Paris – As autoridades francesas declararam guerra contra a revista britânica The Economist. Depois de o semanário publicar uma capa que sugeria que o país é uma bomba-relógio no coração da Europa, representantes do governo saíram em defesa da política econômica do presidente francês, Françoise Hollande. Para a revista, a França age como se não estivesse na mesma crise que o restante da Europa. No entanto, uma volta por Paris e deixa claro que o país perdeu um pouco do brilho com a desaceleração da economia. Os jovens se mostram extremamente preocupados com o mercado de trabalho e é crescente o número de pedintes nas ruas da cidade, a maioria deles estrangeiros que fugiram da crise em seus países de origem e que achavam que teriam uma nova oportunidade na França.
Segundo a revista, Hollande não tem sido suficientemente ambicioso nas reformas econômicas, o que pode colocar o mercado financeiro contra a França e prejudicar o futuro do euro. A capa traz ainda uma foto com sete baguetes presas por uma fita nas cores da bandeira francesa e com um pavio aceso no centro. Arnaud Montebourg, ministro da Indústria, atacou a publicação em entrevista à rádio Europe 1. “A Economist nunca se distinguiu por seu senso de imparcialidade”, acusou. O primeiro-ministro do país, Jean-Marc Ayrault, também fez críticas ao semanário na TV francesa. “Vocês estão falando sobre uma publicação que está recorrendo ao excesso para vender”, disse.
Apesar das falas das autoridades, a crise chegou à França. Mesmo com a proximidade do Natal, lojas estão fazendo promoções com descontos de até 50% e, ainda assim, continuam vazias. Os lojistas, na tentativa de atrair os turistas, trocam diariamente as vitrines. Em plena Champs-Élysées, avenida de Paris que simboliza o glamour e concentra as maiores marcas da moda mundial, mulheres de origem mulçumana passam o dia ajoelhadas em frente às lojas de grifes com um copo na mão e a esperança de conseguir esmolas. Elas, no entanto, disputam o espaço com franceses que também estão em situação difícil e praticamente acamparam na avenida em busca de algum trocado.
Também nos principais monumentos da cidade, os turistas também são frequentemente assediados por franceses e estrangeiros desempregados. Algumas jovens chegam a fingir que fazem parte de uma associação criada para ajudar pessoas que passam fome. Elas pedem a assinatura da pessoa e o código postal, sob a alegação de que uma publicação sobre o projeto será enviada para a casa da pessoa. A reportagem acompanhou as jovens durante parte do dia e depois que os turistas se afastaram elas usaram o dinheiro obtido para comprar comida e outros itens de primeira necessidade. Próximo ao Louvre, são pelo menos oito meninas usando a mesma estratégia. A maioria dos pedintes demonstra ter boa instrução. Comunicam-se perfeitamente em inglês e outras línguas. Chegam a arriscar, inclusive, palavras em português.
NOITE ESVAZIADA Em Montmartre, tradicional bairro boêmio de Paris, a vida noturna parece estar se esgotando. Com exceção do tradicional can-can do Moulin Rouge, em Pigalle, que atrai turistas de todo o mundo, e de alguns bares, os estabelecimentos têm poucos clientes, até mesmo na sexta-feira. Pelas ruas de Paris é comum ver lojas e bares com placas de “aluga-se” ou “entrega-se o ponto”. As ruas de Paris também mostram que, apesar da economia quase em recessão, o país representa uma esperança para o continente. No Aeroporto Charles de Gaulle pode-se observar a chegada constante de estrangeiros, sobretudo de países com problemas mais severos, como Portugal.