O risco de racionamento de gasolina assola os mineiros pela terceira vez em pouco mais de um ano e pode voltar a impulsionar o preço do combustível. O aumento de consumo do produto no último bimestre do ano associado ao esgotamento da capacidade de refino e o gargalo logístico pode obrigar os motoristas a enfrentar no período natalino o tradicional corre-corre atrás de postos para abastecer o carro. E o pior: a arcar com a alta de preços da gasolina devido ao pagamento de frete para transporte do produto de outros estados para Minas num período de consumo elevado.
Um plano de contingência tem sido esquematizado entre o Ministério de Minas e Energia, a Petrobras, distribuidoras e representantes do setor de revendas de todo o país. Mas é necessário aparar arestas entre os envolvidos. A Petrobras indica a necessidade de as distribuidoras fazerem mais estoques dos produtos, que rebatem com a necessidade de a BR aumentar o número de viagens, segundo fonte que prefere o anonimato. O impasse persiste. Nova reunião está agendada para a semana que vem.
Em agosto do ano passado, devido a uma parada técnica da Refinaria Gabriel Passos (Regap) para manutenção dos equipamentos, que durou cerca de um mês, a maioria dos postos da capital sofreu com a insuficiência do combustível. Como a unidade trabalha com volume limite de processamento, a distribuição passou a ser regrada e a gasolina teve de vir de outras refinarias, como Paulínia e Duque de Caxias, no interior de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Os pedidos eram atendidos em parte. Se o posto solicitava 10 mil litros recebia somente 5 mil e ao longo do dia faltava.
A consequência óbvia foi o aumento brusco dos preços. O litro da gasolina ultrapassou a marca de R$ 3 em diversos postos, tendo subido até 10%. No mês passado, novo racionamento foi registrado, tendo afetado principalmente os postos da Petrobras, que, diferente das outras companhias, demorou a tomar providências para buscar combustível em outros estados. Em menor escala, o problema voltou a alterar preços das bombas.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Minas Gerais (Minaspetro), Paulo Miranda, participou das reuniões recentes com o governo federal e avalia que o risco maior é para as regiões Norte e Nordeste. Isso se justifica pelo fato de o transporte ser feito por navios. Com isso, pode se repetir o desabastecimento que no mês passado assolou Amapá, Piauí e Pará. Em Minas, ele vislumbra a repetição do aumento de custo, com a necessidade de se buscar gasolina em refinarias de estados vizinhos. “O risco é puramente de logística. Preocupa, mas não há risco de desabastecimento”, afirma Miranda.
O governo, no entanto, tentou minimizar o risco de colapso de abastecimento de combustíveis nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste. “Essa possibilidade não existe”, afirmou ontem importante autoridade do setor. Em nota, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), sublinhou que “o abastecimento de combustíveis no Brasil, tanto de diesel quanto de gasolina, está ocorrendo de forma regular”, sendo que casos pontuais com gasolina, ocorridos recentemente em alguns locais, "já foram sanados”.
Infraestrutura Paulo Miranda considera que a repetição de problemas se dá por causa do crescimento do setor, que anda a passos muito mais largos que o da infraestrutura e cita o caso de um navio que no mês passado ficou parado por dois dias em Vitória (ES) esperando na fila para atracar, o que resultou em falta de combustível. O mesmo tem se repetido insistentemente em outras localidades. Segundo uma fonte, os investimentos necessários não são feitos devido a proximidade com o processo de renovação do contrato de concessão dos portos.
Não bastasse o gargalo da infraestrutura, a evolução da frota de veículos cresceu a taxas consideráveis nos últimos anos, resultando em consumo acelerado de combustíveis. Em Minas, de 2008 até 2012, considerando o período de janeiro a setembro, a frota cresceu 42,38%, o que significa quase 2,5 milhões de carros a mais nas ruas e um impulso no consumo de combustível. Dada a crise do setor sucroalcooleiro, muitos consumidores optaram pela gasolina, o que resultou em aumento ainda maior do consumo do derivado do petróleo, tendo variado 61,49% no mesmo período.
Dessa vez, a solução pode estar exatamente no etanol. A safra está no último mês e, segundo cálculos do setor, as projeções indicam para sobra de 1,6 bilhão de litros de etanol hidratado. O volume pode contribuir para reduzir os riscos de racionamento da gasolina. Mas o presidente interino do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, adverte que é necessário mudar os rumos da política de combustíveis. “Nos últimos dois anos, o consumidor foi bombardeado com notícias ruins sobre o etanol. Se tiver racionamento, com atual preço o consumidor se mantém na gasolina”, afirma Campos, que repete o coro dos representantes do setor, pedindo que a Petrobras eleve o preço da gasolina.
Impacto negativo
Ao ser informado da possibilidade de falta de combustível, o gerente do Posto Duas Pátrias, no Bairro Santa Efigênia, em BH, Antônio Carlos Ribeiro Ornelas, ficou assustado. O último incidente ainda é repercutido no balanço da empresa e, caso se repita, a perda de clientes e a diminuição de faturamento são certos. “É prejuízo! E muito.”, afirma. Ele lembra que a bomba vazia deixa o cliente nervoso e muitas vezes faz com que ele rompa a fidelidade. “Se não tem combustível, ele vai embora e pode não voltar”, afirma.