Brasília – Com emprego e renda em alta, as famílias têm salvado a construção civil. No ano, elas já representam quase metade do consumo de material do setor, superando compras da infraestrutura e das construtoras. A realização do sonho da casa própria, cada vez mais comum no país, tem impulsionado esses números. A expectativa é de que o varejo desses produtos cresça 8% no ano. A indústria como um todo, porém, deve avançar menos, entre 2% e 2,5%. Para 2013, as perspectivas são mais favoráveis, sobretudo pelo pacote de concessões de rodovias e ferrovias, um projeto que prevê investimentos de R$ 133 bilhões em 25 anos e que deve aquecer a venda de material.
Pelos números da Associação Brasileira de Materiais de Construção (Abramat), as famílias consumiram 47% do que a indústria produziu no ano passado. As construtoras de casas e de edifícios comerciais e residenciais 31% e o segmento de infraestrutura 22%. “O mercado de varejo não sofre tanto com o desaquecimento da economia, ele tem mais a ver com a renda das famílias – que continua crescendo –, com o emprego em alta e com a disponibilidade de crédito”, observou Walter Cover, presidente da entidade. “As famílias, hoje, têm mais condições de realizar reformas e por isso são responsáveis por quase metade da indústria”, justificou.
Nos cálculos de Cover, no ano, até setembro, a indústria de material de construção cresceu apenas 1,3%, influenciada principalmente pela desaceleração da economia. Diante desse desempenho, ele pretende revisar para baixo a projeção de crescimento em 2012, de 3,4% para algo em torno de 2%. “Este ano foi mais fraco, mas para 2013 o ambiente macroeconômico é mais favorável e vai refletir na indústria”, avaliou. Ele explicou ainda que essa desaceleração é justificada pelo desempenho da infraestrutura, cujos investimentos ficaram praticamente estagnados em 2012. Ele, porém, acredita que em 2013, com o pacote de estímulos às estrada e ferrovias, os números melhorem.
“Os efeitos não são imediatos, mas a infraestrutura vai começar a recuperar a fatia perdida”, acrescentou. Pelo lado das construtoras, o que preocupa são os resultados fracos e a necessidade de queimar estoques. “A visão geral foi de que a desaceleração das operações atingiu a maior parte das construtoras. Além disso, já se cogita dificuldade para cumprimento das metas de 2012”, afirma Wesley Bernabé, analista da gestora de recursos BB Investimentos. Enquanto as construtoras precisam se reorganizar, as famílias continuam a comprar produtos para reformas e construção de casas, um movimento que tem garantido o aquecimento do varejo.
Nos depósitos O proprietário do Depósito Santa Efigência, Aroaldo Alves dos Santos, calcula que 90% das vendas feitas em sua loja são para pessoas físicas. “As compras das grandes construtoras não passam por depósitos. São feitas diretamente com o fabricante. Por isso, quem compra aqui é a dona de casa”, diz. Com mais de seis mil itens à venda, ele conta que os clientes estão ficando exigentes. “Eles querem a melhor tinta e a pia de granito. Temos que ter de tudo”, afirma.
O superintendente-geral da rede Cerâmicas Nacionais Reunidas (CNR), Rogério Sotero, reconhece a importância do consumidor chamado “formiguinha”. “O percentual de participação deles no negócio está em linha com a pesquisa, cerca de 50%”, calcula. Ele também admite que o grande volume de vendas para as construtoras sai direto das fábricas. “O que não impede que uma ou outra compra seja realizada aqui. No geral, as construtoras compram nas lojas material complementar, como pisos e revestimentos”, explica. O fluxo de loja, porém, é praticamente todo resumido às famílias que estão construindo.
Reformas O aposentado Paulo Vasconcelos é um exemplo de como o consumo fracionado acaba gerando um grande movimento nas lojas. Até agora, ele calcula que já tenha desembolsado quase R$ 50 mil na reforma que está fazendo em sua casa há pelo menos três meses. “Reconstruímos um barracão que temos no fundo. Está novo. Agora, estamos arrumando a cozinha e dois quartos”, conta. As mudanças ainda vão incluir a pintura interna e externa, o que não deve levar menos de dois meses para ser concluído, na avaliação do pedreiro Antônio Ozolino. “Não fica pronta antes de 2013”, estima.
Obra longa ocorre também na casa da estudante Gabrielle Lais de Souza, que comprava uma lata de tinta para concluir a pintura de seu quarto. “Começou em fevereiro e está para acabar agora. O piso de ardósia foi trocado por cerâmica, os cômodos foram pintados, a cozinha reformada. Muita coisa foi feita”, conta. Apesar de não saber calcular quanto o pai já gastou com as mudanças, Grazielle garante que do que ele mais reclama é a mão de obra. “Fala sempre que é o mais caro”, afirma.
Caixa eleva consórcio imobiliário
São Paulo – A Caixa Econômica Federal informou ontem que mais que dobrou o limite das cartas de crédito de consórcios imobiliários, de R$ 300 mil para R$ 700 mil, um aumento de 133%. O banco também ampliou o prazo para o pagamento, de 120 meses para 200 meses, e reduziu as taxas de administração – que incidem sobre o valor contratado no período total –, de 18% para 16%. Agora, a Caixa oferece cartas de crédito de consórcio imobiliário de R$ 400 mil a R$ 700 mil.
“As mudanças no consórcio imobiliário vão ampliar o portfólio de produtos para atendimento ao mercado”, afirmou, em nota, José Urbano Duarte, vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa. Com o aumento, a Caixa acompanha a valorização dos preços dos imóveis nos últimos anos. O banco tem hoje uma carteira de mais de R$ 12 bilhões em crédito para 159 mil clientes, tendo contemplado 70% deles. Até outubro de 2012, as vendas do consórcio imobiliário registraram um aumento de 35% em cotas comercializadas em relação ao mesmo período do ano passado.
Para o diretor de consórcios da Caixa, Maurício Maciel, o mercado de crédito está crescendo de forma acelerada, assim como a venda de imóveis. “Os novos produtos são uma resposta para a atual realidade do setor imobiliário”, explica. Maciel conclui ainda que os consórcios são uma alternativa para quem quer aumentar o patrimônio e realizar projetos.
Compra planejada Ainda segundo Maciel, o consórcio é uma opção para quem não tem condições financeiras de comprar um bem à vista, pois é econômico e planejado. O cliente tem a comodidade de programar o orçamento doméstico, escolhendo o grupo que mais se encaixe em seu bolso e na realização dos seus objetivos.
Outros bancos já aumentaram o limite da carta de crédito dos Consórcios imobiliários. Banco do Brasil e Itaú Unibanco também mais que dobraram o valor máximo, para R$ 700 mil. O movimento dos bancos reflete a adaptação do segmento de consórcios à valorização dos imóveis. O preço médio do metro quadrado de lançamentos residenciais teve forte aumento nos últimos anos.