A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros novos e móveis, a desoneração da folha de pessoal de uma série de ramos da indústria e a combinação de juros mais baixos com ampliação do crédito salvaram a indústria mineira de uma forte queda do faturamento e da produção neste ano. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) chegou a projetar um recuo de 3,1% da receita de 2012 e uma retração de 0,3% do ritmo de atividade das fábricas. Com a reação do setor, apesar de boa parte das empresas estar ainda trabalhando no vermelho, a instituição divulgou ontem ter revisto para um crescimento de 0,93% a produção do ano e uma espécie de empate técnico do faturamento em comparação a 2011, com uma pequena perda de 0,29%.
As novas projeções, de acordo com o presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg, Lincoln Gonçalves Fernandes, consideram ainda um quarto trimestre melhor que o do ano passado, tendo em vista a diminuição dos estoques e as encomendas para o Natal, que animaram as fábricas. “Nossas previsões melhoraram significativamente. O mercado interno está ajudando a indústria a se recuperar, embora ainda seja lento o efeito das medidas para reanimar a economia”, afirmou. A Fiemg apurou redução de 1,4% do faturamento da indústria mineira de janeiro a setembro, resultado impactado, em particular, por uma queda pontual de 8,3% da receita de setembro em relação a agosto.
O desempenho pífio de setembro, no entanto, foi influenciado pela alta base de comparação com o mês anterior, que concentrou alto volume de entregas de setores de peso na economia mineira como o automotivo, de celulose e produtos de metal (especialmente as estruturas metálicas). As confecções e as fábricas de calçados e acessórios também ajudaram na estatística de queda do indicador, em razão de terem concluído em agosto as vendas da nova coleção. Outro segmento que enfrenta redução de receita é o da mineração, por conta dos preços do minério de ferro, carro-chefe da produção, no mercado internacional – mais baixos neste ano.
Os indicadores industriais produzidos pela Fiemg ficaram em linha com o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a produção da indústria, que voltou a registrar queda em setembro. Frente a agosto e descontadas as influências típicas do mês analisado, houve redução da atividade em 12 dos locais pesquisados. Em Minas, a produção recuou 1,4% frente a agosto, depois de uma expansão de 3,5%. No acumulado dos últimos 12 meses até setembro, comparados ao mesmo período do ano anterior, a produção mineira diminuiu 0,2%, representando uma melhora frente ao recuo de 1,1% em idêntica base de comparação até agosto.
As indústrias de móveis e vestuário são dois dos segmentos que justificaram a revisão para cima das projeções da Fiemg. A melhora do nível de encomendas e do faturamento das fábricas moveleiras do pólo de Ubá, na Zona da Mata mineira, levaram à revisão das previsões de fechamento do ano, segundo Michel Pires, presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá. De uma estagnação neste ano, prevista antes das medidas do governo federal, as empresas passaram a trabalham com previsões de crescimento entre 2% a 5%, dependendo do resultado de outubro a dezembro. “Os pedidos aumentaram e já temos encomendas para entrega em dezembro da maioria dos clientes. Estamos com medo é do primeiro semestre de 2013”, afirma o industrial.
O pólo de confecções de Formiga, no Centro-Oeste de Minas, reagiu neste segundo semestre, observa Paulo César Rodrigues da Costa, presidente do sindicato local da indústria do vestuário. “As medidas do governo federal e o regime especial de tributação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) em Minas deram uma boa injeção no mercado, mas ainda insuficiente”, afirma o industrial. São 180 confecções e 4 mil empregados no município. Na média do setor de vestuário, de fato, o faturamento real medido de janeiro a setembro pela Fiemg está negativo em 0,63%.
No sentido inverso, contribuíram com indicadores positivos as indústrias de produtos alimentícios (3,76%); máquinas e equipamentos (16,53%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (2,12%) e metalúrgia básica (5,08%), além de veículos automotores (0,15%). A Usiminas foi uma das siderúrgicas que elevou a produção em 3,2% de janeiro a setembro, nas usinas de Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, e e de Cubatão (SP), beneficiada com a redução das importações brasileiras de aço.
Férias coletivas
A ArcelorMittal, maior grupo siderúrgico do mundo, confirmou ontem que concederá férias coletivas de 26 deste mês a 5 de dezembro para uma parte dos empregados que trabalham em um dos seus laminadores, na usina de João Monlevade. A justificativa é que o equipamento passará por manutenção. Conforme informações do presidente do sindicato local dos metalúrgicos, Luiz Carlos da Silva, a parada deixará em casa 80 trabalhadores da siderúrgica de um total de 1.170 empregados.
