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC, a crise internacional se prolonga e ainda se faz sentir no comércio exterior brasileiro.
A secretária ponderou, porém, que essa queda se dá diante de um patamar bastante elevado das vendas nacionais, que foi o ano de 2011. “A crise afeta o comércio exterior, no Brasil, principalmente por conta da queda de preços de produtos que o Brasil é bastante competitivo”, disse, citando como exemplo produtos básicos.
O saldo da balança na 4ª semana do mês ficou positivo em US$ 441 milhões. O resultado é fruto de exportações de US$ 5,002 bilhões e de importações no valor de US$ 4,561 bilhões. A média diária das exportações, nessa semana, foi de US$ 1 bilhão, enquanto a das importações foi de US$ 912 milhões. O MDIC informou também que na quinta semana do mês passado, que teve apenas três dias úteis (29 a 31), a balança comercial registrou um déficit de US$ 88 milhões. Nesse período, as vendas brasileiras somaram US$ 2,580 bilhões, enquanto as compras de produtos do exterior totalizaram US$ 2,668 bilhões.
No acumulado até outubro, o saldo da balança comercial está positivo em US$ 17,386 bilhões. O resultado é explicado pela diferença entre US$ 202,362 bilhões exportados nos primeiros 10 meses do ano e US$ 184,976 bilhões importados em igual período. A média diária das vendas no ano até o mês passado foi de US$ 959 milhões, o que representa uma queda de 5,5% em comparação com o mesmo período de 2011. Já a média diária das importações passou de US$ 893,4 milhões para US$ 876,7 milhões nessa base de comparação, o que significa uma queda de 1,9%.