Demitidos da Webjet e aeroviários prometem parar aeroportos em plena temporada de férias

Às vesperas da alta temporada para viagens, os aeroportos correm risco de viver novo caos. Enquanto os funcionários demitidos da Webjet fazem passeatas nos aeroportos de todo o país, a negociação salarial da categoria com as companhias aéreas está travada. Se não houver acordo, os aeroviários (funcionários que trabalham em terra) ameaçam entrar em greve na próxima semana.

“Tivemos várias reuniões com os patrões e a nossa pauta de reivindicação não foi atendida. Eles não querem oferecer sequer o índice tradicionalmente usado em negociações salariais”, afirma Valter Aguiar, diretor nacional do Sindicato dos Aeroviários. Segundo ele, o piso do trabalhador de pista atualmente não chega a R$ 900 e a categoria reivindica piso de pelo menos R$ 1,18 mil. “Propomos que seja rejeitado em assembleia qualquer valor abaixo de R$ 1 mil”, diz Aguiar.

Hoje, os trabalhadores demitidos da Webjet voltam a fazer passeatas pelos aeroportos do país. No Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, o protesto está previsto para as 15h30 e vai ter a participação dos aeroviários. Fantasiados com nariz de palhaço e com cartazes com a frase “Queremos trabalhar”, funcionários demitidos da Webjet fizeram manifestações em todo o país na segunda-feira. Aguiar ressalta ainda que há 52 trabalhadores da Swissport, empresa que oferece às companhias aéreas mão de obra para carregar bagagens aos aviões, trabalhando sob aviso prévio.

O presidente da Gol, Paulo Sérgio Kakinoff, descartou ontem a possibilidade de reverter a demissão dos 850 trabalhadores da Webjet. Ao deixar a reunião na Secretaria de Aviação Civil, aonde foi explicar os motivos do fechamento da Webjet, ele disse que não vai voltar atrás porque, ao incorporar a companhia, a Gol ficou com excedente de pessoal. Disse ainda que as demissões estão relacionadas ao fato de a Gol devolver os aviões antigos da Webjet (737-300), que tinham custo elevado de combustível.

O presidente da Gol disse que a redução da folha de pagamento vai dar alívio de R$ 90 milhões por ano à empresa e não está condicionada à manutenção de empregos. Kakinoff também disse que o aumento de preço denunciado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) não procede, pois compara preços cobrados em aviões praticamente vazios da Webjet com aviões de bom nível de ocupação da Gol. O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, garantiu ontem que o fechamento da Webjet não vai prejudicar o consumidor.

Pressão

A rota estabelecida pelas principais empresas do transporte aéreo nacional para retornarem ao lucro em 2013 não terá pouso suave. Ao longo dos próximos meses, elas deverão pressionar o governo para obter uma ampliação do alívio fiscal e das regulações sobre o setor, enquanto continuarão apertando o bolso dos passageiros com tarifas em ascensão.

Com base nos dados fornecidos pelas empresas, a Agência Nacional de Avião Civil (Anac) estima que o preço médio da tarifa doméstica recuou 43% de 2002 a 2011, período no qual a procura cresceu quase 200%. Jorge Eduardo Leal, professor da USP, ressalta, contudo, que o cenário de janeiro a junho deste ano traçado pela agência evidencia uma estabilidade nos valores, já interrompida. "Os índices de inflação e o próprio mercado revelam que a tendência a partir deste semestre já é diferente", sublinha. Segundo ele, as líderes podem ter superestimado a capacidade de enfrentar turbulências e parte de suas margens estão sendo aproveitadas por Azul/Trip e Avianca. "As companhias médias podem surpreender e crescer mais", apostou.

A partir de janeiro, as companhias aéreas passarão a gozar dos benefícios do plano de desoneração da folha de pagamentos do governo federal. Com isso, deixarão de pagar 20% de contribuição patronal sobre o INSS, passando a destinar 1% de sua receita global. Segundo cálculos da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a medida deve gerar alívio anual de R$ 300 milhões ao caixa de suas representadas.