Reação está atrelada ao investimento
A produção da indústria mineira mostrou desempenho positivo, com base no levantamento do IBGE, de 4,5% em setembro, ante o mesmo mês do ano passado – movimento só acompanhado pela Bahia (2,8%) –, e de 0,1% no acumulado do ano, único indicador favorável entre os estados. O cenário generalizado de queda no Brasil, em seguida a uma taxa de crescimento verificada em agosto, deixa dúvidas sobre a capacidade de recuperação do setor. Houve uma melhora gradativa até agosto, mas lenta, destaca Antônio Braz de Oliveira e Silva, analista do IBGE em Minas.
Guilherme Leão, gerente de economia da Fiemg, concorda, lembrando que, embora setembro tenha sido “um ponto fora da curva”, todos os prognósticos para o setor, na média do Brasil, ainda indicam retração. Recuperação significativa só é esperada para 2013, na dependência da volta de um ciclo de investimentos do setor privado. Conforme pesquisa da Fiemg, de janeiro a setembro, as fábricas trabalharam com 84,92% da sua capacidade de produção, em média, um pouco abaixo dos 85,59% observados nos mesmos meses de 2011.
Para Antônio Braz e Silva, do IBGE, é difícil antever qual dos movimentos captados pelo IBGE vão prevalecer: o crescimento da produção de agosto ou a redução de setembro, apesar de um terceiro trimestre melhor que o anterior. De julho a setembro, o setor cresceu 2,3% em Minas, frente ao período de abril a junho. “Se haverá mais ajustes na indústria, diante do crescimento de agosto, é algo que ainda não temos como avaliar. O fato é que o setor vinha andando de lado e, na média do ano, a produção deverá ter um comportamento modesto”, afirma.
A análise do IBGE para setembro foi também influenciada pelo efeito de dois dias a menos de produção em relação à média histórica do mês. Na média do Brasil, a produção caiu 1% comparada à de agosto, quando houve expansão de 1,7%. Nos últimos 12 meses, a retração brasileira, de 3,1%, superou o recuo do setor em Minas. Já o levantamento da Fiemg mostrou, além do faturamento e da utilização da capacidade instalada, que houve aumento do número de horas trabalhadas, em média de 1,69%, de janeiro a setembro. O resultado é coerente com a elevação da produção em segmentos como a mineração, como forma de compensar a queda de receita. (MV)
Montadoras comemoram resultados
O ritmo das vendas da Fiat Automóveis, de Betim, na Grande Belo Horizonte, chegou a crescer mais de 50% nos últimos três meses, impulsionado pela redução do IPI. Com o benefício, a produção acelerou desde junho, informou a montadora italiana, por meio de sua assessoria de imprensa. Com os resultados melhores, a empresa está avaliando a possibilidade de adiar as tradicionais férias coletivas de dezembro para janeiro, acompanhando uma decisão que pode ser tomada por outras marcas no país.
A Fiat vendeu 53.519 unidades em abril e 59.482 em maio. Depois da extensão do IPI menor, a comercialização saltou para 75.240 em junho e chegou a 98.201 em agosto. Em setembro, retornou a 67.500 unidades e cresceu, novamente, no mês passado para 80.800. Junto à redução do imposto, a montadora informou que seu desempenho melhorou com o destravamento do crédito ao consumidor, a redução das taxas de juros e a irrigação da economia, com mais recursos do governo federal em obras públicas.
Há estimativas de que, com a diminuição do IPI, os preços dos automóveis novos tenha sofrido redução superior a 10%, em média, na comparação com setembro do ano passado. O comportamento do segmento acabou afetando o ramo dos veículos usados, que sofreram desvalorização. Outra consequência já destacada pelos analistas do setor será a queda dos valores do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para o ano que vem. Essa poderia ser uma boa notícia, mas como a cobrança do tributo é calculada com base no valor do carro, a redução aponta uma indesejável desvalorização de patrimônio das famílias.
Para o analista do IBGE Antônio Braz de Oliveira e Silva, os números mostram claramente que o setor automotivo já respondeu ao estímulo que a redução do IPI trouxe, o que deve promover um fechamento de ano positivo para a indústria. Vale destacar que as empresas vinham enfrentando números de produção negativos desde fevereiro. Resta saber se os efeitos já foram totalmente absorvidos. Nos últimos 12 meses até setembro, a produção de veículos automotores em Minas ficou negativa em 0,9%, performance melhor comparada à queda de 4,2% no mesmo período até agosto. (MV)