Diante de um cenário de recorde das taxas de emprego, o comércio da Grande BH antecipou a contratação de funcionários temporários. Enquanto em anos anteriores o setor se movimentava a partir da segunda quinzena de novembro para buscar profissionais, de olho nas vendas do Natal, neste ano, com a escassez de profissionais minimamente qualificados, comerciantes se viram obrigados a caçar a mão de obra com antecedência para não ficar na mão e perder a possibilidade de aumentar as vendas em dezembro.
Dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgados ontem pela Fundação João Pinheiro em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostram que o comércio criou 17 mil vagas em outubro no comparativo com setembro, com crescimento de 4,2% de um mês para o outro. Em anos anteriores, outubro era marcado pelo fechamento de vagas no comércio. Em 2010 e 2011, foram fechadas 7 mil e 6 mil postos, respectivamente, com redução de 2% e 1,7% no total de empregos.
O coordenador da pesquisa pela Fundação João Pinheiro, Plínio Campos, afirma que o comércio tem passado dificuldade para encontrar mão de obra, pesando contra o fato de o salário ser inferior ao dos setores de indústria e serviço, e também a necessidade de trabalhar mais. “É claro que o interessado vai pesar isso na escolha. Ele pode até preferir um salário um pouco menor para trabalhar menos”, afirma Campos.
A avaliação do pesquisador é de que, com a chegada do fim de ano, os setores de comércio e serviços abrem vagas, enquanto a construção civil fecha por causa do período de chuvas. Prova disso é que, segundo a pesquisa de outubro, o mercado imobiliário fechou 7 mil vagas no mês passado, reduzindo em 3,4% o total de pessoas contratadas nos canteiros de obras. No entanto, por tratar-se de perfis distintos, é pouco provável que esses trabalhadores possam ser aproveitados no comércio. “O operário da construção civil vai ter problema para se encaixar em outra vaga”, adverte Plínio Campos. E o perfil não é o único motivo: na construção, o salário médio é 16,9% maior que no comércio.
Dificuldades
A superintendente do shopping DiamondMall, Lívia Paolucci, afirma que é perceptível que neste ano houve antecipação das contratações de temporários em decorrência da falta de mão de obra no varejo. E o trabalho será árduo para conseguir o perfil adequado. “Sempre há vagas abertas. Além das baixas taxas de desemprego, hoje as lojas não querem só um vendedor, mas um consultor de vendas. É preciso conhecer bem o produto que se vende”, afirma.
Em busca do perfil adequado para vendas, a gerente da loja Bagaggio, no Boulevard Shopping, Fabrícia Dias, tenta pinçar temporários para mais que dobrar o quadro de pessoal da unidade. Os atuais quatro funcionários serão acompanhados de cinco. Segundo ela, para aumentar as vendas é preciso investir em mão de obra. E Fabrícia já prevê a contratação definitiva dos selecionados para preencher vagas em outras lojas da rede. “Dependendo do perfil vamos tentar encaixá-lo nas lojas de outros shoppings”, afirma.
A taxa de desemprego em baixa também facilita a negociação por salários melhores. No comércio, os rendimentos estão 5,2% maiores que no ano passado, e no comparativo entre setembro e agosto o crescimento foi de 2,2%. Em setembro de 2011, o rendimento médio do setor era de R$ 1.056 ante R$ 1.110 no mesmo mês deste ano. “É a possibilidade de se negociar melhor os salários”, afirma Campos.
BH tem a menor taxa de desocupação
Com o entra e sai em outubro, a taxa de desemprego na Região Metropolitana de Belo Horizonte permaneceu estável em 5,1% – a menor do país. A tendência é de que nos próximos dois meses aproxime-se de 4%, o que pode inclusive fazer com que a média de desemprego de 2012 fique perto de 5%. Enquanto isso, na média das sete regiões metropolitanas pesquisadas, o percentual é de 10,5%, o que significa que 2,4 milhões de pessoas permanecem sem emprego. Trata-se da segunda queda mensal seguida. É a menor taxa desde fevereiro, quando ficou em 10,1%.
No comparativo entre setembro e outubro, o desemprego diminuiu em São Paulo (de 11,3% para 10,9%), no Distrito Federal (de 11,9% para 11,4%), Fortaleza (de 8,7% para 7,9%), Recife (de 12,6% para 12,2%) e em Salvador (de 19% para 18,6%). Em Porto Alegre, o desemprego aumentou (de 6,9% para 7,0%). “Os milhões de pessoas lançadas ao mercado de trabalho acabam por gerar o próprio emprego”, argumenta o coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação João Pinheiro, Plínio Campos, sobre o motivo de a taxa de desemprego se manter em patamar tão baixo em BH, apesar de outros indicadores indicarem a perda de fôlego da economia.
O pesquisador cita que, entre outros motivos, a venda de carros segue em alta; o volume de crédito ofertado é crescente e, apesar de aumentar em ritmo lento, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro segue em alta, enquanto em país europeus o cenário é de recessão. “A crise está lá fora. Tínhamos uma demanda reprimida que está sendo suprida aos poucos”, afirma. (PRF)