Na última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu os sucessivos cortes da Selic iniciados em agosto do ano passado. A decisão unânime veio em linha com a expectativa do mercado e com o que a própria equipe colegiada havia sinalizado na última ata divulgada em outubro ao dizer que aquele corte deveria ser o “último do ciclo”. O patamar de 7,25% é considerado por muitos especialistas o piso para a taxa básica de juros brasileira e a expectativa é de que seja mantido pelo menos até que uma recuperação mais consistente da economia ganhe força. A aposta é de que o aquecimento da demanda ameace a inflação a partir de abril do ano que vem, quando caberá nova intervenção do Copom.
E não é só o consumo que promete empurrar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) para o teto superior da meta, fixado em 6,5%. “O governo não vai conseguir segurar a pressão de alguns itens, como gasolina e etanol, que vão acabar impactando nos preços. A própria dificuldade do governo em contornar as divergências no setor elétrico configura um risco”, avalia o sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud. Apesar de reconhecer as ameaças inflacionárias, a Tendências Consultoria não prevê mudanças da Selic ao longo de todo o ano de 2013. “De fato haverá uma recuperação do PIB, mas não tão forte quanto se espera. Hoje, a nossa expectativa é de 3,6%, mas com viés de baixa”, diz a economista da Tendências, Alessandra Ribeiro.
Diante de um Produto Interno Bruto (PIB) tímido – que não deve chegar a 4% – a especialista acredita que o governo optará por outras manobras deflacionárias que não incluam alta dos juros. “Acreditamos que o governo tentará a desoneração de alguns itens para trazer alívio aos índices de preços”, avalia. Tudo em nome de um crescimento mais robusto que insiste em não aparecer. Para o terceiro trimestre, a Tendências estima alta de 1,2% do PIB que será divulgado amanhã, contra os 1,5% previsto antes dos dados desanimadores de setembro.
Diante do cenário, Olavo Machado, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), garante que há justificativas para novos cortes da Selic. “Para solucionar o baixo crescimento econômico precisamos lançar mão de todas as alternativas possíveis, e a redução da Selic continua sendo uma opção favorável”, avalia. Mas a verdade é que a taxa de juros no menor patamar histórico não conseguiu superar as deficiências estruturais do país, tendo efeito praticamente nulo na recuperação da atividade econômica (veja quadro). “O país não cresceu, os empresários não estão investindo e a infraestrutura é deficiente”, enumera Daoud ao justificar as barreiras que impediram que o corte de 5,25 pontos percentuais da Selic em 15 meses garantisse efeitos mais expressivos no PIB.
Uma coisa parece certa: se não tivesse sido alcançado o patamar atual, o cenário poderia estar pior tanto hoje quanto nas previsões para o próximo ano. “Quer queira, quer não, a última redução de outubro terá reflexos em seis a nove meses. Muitos dos efeitos ainda estão por vir”, avalia Alessandra. “Portanto, se as medidas não tivessem sido tomadas, as previsões para 2013 poderiam ser muito piores”, reconhece.
Benefício no bolso
Os juros para o consumidor não devem seguir o mesmo caminho da Selic. Para Miguel Ribeiro de Oliveira, conselheiro e coordenador da área de pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as taxas para pessoa física, que começaram a cair em abril, ainda têm espaço para novas reduções. “Há uma gordura para queimar e a competição no mercado bancário está muito mais acirrada”, observa. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Bruno Falci ainda acrescenta que o risco de maior endividamento diminui. A taxa média de juros para pessoa física, em setembro foi de 5,50% ao mês a menor desde 1995. A poupança, por sua vez, mantém a taxa de rentabilidade de 5,07% ao ano.
CORTES INTERROMPIDOS