A classe média cresceu 50% na América Latina e no Caribe nos últimos 10 anos. O número de pessoas que compõem esse segmento social saltou de 103 milhões, em 2003, para 152 milhões, em 2009. O percentual de pobres, por outro lado, caiu de 44% para 30%, no mesmo período. O fenômeno é considerado um acontecimento histórico de redução da pobreza e de desigualdade de renda, segundo o relatório Mobilidade econômica e ascensão da classe média latino-Americana, divulgado ontem pelo Banco Mundial (Bird), em conjunto com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O total de ricos atualmente é de 2% do total dos habitantes. Em 1995, 45% da população era pobre, 20% era classe média e 33% viviam em situação de vulnerabilidade (risco de empobrecimento). Os fatores que provocaram esse resultado foram o aumento do nível de escolaridade, crescimento do emprego formal, em áreas urbanas e o forte ingresso das mulheres na força de trabalho. Também colaborou a queda no número médio de membros da família de classe média, que passou de 3,3 em 1992 para 2,9 em 2009. O estudo – divulgado simultaneamente em Brasília, Bogotá (Colômbia) e Washington (Estados Unidos) – aponta que o Brasil se destaca na região e é responsável por 40% dessa ascensão.
O marceneiro Gleison Libério da Silva está entre os milhões de brasileiros que viveram essa ascensão e viram a renda crescer nos últimos anos. Recentemente, ele comprou um Honda Civic e há três meses se mudou para a casa que acabou de construir. “O serviço aumentou demais. Tenho trabalho agendado até abril do ano que vem. A fila chega a seis meses”, comemora ao ver os negócios da marcenaria que tem com o pai indo de vento em popa. A última grande conquista foi a possibilidade de arcar com a faculdade particular da filha que acaba de iniciar o curso de engenharia civil. “Estamos apertando o cinto para pagar. Mas há alguns anos nunca imaginei que conseguiria custear o curso para ela. Eu mesmo queria estudar e não tive condições”, lembra.
A empregada doméstica Adriana Leonardo faz os mesmos planos para o filho. “Estou fazendo um pé de meia para pagar os estudos dele. Esse é meu sonho”, conta. Nos últimos anos, ela reconhece que a renda tem sido cada vez melhor e já permitiu a compra de um lote e a construção de uma casa nova. “Estou trabalhando mais e meu salário já dobrou. Meu marido é pedreiro e também está ganhando melhor. Com isso, foi possível construir a casa em um ano e meio”, conta.
Corda bamba
Apesar do quadro favorável, o Bird ressalta que na América Latina 38% estão na categoria classe média baixa, ainda em estado de vulnerabilidade, sem segurança econômica e com alta probabilidade de cair na pobreza. Essa parcela vulnerável ganha entre US$ 4 e US$ 10 per capita por dia. O presidente do Ipea, Marcelo Néri, disse que é importante destacar as especificidades do nosso país. “O conceito de classe média é sempre impregnado pelo modo de ver americano, representado por um casal, dois carros, dois filhos e dois cachorros. Nossa realidade é diferente”, ressaltou. Ricardo Paes de Barros, secretário de Ações Estratégicas, lembrou que a classe média brasileira é heterogênea e que 75% dos que ascenderam são negros.
A preocupação de Paes e Barros é que essa nova classe média não é um grupo de vanguarda, com pretensão de debater valores com a elite brasileira. A parcela que ganhou com a mobilização social tem valores intermediários entre a elite e os pobres. “Foi só um aumento de renda”, observou. De acordo com o relatório do Bird, no mundo inteiro uma classe média ampla significar melhor governabilidade, mercado de crédito mais amplo e mais gastos com saúde e educação pública. E indica que os governos da AL deve adotar três estratégias para ter o apoio da classe média: igualdade de oportunidade nas políticas públicas, reformas no sistema de proteção social e rompimento do ciclo vicioso de baixa tributação e má qualidade nos serviços públicos, além de melhora na qualidade da administração pública.
O total de ricos atualmente é de 2% do total dos habitantes. Em 1995, 45% da população era pobre, 20% era classe média e 33% viviam em situação de vulnerabilidade (risco de empobrecimento). Os fatores que provocaram esse resultado foram o aumento do nível de escolaridade, crescimento do emprego formal, em áreas urbanas e o forte ingresso das mulheres na força de trabalho. Também colaborou a queda no número médio de membros da família de classe média, que passou de 3,3 em 1992 para 2,9 em 2009. O estudo – divulgado simultaneamente em Brasília, Bogotá (Colômbia) e Washington (Estados Unidos) – aponta que o Brasil se destaca na região e é responsável por 40% dessa ascensão.
O marceneiro Gleison Libério da Silva está entre os milhões de brasileiros que viveram essa ascensão e viram a renda crescer nos últimos anos. Recentemente, ele comprou um Honda Civic e há três meses se mudou para a casa que acabou de construir. “O serviço aumentou demais. Tenho trabalho agendado até abril do ano que vem. A fila chega a seis meses”, comemora ao ver os negócios da marcenaria que tem com o pai indo de vento em popa. A última grande conquista foi a possibilidade de arcar com a faculdade particular da filha que acaba de iniciar o curso de engenharia civil. “Estamos apertando o cinto para pagar. Mas há alguns anos nunca imaginei que conseguiria custear o curso para ela. Eu mesmo queria estudar e não tive condições”, lembra.
A empregada doméstica Adriana Leonardo faz os mesmos planos para o filho. “Estou fazendo um pé de meia para pagar os estudos dele. Esse é meu sonho”, conta. Nos últimos anos, ela reconhece que a renda tem sido cada vez melhor e já permitiu a compra de um lote e a construção de uma casa nova. “Estou trabalhando mais e meu salário já dobrou. Meu marido é pedreiro e também está ganhando melhor. Com isso, foi possível construir a casa em um ano e meio”, conta.
Corda bamba
Apesar do quadro favorável, o Bird ressalta que na América Latina 38% estão na categoria classe média baixa, ainda em estado de vulnerabilidade, sem segurança econômica e com alta probabilidade de cair na pobreza. Essa parcela vulnerável ganha entre US$ 4 e US$ 10 per capita por dia. O presidente do Ipea, Marcelo Néri, disse que é importante destacar as especificidades do nosso país. “O conceito de classe média é sempre impregnado pelo modo de ver americano, representado por um casal, dois carros, dois filhos e dois cachorros. Nossa realidade é diferente”, ressaltou. Ricardo Paes de Barros, secretário de Ações Estratégicas, lembrou que a classe média brasileira é heterogênea e que 75% dos que ascenderam são negros.
A preocupação de Paes e Barros é que essa nova classe média não é um grupo de vanguarda, com pretensão de debater valores com a elite brasileira. A parcela que ganhou com a mobilização social tem valores intermediários entre a elite e os pobres. “Foi só um aumento de renda”, observou. De acordo com o relatório do Bird, no mundo inteiro uma classe média ampla significar melhor governabilidade, mercado de crédito mais amplo e mais gastos com saúde e educação pública. E indica que os governos da AL deve adotar três estratégias para ter o apoio da classe média: igualdade de oportunidade nas políticas públicas, reformas no sistema de proteção social e rompimento do ciclo vicioso de baixa tributação e má qualidade nos serviços públicos, além de melhora na qualidade da administração pública.