A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reafirmou o que o mercado nacional já esperava: o Brasil é o que vai crescer menos entre os Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – em 2012. E o pior, a distância em relação ao segundo colocado, a Rússia, aumentou. No relatório do órgão divulgado em maio, a previsão era de que a economia brasileira fechasse o ano com avanço de 3,2%, contra 3,3% do mercado russo. Na revisão do cenário divulgada ontem, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil despencou para os atuais 1,5% – já estimado por analistas ouvidos pelo Banco Central no Relatório Focus –, enquanto a potência petrolífera do Leste europeu deve crescer 2,6%, diferença que passou de 0,1 ponto percentual para 1,1.
As novas projeções realizadas pelo organismo internacional, porém, não devem mudar o rumo da taxa básica de juros brasileiros que será definida hoje pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Especialistas de mercado continuam apostando na manutenção da Selic nos atuais 7,25% ao ano, percentual que deve ser repetido pelo menos até o primeiro trimestre de 2013, quando é esperada uma retomada mais consistente da atividade econômica.
“Não vejo como a política monetária pode fazer mais do que já foi feito sem comprometer as metas para a inflação. Se baixar mais, vai configurar um estímulo além do necessário”, pondera o diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, Celso Grisi. O economista da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Gabriel de Andrade Ivo, reconhece que o momento é de observação. “Estímulos como a queda da taxa de juros são de médio e longo prazo e o Copom agora deve esperar para ver a reação do PIB diante das medidas já anunciadas”, avalia.
Dados da OCDE confirmam a expectativa de uma reviravolta no ano que vem. A previsão é de que o país alcance 4% de expansão, contra a expectativa de 3,3% para a África do Sul e 3,8% para a Rússia (veja quadro). Se o cenário se confirmar, o Brasil só não crescerá mais do que a Índia (5,9%) e China (8,5%), entre os Brics. Para Grisi, novas revisões podem mudar esse ranking. “Já há uma sinalização de crescimento máximo na casa de 3% para o Brasil. Existem limitações, principalmente de capital humano e de investimentos, que impedem expansões para além desse percentual”, afirma.
Otimismo em queda
Apesar da expectativa de melhora no ano que vem, a indústria não demonstra sinais de otimismo quanto à recuperação do setor, pelo menos até fevereiro. Sondagem feita pela Fundação Getulio Vargas com 1.244 empresas revela queda das expectativas tanto no cenário atual quanto nos três meses que estão por vir. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 0,8% entre outubro e novembro, ao passar de 106 para 105,2 pontos. Somente o quesito produção nos três meses seguintes retraiu 3%. Enquanto o percentual de empresas que pretendem aumentar a produção até fevereiro passou de 40,3% para 42,4%, o daquelas que pretendem reduzir pulou de 9,5% para 15,5%.
O resultado foi puxado pela Índice de Expectativas (IE) com retração de 1%. Para Paulo Casaca, economista da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) o cenário externo pode ter efeitos sobre a percepção dos empresários. “O momento do mercado internacional é ruim. Há muitas incertezas quanto à Zona do Euro”, explica. O desempenho dos europeus foi, inclusive, a principal motivação para que o crescimento mundial fosse revisto de 4,1% para 2,9% em 2012. Enquanto isso, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) teve ligeira queda ao passar de 84,2% para 84% entre outubro e novembro.
A indústria de aço operam com índice de capacidade instalada muito inferior (72,5%), segundo balanço divulgado pelo Instituto Aço Brasil (IABR). O setor deve fechar o ano com queda de 1,1% na produção e exportações 10,9% inferiores a 2011. O baixo dinamismo do mercado interno e o aumento da disputa com os concorrentes estrangeiros justificam o mau momento. Assim como no restante do país, a aposta é de mudanças a partir de 2013. Para o IABR, as vendas das usinas devem recuar pela primeira vez ao patamar de 2008, chegando a 23,4 milhões de toneladas, contra 21,7 milhões de toneladas este ano.