Entre 2002 e 2010, Minas Gerais foi o estado que mais aumentou a sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro –a soma da produção de bens e serviços no país –, segundo dados da pesquisa Contas Regionais do Brasil 2010, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao pular de uma participação percentual de 8,6% para 9,3% em oito anos, Minas avançou 0,7 ponto percentual, quase o dobro da expansão de 0,4 pontos registrada por Espírito Santo e o Pará, que vieram logo em seguida. Com o resultado, Minas diminui pela metade a distância em relação ao Rio de Janeiro, segundo colocado no ranking, com 10,8% de participação na economia brasileira. São Paulo continua na ponta, mesmo com sua fatia caindo de 33,5% para 33,1%, no período.
O bom desempenho de Minas reflete o dinamismo da mineração e da indústria de transformação que, no período, registraram as altas mais expressivas na composição do PIB nacional. Para Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o estado se beneficiou de um momento de glória vivido pelo mercado internacional. “Foi um período muito rico na economia mundial, com uma demanda crescente por commodities, o que impulsionou o crescimento do estado acima dos demais”, pondera. Apesar de a crise de 2008 ter interrompido a curva de expansão, penalizando as contas regionais em 2009, no ano seguinte o estado se recuperou das perdas e cresceu bem acima da média nacional.
O levantamento do IBGE engloba todo o surpreendente ciclo de alta dos preços das chamadas commodities minerais (produtos básicos cotados no mercado internacional) até o começo do ano passado, só interrompido pela crise de 2009. Com o longo período de boa remuneração, a indústria mineral fortaleceu a sua influência já tradicional na economia mineira, que responde por cerca de um terço da produção mineral do Brasil e por metade do valor dessa produção, estimado em US$ 50 bilhões neste ano pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
O presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Mateus Cotta Carvalho, lembra que os benefícios auferidos pela economia mineira com o boom das commodities se disseminaram na indústria e no setor de prestação de serviços. “A mineração movimenta uma cadeia de segmentos associadas à atividade, garantindo um dinamismo muito forte”, afirma. Carro-chefe da produção mineira, o minério de ferro atraiu novos investimentos, abrindo fronteiras da extração no estado, a exemplo do Norte de Minas e das regiões da Serra Azul e Serra do Espinhaço, na porção Central do estado.
Preços
O gerente de contas regionais do IBGE, Frederico Cunha, lembra que na passagem de 2009 para 2010, os preços do minério de ferro registraram franca elevação no exterior, movimento crucial para o resultado da indústria extrativa. “Houve uma recuperação muito forte que puxou a economia de estados onde esta atividade tem grande peso, como é o caso de Minas Gerais e também do Espírito Santo e Pará. O resultado portanto está muito ligado à especialização no minério”, afirma Cunha. Em termos de volume do PIB, Minas cresceu 8,9% em 2010, contra média nacional de 7,5%. No acumulado dos oito anos, a geração de riqueza no estado avançou 34,7%, uma média de 3,8% ao ano.
Com a queda recente dos preços do ferro no mercado internacional, que passou de 58% frente ao ano passado, a exuberante participação da atividade tende a recuar um pouco, mas a indústria ainda continuará crescendo nos próximos 10 anos, pelo menos, segundo Mike Elliot, consultor líder da área de mineração e metais da Ernst & Young “Por conta do crescimento econômico e da população, tanto a China quanto a Índia e a Indonésia vão continuar influenciando a demanda por minérios e metais. E esperamos crescimento econômico também na África”, afirma o especialista.
A exemplo de anúncio feito pela própria Vale de que as mineradoras vão continuar investindo para crescer, mas tendo de se adaptarem a uma realidade de preços mais baixos e custos mais controlados, Mike Elliot observa que as empresas instaladas no Brasil têm uma vantagem significativa no fornecimento mundial que consiste na exploração de minério de altíssima qualidade. O economista chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, destaca que desde meados de outubro os preços da commodity têm se mantido em US$ 120 por tonelada. “O setor vai continuar ganhando dinheiro e a situação hoje é melhor do que a gente viu nos primeiros três meses do ano. Resta saber como vão ficar o câmbio e o dólar”, diz.