Grandes terrenos em cidades de médio porte e às margens da rodovia são a bola da vez para os shopping centers. Em geral a preferência é pelos espaços que facilitem o acesso dos moradores de outros municípios, já que a intenção é atender um perímetro maior que o da área primária contemplada pelo empreendimento. Isso porque os investidores não querem apenas estar no interior, mas também aproveitar a regionalidade e atingir as cidades vizinhas com igual potencial de consumo, mas que ainda não comportam shoppings. O custo menor dos terrenos, na comparação com os preços praticados nas capitais, e a concorrência nos grandes centros urbanos – que força a expansão dos empreendimentos para novos mercados – são os motores dessa tendência, que toma corpo em Minas Gerais. Pelo menos quatro shoppings serão construídos nas margens das rodovias do interior do estado nos próximo anos, consumindo ao todo investimentos da ordem de R$ 700 milhões.
O diretor da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Luiz Fernando Veiga, confirma a disposição contínua do setor em focar os investimentos em cidades menores, mas que sejam polos em suas regiões. A prova, segundo ele, é que até o fim do ano que vem 17 cidades brasileiras receberão seus primeiros malls. Ainda de acordo com Veiga, investir em regiões próximas às rodovias é uma tendência pela conveniência tanto para os shoppings, quanto para os clientes. “Os empreendedores querem o mercado primário, mas também o secundário, e isso explica o desenvolvimento de empreendimentos preferencialmente próximos às rodovias”, afirma. A resposta dessa diversificação vem, para Veiga, no desenvolvimento do entorno das áreas escolhidas.
Depois da capital mineira, os municípios com as maiores economias do estado estão entre os mais cobiçados pelos investidores. Além de Betim, que vai receber o Metropolitan Garden Shopping às margens da BR-381, Varginha e Pouso Alegre (no Sul de Minas) e Uberaba e Uberlândia (no Triângulo Mineiro) receberão novos malls. A localização estratégica dessas cidades e suas áreas de influência foram fatores determinantes para a descentralização dos investimentos.
Polos
“Buscamos investir nas cidades polos que atendem com seus equipamentos os municípios menores sem infraestrutura, que utilizam os equipamentos dessas maiores, como as escolas, hospitais e shoppings”, conta Adriana Gribel, diretora de Implantação da Tenco Shopping Centers, que lançou há menos de um mês o Via Café Garden Shopping, em Varginha. O empreendimento é um dos que estão dentro dessa proposta e vai consumir R$ 120 milhões em investimentos.
O centro de compras às margens da BR-491, no Km 241, fica no caminho para Elói Mendes, Machado e Alfenas. Terá 40 mil metros quadrados de área construída e 25 mil metros quadrados de área bruta locável. Serão 163 lojas, quatro âncoras, um hipermercado, 11 megalojas, 18 operações de alimentação (15 lanchonetes de fast food e três restaurantes), cinco salas de cinema e 1.100 vagas de estacionamento.
A expectativa é de que o novo shopping gere para Varginha 3,5 mil empregos diretos e outros 3 mil indiretos. Segundo o diretor-presidente da Tenco, Eduardo Gribel, a escolha da região ainda levou em consideração a boa projeção de crescimento populacional para os próximos cinco anos, com estimativa de que a cidade ultrapasse 130 mil habitantes, e a renda média mensal familiar de R$ 3.294. “A área de influência do shopping abrange cerca de 400 mil habitantes”, explica Gribel.
Foco em todas as regiões
A paulista 5R Shopping Centers também optou pelo interior de Minas e está investindo na construção do Praça Uberlândia Shopping Center e do Praça Uberaba Shopping Center. Segundo o sócio-diretor da empresa, César Garbin, a transformação no comportamento da população dessas cidades foi a principal justificativa para a migração. “Há alguns anos cidades com menos de 500 mil habitantes não comportavam esses empreendimentos, mas houve uma mudança significativa no mercado consumidor e hoje as cidades com 200 mil habitantes já conseguem abrigar um shopping”, argumenta.
O Praça Uberlândia terá 195 lojas, além de complexo de cinema, hotel e universidade, será erguido em um vetor da cidade em desenvolvimento, com público das classes B e C, que ainda não é atendido por equipamentos desse porte. Já o Praça Uberaba Shopping Center terá 144 lojas e vai gerar mais de 2,4 mil postos de trabalho, além de estar localizado em uma região mais nobre do município e ser integrado a um condomínio residencial, torre comercial e hotel. Juntos, os dois empreendimentos receberão aportes de R$ 430 milhões.
Em Pouso Alegre, no Sul de Minas, o Serra Sul vai sair do papel até março do ano que vem e está localizado no entroncamento das BRs 381 e 459. Os investidores viram na região mais que oportunidades geradas pelo crescimento do mercado consumidor com a ascensão da classe média. “Esse é um fenômeno maior no Nordeste e, por isso, entendemos que o maior incentivador, mais que a renda, é que no Sudeste há regiões inexploradas”, afirma o sócio da Hemisfério Sul Investimentos (HSI) – gestora de fundos de private equity imobiliário, e atual responsável pelo empreendimento, Luiz Constantino. Ainda de acordo com ele, a intenção é também atender os municípios vizinhos.
Popular também pipoca
O shopping popular Uai, depois de apostar em Belo Horizonte e Manaus, também aproveita a melhor disposição de gastar dos consumidores e está descentralizando os negócios expandindo suas operações para outros municípios do país. Em Minas, Betim, na Grande BH, é vista como cidade de forte potencial pelo diretor-presidente do Uai Shopping, Elias Tergilene.
Para entrar na cidade, o Uai Shopping pretende revitalizar o mercado municipal local, o Ceabe, e transformá-lo em um “shopping-mercado”. Tergilene calcula investir R$ 28 milhões na revitalização interna do imóvel e do entorno, além da criação de 1 mil vagas de estacionamento. “A intenção é juntar os comerciantes atuais aos novos empresários para dar renda ao mercado”, afirma. Com o projeto pronto, ele ainda aguarda parecer da Prefeitura de Betim para o início das obras e administração do espaço, que pertence ao município.
Expansão
Na capital mineira, a empresa investiu cerca R$ 12 milhões no projeto de expansão da unidade do Centro, que fica pronta no ano que vem. Em Venda Nova, o projeto é ainda mais audacioso. Segundo Tergilene, R$ 30 milhões serão investidos na reformulação d’ O Ponto. Ribeirão das Neves, na Grande BH, também receberá um empreendimento com aporte de R$ 40 milhões, que será construído em uma área de 100 mil metros quadrados e deve ficar pronto 24 meses após a aprovação do projeto. Ainda está na lista de intenções do grupo levar a rede para Fortaleza, Belém, Salvador, Caruaru e São Paulo.
Empregos avançam
Com os shoppings ganhando espaço também no interior, o número de empregados nos estabelecimentos comerciais dessas cidades já encosta na capital. São 26,65 mil pessoas trabalhando nos centros de compras fora de Belo Horizonte, contra 27,39 mil na maior cidade de Minas, segundo a Abrasce. Para este ano, é esperado um salto de 20% no número de trabalhadores nos shoppings de Minas, que deverão somar 64.905 empregos. A maior parte desses funcionários deve ser contratada nos empreendimentos que estão em fases de obras ou lançamentos no interior. Para 2013, a previsão é de 71.029 empregos no estado.