O sabor e a singularidade do pão de queijo mineiro abrem espaço no comércio de Minas Gerais com o exterior, dominado há décadas pelo minério de ferro, o café e o aço. Os maiores fabricantes da iguaria que saiu das fazendas do interior do estado para a cidade grande – a Clap Alimentos, dona da marca Maricota, a Pif Paf e a Forno de Minas – contabilizam este ano os primeiros embarques regulares que cruzaram a fronteira brasileira. O produto já é encontrado em supermercados, restaurantes e padarias dos Estados Unidos, Canadá, Portugal, Espanha, Japão, Hong Kong, Macau, Xangai, Arábia Saudita, Emirados Árabes, África do Sul, Angola e Moçambique.
Impulsionadas pelos bem-sucedidos contratos, as empresas partem, agora, para uma nova investida, com a remessa de amostras a países de culturas desafiadoras para os brasileiros, como a Rússia, Holanda, Coreia do Sul e Suíça, além de parceiros mais conhecidos do Brasil no mercado internacional, como a Itália, Alemanha, Espanha, Inglaterra, França e Chile. O grande desafio é fazer o cliente experimentar a iguaria no exterior, um trabalho de marketing e degustação intenso e que não custa pouco, lembra o presidente da Forno de Minas, Hélder Couto Mendonça.
Para um produto desconhecido até mesmo dos brasileiros distantes da economia desenvolvida do Sudeste, o resultado inicial das exportações mostra, no entanto, que o pão de queijo tem futuro na audaciosa meta de ganhar contornos de produto global. “Se trabalharmos bem agora, chegaremos lá em mais cinco ou seis anos”, afirma Hélder Mendonça. A empresa de Contagem, na Grande Belo Horizonte, deverá encerrar o ano com um balanço de 1 mil toneladas comercializadas nos Estados Unidos (a partir de Nova York e Nova Jersey), Canadá e Portugal.
Na Pif Paf, o diretor comercial Edvaldo Campos diz que a receita do pão de queijo encanta pelo sabor e a versatilidade, ao se adaptar tanto aos cardápios dos cafés europeus, quanto ao lanche rápido desejado pelos japoneses e à entrada dos almoços e jantares das churrascarias em qualquer país com esse hábito de consumo. “É um produto mineiro conquistando o mundo. Imagine se, a cada 100 chineses, um deles consumir o nosso pão de queijo. Se o produto for bem aceito, ninguém nos segura”, afirma.
O grupo produtor de aves, suínos e bebidas deve encerrar o ano com um balanço de 100 toneladas comercializadas da iguaria mineira em Hong Kong, Macau, no Japão e em Angola, representando cerca de 5% da produção. Com a expectativa de negociações em andamento para abrir mercados na Europa, Estados Unidos e na China, a empresa pretende triplicar as vendas em 2013. Os parceiros comerciais dos fabricantes são, em geral, distribuidoras que atendem supermercados e o chamado comércio do food service, que engloba restaurantes, padarias e lanchonetes.
RÚSSIA A Clap Alimentos prepara o envio de amostras, nesta semana, a uma rede de supermercados russa, para obtenção de registro no orgão fiscalizador do país, e a possíveis parceiros no Chile. A fábrica da marca Maricota, em Luz, no Centro-Oeste de Minas, poderá começar a atender consumidores russos com embarques regulares de pão de queijo pré-assado a partir de janeiro ou fevereiro, no mais tardar. “A nossa ideia é trabalhar com o produto congelado também em padarias e cafés”, informa Camila Ozório, gerente internacional da empresa.
A Maricota pisou firme no exterior, recentemente, com contratos de fornecimento na Arábia Saudita, Moçambique e África do Sul. Na Arábia, a empresa lançou no ano passado o pão de queijo pré-assado, com a embalagem na língua local, nas versões tradicional e recheado com requeijão. Até março, as vendas externas devem crescer 8%. A marca exporta 8% da produção total de alimentos congelados, que inclui pizzas, massas e queijos, negócio com receita avaliada em R$ 7 milhões por ano, de um faturamento anual de R$ 95 milhões. Na China, a empresa obteve o registro do pão de queijo em julho, como parte de negociações para disputar o mercado de Xangai.
Na contramão da turbulência
Embora ainda não tenha ganhado destaque na pauta mineira de exportações de alimentos, o pão de queijo parece estar trilhando um caminho promissor, que não é o de todo o setor. De janeiro a outubro, só as carnes e os laticínios fugiram da queda das vendas, conforme levantamento da pesquisadora em comércio exterior Elisa Maria Pinto da Rocha, da Fundação João Pinheiro. “Os exportadores ainda vão enfrentar uma situação difícil diante da Europa em recessão e do baixo crescimento da economia americana”, afirma.
No acumulado deste ano até setembro, os embarques das commodities agrícolas e pecuárias (produtos cotados no mercado internacional) caíram 21,9% frente ao mesmo período do ano passado, ao somarem receita de US$ 4,466 bilhões. Na comercialização dos produtos alimentares em geral, houve um recuo de 26,3%, com uma quantia de US$ 214,8 milhões. A salvo, cresceram 11,2% as vendas de carnes, que faturaram US$ 666 milhões, e 40,6% as de laticínios (US$ 38,9 milhões).
O trabalho de degustação do pão de queijo em feiras como a gigantesca Sial, realizada em Paris em outubro, é essencial para os fabricantes abrirem mercados no exterior, observa Ricardo Machado, diretor de marketing e desenvolvimento de negócios da Forno de Minas. Negociações com distribuidores da Coreia do Sul, China, Japão e África do Sul deverão permitir um crescimento expressivo das exportações da empresa no ano que vem. A Forno comericializa hoje, no exterior, menos de 10% da sua produção da iguaria. A meta é chegar a 30% dentro de três a cinco anos. (MV)
Ajudinha oficial
A presidente Dilma Rousseff deu um bom impulso aos fabricantes do pão de queijo mineiro em maio do ano passado, quando apresentou a iguaria em um almoço servido a 800 convidados, entre autoridades e empresários, em Pequim. O Itamaraty organizou o evento no Hotel China World Summit Wing, servindo também o café de Minas. Além do minério de ferro e do aço, há expectativa de que o Brasil seja um fornecedor importante para o mercado chinês nas áreas de processamento de produtos agrícolas e serviços de engenharia e construções.