As ações da Eletrobras voltaram a desabar ontem, logo após a reabertura de suas negociações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), ainda refletindo a perspectiva de graves perdas de receita e de patrimônio a partir de 2013, estabelecidas pela Medida Provisória (MP) 579. O seu papel preferencial (PN) afundou 19,27%, amargando a pior queda diária de fechamento de sua história. Já as ações ordinárias (ON, com direito a voto) atingiram a menor cotação desde setembro de 2003, com retração de 15,35%, a R$ 6,78. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, fechou em queda de 0,37%, pressionado por correções após o feriado da véspera (Dia da Consciência Negra) e pelo novo tombo da empresa de energia.
Os papéis PN fecharam o dia cotados a R$ 7,92, no quarto pregão seguido no vermelho, pressionado também pela notícia de que o desempenho pior ao estimado do balanço financeiro do terceiro trimestre impediria a distribuição de dividendos. Apenas nesses quatro dias úteis, o seu valor derreteu 39,54%. Além disso, o mau humor dos acionistas minoritários, inclusive estrangeiros, e de recorrentes análises pessimistas de analistas segue fomentando a fuga dos papéis.
Na segunda-feira, as ações PN tinham desabado 15,43%, derrubadas pela reafirmação da diretoria da estatal de que vai aderir plenamente ao projeto da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de baixar a conta de luz via renovação condicionada e antecipada para o próximo ano dos seus contratos de fornecimento e transmissão de eletricidade. Ao aceitar a proposta de seu controlador majoritário, o governo federal, a Eletrobras também concordou em registrar perdas de pelo menos R$ 8,7 bilhões em sua receita anual e de R$ 14 bilhões no seu balanço contábil, em razão da depreciação de ativos.
Desde 11 de setembro, as ações PN da estatal acumulam desvalorização de 58%, e as ações ordinárias, 48,2%. As ações PN de classe B, as mais negociadas, já recuaram 68,1% no ano, saindo de R$ 24,67 no último pregão de 2011 para R$ 7,86 ontem. Trata-se da cotação mais baixa desde junho de 2004. Os papéis da estatal vêm declinando desde que a presidente Dilma Rousseff anunciou redução de tarifas de energia e a edição da MP 579, na noite de 6 de setembro, durante pronunciamento em cadeia de rádio e TV alusivo ao Dia da Independência. A crescente expectativa de fluxo de caixa próximo de zero no ano que vem completou a tendência.
VALOR DE MERCADO Com a evaporação de suas ações preferenciais nos pregões de segunda-feira e ontem, a Eletrobras, maior empresa elétrica do país, passou a ter um valor de mercado equivalente a pouco mais de 10% de seu patrimônio líquido. Conforme levantamento da consultoria Economática, essa é a pior relação entre as principais agentes do setor. Todas as ações da estatal valem agora menos de R$ 10 bilhões, para um patrimônio líquido de R$ 79 bilhões. Segundo analistas, outro fator que está levando à derrocada das ações é o fato de o pessimismo ter tornado a Eletrobras um dos papéis mais procurados para aluguel.