Embora tenha crescido em setembro, o resultado do varejo não surpreendeu e depende da temporada de compras do fim do ano para se fortalecer. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas do varejo apresentou variação positiva de 0,3% em setembro, ante 0,2% registrado em agosto. A expectativa de alguns analistas de mercado era de que o crescimento fosse de aproximadamente 0,8%. Nos próximos meses, as vendas devem ser puxadas pelo consumo das famílias brasileiras nas datas comemorativas. Mas, antes disso, os esforços para fisgar essa clientela já começam a aparecer. Na próxima semana, por exemplo, uma moda tradicional nos Estados Unidos também chega ao Brasil. A Black Friday, conhecida pela enxurrada de descontos que oferece na terra do Tio Sam, terá início no país a no primeiro minuto do dia 23.
Por aqui o evento ocorre apenas no ambiente virtual e promete movimentar cifras milionárias, quando mais de 300 lojistas vão colocar seus estoques em liquidação. Aproveitando o interesse do brasileiro por pechinchas, o portal Busca Descontos, que desde 2010 promove a Black Friday no Brasil, espera que o faturamento cresça 35% na comparação com o ano passado, quando foram faturados R$ 100 milhões. “Esperamos que em 24 horas possamos vender cerca de R$ 135 milhões em mais de 300 mil operações realizadas, já que passamos de 50 empresas participantes para 300”, afirma o diretor-executivo do Busca Descontos, Pedro Eugênio. Roupas, acessórios, calçados, tênis esportivos, eletrodomésticos, eletrônicos, perfumaria, serviços e até carros serão vendidos com bons descontos na edição brasileira da Black Friday.
Para este ano, Eugênio garante que lojas que vendem artigos de moda e esportivos já garantiram redução de até 75% em seus produtos e os eletroeletrônicos devem ficar com descontos que variam de 30% a 40%. “Estamos confiantes com relação aos preços oferecidos aos clientes porque a entrada de novas empresas acabou estimulando a concorrência e uma disputa pelo melhor preço”, diz.
Repetindo o sucesso do ano passado, eletroeletrônicos como televisões, computadores, notebooks e netbooks devem ficar entre os mais vendidos. “Essa já é uma realidade no país. Dois meses antes do evento, as pessoas já falam do dia do desconto nas redes sociais e na internet”, afirma Eugênio. Ainda segundo ele, muitos lojistas que não optaram pelo evento em 2011 migraram para a Black Friday deste ano pela oportunidade de conquistar os clientes que ainda dão seus primeiros passos como consumidores de lojas virtuais.
“Pela força do Natal muitos devem começar a fazer suas compras a partir dessa chance”, reforça. Para atrair o público, o site vai investir ainda em uma promoção em parceria com o Walmart, com o sorteio de uma viagem com acompanhante para a Black Friday americana, que ocorre no dia 30, entre os clientes cadastrados. Além de ser premiado com uma viagem para a cidade em que escolher nos Estados Unidos, o sorteado vai receber US$ 1 mil para gastar como quiser e conhecer uma das unidades do hipermercado no exterior.
Entre os participantes, além das grandes redes Walmart.com, CasasBahia.com.br, Extra.com.br e Pontofrio.com, que já prometeram descontos de até 70% em diversos produtos, também estão empresas mineiras como Ricardo Eletro, Caos e Eletrosom. A grife Caos participa pela primeira vez e espera aumentar em 60% as vendas de sua loja virtual, que está no ar há um ano. Os descontos chegam a 70% em alguns produtos. “O brasileiro gosta de desconto e essa também é uma forma de divulgar a marca”, diz o gerente de e-commerce da Caos, Matheus Pedrosa. A também mineira Eletrosom.com é outra empresa que participa pela primeira vez, puxada pelos resultados dos concorrentes em 2011. A rede vai oferecer descontos de até 50% em produtos eletrônicos. “A Black Friday é o evento mais esperado do ano”, garante a analista de e-commerce da Eletrosom, Marina Moraes.
Habituado a comprar, mas também pesquisar e comparar os preços de lojas físicas e virtuais, o analista de sistemas Pablo Arantes desconhecia a existência da data americana, mas acabou se beneficiando dos descontos na edição do ano passado. Enquanto milhares de brasileiros procuravam pelos melhores preços na internet, Pablo, que comprava uma memória externa para o seu computador, foi direcionado para um site: conseguiu o produto 40% mais barato. “Eu acabei unindo o útil ao agradável e consegui um preço interessante. Essa coincidência vai me fazer, com certeza, parar para olhar o site este ano”, conta.
Veículos freiam os resultados
O crescimento tímido do varejo em setembro foi justificado pela venda de veículos. Depois de registrar expansão de 8% em agosto, o setor caiu 22,6% em setembro, segundo o constatado pelo IBGE e já sugerido pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). De acordo com o Departamento de Economia do Bradesco, que chegou a estimar expansão de 0,8% para o varejo de forma geral em setembro, em outubro retomada das vendas de veículos e a alta esperada para a indústria apontam para continuidade do processo de recuperação gradual da economia, revertendo o desempenho do mês anterior.
Para o analista do IBGE em Minas, Antonio Braz, o endividamento crescente pode ser uma das causas para o resultado abaixo do esperado. “A renda mais comprometida torna as pessoas mais cuidadosas com relação aos gastos”, diz. Embora esperasse que o varejo tivesse alta de 1% em setembro, para a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL/BH) os resultados estão dentro da normalidade. “É um número bom se pensarmos que setembro é atípico e vem logo depois do Dia dos Pais e antes do Dia das Crianças”, explica a economista da CDL, Ana Paula Bastos. (CM)