A paralisação, ontem, dos eletricitários da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) vai além de um instrumento de campanha salarial, inaugurando um embate que outras empresas deverão enfrentar com seus empregados, para se adaptarem à Medida Provisória 579, que estabelece novas regras para o setor elétrico e prevê redução de 20,2% nas tarifas cobradas dos consumidores a partir de fevereiro de 2013. Na expectativa de queda de receita, as concessionárias já começam a anunciar revisão para baixo dos investimentos e redução do quadro de pessoal, como medidas de contenção de despesas. A justificativa é a de que a MP derruba em até 70% o preço da energia vendida pelas usinas com concessão a vencer entre 2015 e 2017.
A briga dos trabalhadores da Cemig envolve tanto a correção das perdas dos salários para a inflação quanto a manutenção de emprego, ante as declarações do diretor de Finanças e Relações com Investidores da Cemig, Luiz Fernando Rolla, de que a empresa vai “adequar os processos de aposentadoria e buscar novas tecnologias com menos dependência de mão de obra”. No começo da noite, o Sindieletro/MG, sindicato que representa a categoria, divulgou a adesão de pelo menos 50% à greve de 24 horas. “Os trabalhadores estão se sentindo inseguros em meio às informações sobre uma onda de demissões e à alta cobrança de produtividade”, disse o coordenador geral do Sindieletro, Jairo Nogueira Filho.
A Cemig divulgou nota em que estima a adesão de 10% dos empregados à paralisação. De acordo com a concessionária, a prestação dos seus serviços não foi afetada. A empresa instaurou o dissídio coletivo dia 7, depois de apresentar contraproposta de reajuste salarial de 4,5%, ante uma inflação de 5,99% medida até a última data-base, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Na nota informa ter apresentado a proposta, “consideradas as perspectivas de futuro para a empresa definidas a partir da MP 579”. Argumento semelhante para negar o pedido de aumento real foi dado pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), que enfrentou paralisação de parte de seus empregados ontem.
O confronto entre os trabalhadores da Cemig e a diretoria da empresa deverá se multiplicador pelo setor, em decorrência dos ajustes que as companhias terão de fazer para reduzir os custos internos na proporção de 30%, avalia Eduardo Nery, diretor da Energy Choice, empresa de consultoria na área de energia. “Não há como fazer frente às regras da MP, sem que as empresas provoquem problema social ou de segurança. Se prevalecer a redução de receita, aumentará a probablilidade de colapso no sistema elétrico e de perda da qualidade de energia fornecida ao cidadão”, afirma.